29 Junho 2022
Até agora, 25 milhões de euros foram aprovados para indenizar as vítimas de padres pedófilos enquanto cresce o protesto da opinião pública na Alemanha para que sejam publicadas pelo Vaticano as sentenças dos tribunais eclesiásticos (cujo sigilo também foi confirmado nestes dias pelo vade-mécum publicado pela Congregação para a Doutrina da Fé). Nesse clima efervescente, marcado por uma queda da confiança dos fiéis na Igreja, outro bispo alemão fez um mea culpa público, admitindo ter cometido erros ao lidar com casos de abusos em sua diocese. "Estou entristecido pela minha falta de atenção", disse Monsenhor Heinrich Timmerevers, da diocese de Dresden-Meissen.
A reportagem é de Franca Giansoldati, publicada por Il Messaggero, 28-06-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
A dinâmica é essencialmente sempre a mesma: após as denúncias recebidas sobre supostas violências, o bispo optou por proteger o bom nome da diocese e ignorar as vítimas, enviando o padre envolvido para outro local. “Hoje eu sei que foi um erro não ter dado seguimento. Analisando com o conhecimento posterior, eu errei. Então se pode falar de culpa. Não cabe a mim me absolver dessa culpa. Mas peço desculpas. Minhas ações deveriam refletir que aprendi com isso”, afirmou ele à agência de notícias católica KNA, acrescentando que os bispos no passado estavam “acostumados a tratar esse assunto como um tabu”.
Enquanto isso, a opinião pública e até jornalistas católicos alemães estão se mobilizando para exigir maior transparência na Igreja após a publicação de um estudo sobre abusos na diocese de Münster. "O direito canônico não deveria ser uma justiça secreta", declarou Joachim Frank, presidente da Sociedade de Editores Católicos (GKP). Insistiu, assim, na necessidade de se chegar a audiências públicas e à publicação das sentenças, uma vez que as condenações devem ser divulgadas e os meios de comunicação devem ter direito à informação e divulgação.
Mas justamente nestes dias no Vaticano foi publicado o vade-mécum contendo as indicações práticas sobre os processos canônicos, em que é confirmada definitivamente a linha de sigilo total dos procedimentos canônicos e, sobretudo, das sentenças. Mais um ato garantista em relação aos padres pedófilos.
O bispo de Muenster também se manifestou em favor da transparência: “Os tribunais poderiam tornar as decisões administrativas da Igreja mais transparentes e legalmente verificáveis, especialmente em casos de abusos”, explicou o bispo.
A pesquisa sobre abusos em Muenster mostra que todos os bispos da diocese após a Segunda Guerra Mundial cometeram graves erros ao lidar com os casos de padres pedófilos. Michael Keller (no cargo de 1947 a 1961), Joseph Hoeffner (de 1962 a 1969), Heinrich Tenhumberg (de 1969 a 1979) e Reinhard Lettmann (de 1980 a 2008) empregaram repetidamente clérigos condenados, transferindo-os e permitindo-lhes cometer mais crimes. Muenster, com cerca de 1,8 milhão de católicos, é a segunda maior diocese da Alemanha depois de Colônia.
Enquanto isso, mais de 1.000 pedidos foram examinados na Alemanha desde que a Comissão Independente para Compensação de Vítimas de Pedofilia (UKA) foi criada há cerca de um ano e meio. Até o final de maio, a comissão havia examinado 1.136 pedidos, aprovando pagamentos no total de cerca de 25 milhões de euros, declarou a presidente da UKA, Margarete Reske, à agência de notícias católica alemã (KNA). Outras 676 aguardam decisão.
Inútil dizer que a Igreja Católica foi atingida por uma crise de confiança sem precedentes. Em pouco tempo, na Alemanha, entre 120.000 e 300.000 pessoas por ano deixaram a Igreja, cancelando assim também sua cota anual de associação, o chamado imposto eclesiástico.
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Pedofilia: 25 milhões de euros para indenizar vítimas na Alemanha. Pressões sobre o Papa para que as sentenças sejam publicadas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU