20 Julho 2022
"Um diálogo, aquele entre o Papa Bergoglio e Eugenio Scalfari, que certamente todos os cristãos, e portanto os cristãos evangélicos, saúdam positivamente em suas várias e diferentes implicações. De alguma forma, se me perdoam a briga de palavras, os leigos eram levados para um 'plano leigo' mesmo diante dos problemas da fé", escreve Valdo Spini, em artigo publicado por Riforma, semanário das Igrejas Evangélicas Batistas Metodistas e Valdenses, 22-07-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
"Amigo fiel": foi assim que o Papa Francisco se despediu pela última vez de Eugenio Scalfari, o fundador do jornal La Repubblica, aquele que ao longo dos anos se tornou em certo sentido o "papa leigo" de nosso país.
Assim que Bergoglio foi eleito, em 2013, Eugenio Scalfari lhe havia endereçado uma carta, à qual o Papa Francisco, com seu impulso característico de inovação, havia respondido. Nasceu assim o "Diálogo entre crentes e não crentes" com seus posteriores desdobramentos. De fato, o Papa Bergoglio o havia escolhido como veículo de comunicação entre o mundo católico e o mundo secular italiano, até lhe conceder uma entrevista publicada no La Repubblica de 1º de outubro de 2013. Um fato inédito em muitos aspectos.
Isso não significava uma conversão de Scalfari, mas seu reconhecimento de que a fé no crente não é o produto de um atraso intelectual, quase um problema como muitos leigos acreditam: ao contrário, como escreveu Alberto Melloni no La Repubblica de 15 de julho, a fé pode representar um dom, para ser compartilhado mesmo com quem não acredita. Da mesma forma, ao não crente era reconhecido o direito a um diálogo e um debate sobre a ética, saindo do estereótipo de que o leigo é essencialmente aquele que cuida de sua vida independentemente da mensagem do Evangelho. Mais ainda, o direito ao diálogo naquela tênue fronteira entre fé e consciência que não é monopólio absoluto do crente.
Um diálogo, aquele entre o Papa Bergoglio e Eugenio Scalfari, que certamente todos os cristãos, e portanto os cristãos evangélicos, saúdam positivamente em suas várias e diferentes implicações. De alguma forma, se me perdoam a briga de palavras, os leigos eram levados para um “plano leigo" mesmo diante dos problemas da fé.
Tradicionalmente, o mundo leigo italiano não teve muita consideração pelo diálogo com a Reforma Protestante, seus princípios e seus valores. Exceções brilhantes e não casuais Piero Gobetti, Piero Calamandrei e também Lelio Basso. Com demasiada frequência, o mundo e a cultura secular se concentravam no aspecto de poder das relações entre Igreja e Estado na Itália, negligenciando os fundamentos religiosos e ideais dessa relação.
E também Eugenio Scalfari, no fundo, se inseria nessa tendência, apesar que seu europeísmo convicto poderia ter dado um espaço muito diferente, especialmente em suas atividades editoriais, à difusão do conhecimento da Reforma também na Itália, certamente através de Weber e da ética do capitalismo, mas também através de dois grandes protestantes do século XX, Dietrich Bonhoeffer e Martin Luther King. O mesmo se aplica à ética da responsabilidade, que é uma das tradições típicas do protestantismo e que certamente estava entre as características da Itália pelas quais Scalfari lutava.
Paradoxalmente, foi a atividade ecumênica do mundo católico que despertou o interesse pelo protestantismo em nível italiano e internacional. Isso aconteceu em particular quando o Papa Francisco, à frente de uma grande igreja planetária, quis vir pessoalmente ao templo valdense de Turim em 22 de junho de 2015, para pedir solenemente perdão pelas perseguições que os valdenses sofreram.
Diante da evidente desproporção numérica, tanto mais significativo era o reconhecimento da importância de uma história de fidelidade e coerência como aquela dos valdenses e do que tudo isso poderia representar para todos os cristãos. E posteriormente, quando em 2017 a Igreja Católica se empenhou profundamente em toda a Europa na memória do quinto centenário da Reforma iniciada por Lutero, isso constituiu um chamamento para a opinião pública italiana sobre o evento. O sucesso do imposto de oito por mil para a Igreja Valdense (o número de italianos que destinou o imposto para a Igreja Valdense chegou a se aproximar de seiscentos mil ao longo dos anos) por si só aconselharia uma atenção diferente ao que esse apelo representa na sociedade italiana.
Em geral conseguir a atenção dos grandes jornais leigos nacionais e da mídia para os trabalhos do Sínodo Valdense ou para as reuniões da Federação das Igrejas Evangélicas na Itália é muitas vezes muito difícil fora dos limites do noticiário local. Nesse sentido devemos agradecer ao jornal da Conferência Episcopal, Avvenire, e ao seu diretor, Marco Tarquinio, por uma atenção específica, claro do ponto de vista católico, ao que acontece no mundo valdense e no mundo protestante italiano em geral.
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Scalfari e o diálogo entre crentes e cultura “leiga” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU