05 Fevereiro 2020
Dom Ludwig Schick, 71 anos, é arcebispo de Bamberg, na Alemanha, desde 2002, depois de ter sido auxiliar de Fulda por quatro anos. É uma personalidade estimada por todos os membros do episcopado alemão.
A reportagem é de Gianni Cardinale, publicada por Avvenire, 02-02-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Na primeira assembleia do Caminho Sinodal da Igreja na Alemanha, foi-lhe pedido para apresentar uma conferência sobre os aspectos jurídicos do combate ao triste fenômeno dos abusos cometidos por clérigos contra menores. Um escândalo que eclodiu com toda a sua virulência em 2010, cujas recaídas levaram à decisão de iniciar esse Caminho.
Excelência, qual é o sentido do Caminho Sinodal empreendido pela Igreja Católica alemã?
Na Alemanha, e talvez também em outros países europeus e em outras partes do mundo, sentimos e experimentamos uma crise. Como bispos e leigos, decidimos que, para tentar sair da crise, devemos empreender esse Caminho Sinodal. A única opinião compartilhada por todos é que há uma crise; depois começam as diferenças.
Isto é?
A diferença fundamental é sobre quais são as causas da crise. Alguns dizem que a raiz é interna à Igreja: o celibato, o não acesso das mulheres ao diaconato e ao sacerdócio, o escândalo dos abusos sexuais e financeiros. Outros, por sua vez, afirmam: “Não, as causas são a secularização, o consumismo, o individualismo, as ciências que põem em discussão a nossa doutrina”. Os expoentes dessa opinião defendem, portanto, que é necessária uma nova evangelização, um novo modo de anunciar o Evangelho, um novo diálogo com o mundo científico, talvez uma forma diferente da Igreja, mas em sentido tradicional, otimizando as estruturas existentes.
Outros, ao invés disso, acreditam que, para sair da crise, deve-se introduzir uma nova forma da Igreja com, por exemplo, o sacerdócio feminino, a democracia no governo da Igreja, com um maior controle do poder dos sacerdotes. Depois, há posições mais nuançadas, mas substancialmente essas são as duas dominantes, que propõem soluções diferentes. E, neste momento, não sei como podemos sair dessa situação. Espero e rezo para que essas duas partes tentem encontrar uma estrada comum que satisfaça a todos, a fim de sair dessa crise e de seguir em frente com o Evangelho, com os sacramentos, com a nossa Igreja, para a glória de Deus e a salvação das pessoas.
Com base nesses primeiros dias de trabalho, quais são os aspectos positivos e críticos que o senhor encontrou?
As perguntas fundamentais ainda não foram abordadas. Discutimos questões processuais e votamos nos fóruns de discussão. Mas os trabalhos de verdade ainda não começaram. O risco é que haja mais divisão e mais frustração. Se essas duas partes não encontrarem um senso comum, cada uma permanecerá firme nas suas convicções.
Algumas das questões mais debatidas, como o celibato e o sacerdócio feminino, são matérias que dizem respeito à Igreja universal. O que isso implica?
No estatuto do Caminho Sinodal está escrito que os membros da assembleia podem tomar decisões, mas essas decisões são apenas “votos” que vão para os bispos diocesanos, se eles tiverem a competência para decidir algo na sua própria diocese. Quando se tratar de votos sobre assuntos relativos à Igreja universal, então eles vão ao papa, e será ele quem vai decidir.
Na sua fala, o presidente do Comitê Central dos Católicos Alemães, Thomas Sternberg, afirmou que poderá haver matérias que o papa não pode decidir sozinho e que poderão ser abordadas em um concílio.
Isso é verdade, mas o papa também pode decidir sem um concílio, segundo o direito canônico. Mas normalmente, quando há coisas que afetam toda a Igreja, o papa convoca um concílio.
O senhor considera esse um caminho viável hoje?
É muito difícil, porque existem muitos bispos, somos mais de seis mil. Além disso, alguns gostariam de um concílio com a presença dos leigos também. É verdade que o modo de celebrar os concílios mudou ao longo da história. É difícil imaginar um novo concílio, como tivemos no Vaticano I e no Vaticano II, tendo apenas os bispos como membros. Mudar a ideia do concílio com uma participação ampliada aos leigos é ainda mais difícil. Voltando a este Caminho Sinodal, espero e rezo para que o Espírito Santo nos ajude e nos una para encontrar um caminho comum que não satisfaça plenamente a todos, mas que seja aceito, para seguirmos em frente juntos. À luz dos votos que serão dados, espero que os bispos alemães se reúnam para decidir em comunhão, e não cada um por conta própria.
Antes dessa reunião, havia quem prenunciasse uma “revolução” na Igreja alemã, com o risco de um cisma...
Não tenho a impressão de que os membros da assembleia sejam revolucionários. Eles buscam um caminho para a Igreja do futuro. Todos querem melhorar a Igreja para enfrentar esse desafio. Essa impressão e convicção me dão a confiança de que, no fim, não haverá cisma. Às vezes, para ser sincero, eu tenho medo disso, mas depois a esperança vem de novo.
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Alemanha: “Não somos revolucionários. Queremos superar a crise da Igreja” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU