27 Abril 2022
Vijay Prashad é um historiador marxista nascido na Índia, em 1967. Com uma vasta trajetória acadêmica e jornalística, ligada a movimentos sociais de todo o mundo, é atualmente diretor-executivo do Instituto Tricontinental de Pesquisa Social, editor-chefe da LeftWord Books e seus artigos são publicados em Globetrotter, Frontline e ARG Medios. Entre seus livros, destacam-se Washington Bullets: Historias de la CIA, intervención y golpes de Estado, Las naciones oscuras e Una estrella roja sobre el Tercer Mundo.
Em uma extensa conversa com La Tinta, Prashad analisou a fundo a atual guerra entre a Rússia e a Ucrânia, o papel desempenhado pelos Estados Unidos, a dependência de Washington ainda sofrida pela América Latina e a presença dos movimentos sociais e da esquerda em um mundo que, segundo o intelectual indiano, vive em uma permanente fragilidade.
Para Prashad, é fundamental que os povos do mundo voltem a acreditar em si mesmos e busquem suas próprias soluções diante dos poderes controlados pelos “homens de terno” e banqueiros, conforme descreve.
A entrevista é de Leandro Albani, publicada por La Tinta, 20-04-2022. A tradução é do Cepat.
Quem você considera que se beneficia da guerra entre a Rússia e a Ucrânia?
Fui jornalista durante uns 30 anos, estive em vários lugares em guerra, e é muito difícil imaginar que alguém, seja quem for, se beneficie com uma guerra. Digo isso porque, como pessoas empáticas, é importante que não analisemos a guerra de uma forma desapaixonada. Não existe essa coisa de “guerra boa” ou guerra que beneficie alguém. A guerra envolve muita brutalidade, tanto para a Rússia como para a Ucrânia, mesmo depois que a luta termine.
Que consequências a guerra atual pode ter?
A entrada de tropas russas na Ucrânia vai empurrar um setor daquele país mais para a direita e isso terá implicações a longo prazo para a Europa do Leste. Quem se beneficia? A primeira resposta é que ninguém se beneficia. A segunda resposta é o motivo pelo qual houve uma guerra. E este é um problema interessante.
Fica claro que os russos tinham alcançado sua principal ambição em torno da Ucrânia, antes de entrar militarmente. Em primeiro lugar, essa ambição era garantir que a Crimeia faça parte da Rússia. Isso é importante porque a Crimeia é o principal porto naval dos militares russos no inverno, já que o Mar Negro não congela.
Em segundo lugar, grandes partes dos setores que falam russo na Ucrânia, como em Donbass, tinham se declarado independentes, antes da entrada da Rússia. Qual é a necessidade, então, dessa invasão da Rússia à Ucrânia? Há pessoas que dizem que é para construir uma ponte terrestre que ligue a Crimeia à Rússia. Era preciso tanta luta para gerar essa conexão por terra? Não teria sido possível fazer um acordo com o Estado ucraniano?
Há aqueles que também consideram que era para desnazificar a Ucrânia. Realmente, não é possível lutar contra o nazismo na Ucrânia, a menos que se derrote completamente os ucranianos. Qualquer planejador e estrategista da Rússia poderia ver que isso não iria acontecer, porque (a Ucrânia) teria o apoio total do Ocidente.
Então, quais são as razões para o conflito na Ucrânia?
Penso que isso não tem nada a ver com os nazistas, isso não tem nada a ver com a conexão terrestre, isso tem a ver com o sentimento russo de grande insegurança após os Estados Unidos abandonarem o tratado 2018-2020 de provisão de armas nucleares de alcance intermediário. Quando os Estados Unidos, de forma unilateral, abandonaram esse muito importante tratado de controle de armas, Vladimir Putin disse várias vezes que temia que os mísseis de alcance intermediário dos Estados Unidos fossem colocados na fronteira russa.
É importante lembrar que, em 2004, os países bálticos – Estônia, Letônia e Lituânia – uniram-se à OTAN. De fato, a qualquer momento, os Estados Unidos podem colocar mísseis intermediários nesses países. Mas incluíram mais países e agora, a qualquer momento, podem ser invadidos por tropas russas.
Esses mísseis não são seguros. Os russos deixaram claro que quando buscassem garantias de segurança, não perguntariam a Kiev, não iriam pedir a Zelensky e tampouco à OTAN. Queriam garantias de segurança dos Estados Unidos, mas se negaram a oferecê-las.
O que a Rússia está buscando com esse ataque à Ucrânia?
O ponto central é que os russos estão buscando uma nova arquitetura de segurança com os Estados Unidos e, lamentavelmente, o povo ucraniano está pagando o preço pela recusa de Washington em negociar a questão mais ampla da segurança russa.
Por que os Estados Unidos não se sentam nessa mesa de negociações? Porque, em 2018, desenvolveu uma doutrina estratégica segundo a qual não estão mais lutando a guerra internacional contra o terrorismo, mas que a principal tarefa é impedir a ascensão da Rússia e da China.
Os Estados Unidos não estão dispostos a negociar com a Rússia porque, de fato, querem derrotá-la. E é disso que se trata a guerra atual. Então, quem se beneficia? Na verdade, ninguém.
Fala-se muito que, após essa guerra, o mundo caminha para uma inevitável multipolaridade. Como você analisa esta hipótese?
Não estou tão convencido disso. Eu gostaria de ver isso acontecer, mas há uma diferença entre o que queremos ver acontecer e se algo, inevitavelmente, vai acontecer. Só porque eu quero, não significa que vai acontecer. Penso que esse é um erro que muitos analistas de esquerda estão cometendo. Estão permitindo que as emoções se antecipem aos fatos.
Mas quais são os fatos? Em primeiro lugar, os Estados Unidos têm o poder mais perigoso do planeta, com 800 bases militares em todo o mundo e um trilhão de dólares por ano em gastos militares, incluindo os gastos nucleares. Ninguém pode estar à altura disso. Não deveríamos nos equivocar com este problema. Os Estados Unidos talvez não possam governar um país, como o Iraque ou o Afeganistão, mas podem destruí-los, podem bombardear uma cidade inteira e esmagá-la. É um poder militar muito perigoso. Tanto Moscou como Pequim temiam que os Estados Unidos pudessem lançar um ataque, porque fizeram isso em muitos países.
Em segundo lugar, os Estados Unidos mantêm um poderoso controle financeiro do planeta. Mais de 30 países estão enfrentando suas sanções. Este poder financeiro é considerável. Observemos a América Latina e as formas pelas quais as pessoas ainda não conseguem se libertar do dólar. Hugo Chávez e o processo da ALBA tinham gerado a ideia do Sucre: quando os países da América Latina comercializassem entre si, utilizariam uma moeda digital. Mas 90% dos líderes do continente nunca ouviram isso, é algo que foi quase esquecido como instrumento. O dólar nos cativou. Sim, é verdade que muito negócio se afastou do dólar para o euro ou outras moedas, mas isso não vai acontecer de uma forma muito rápida.
Esse é outro problema: as instituições financeiras globais continuam dependendo do dólar. Os chineses estão cientes e não tentam substituir o dólar, só querem que existam diversas moedas. Não estão dizendo que o dólar não seja utilizado, estão dizendo que existam diversas moedas e o dólar continuará tendo sua importância nas finanças.
Como você vê a guerra nos planos diplomático e comunicacional?
O poder diplomático está relacionado ao poder de comunicação. Os Estados Unidos e seus aliados dominam a guerra informativa e comunicacional. Eles a dominam de duas formas diferentes. Por um lado, através de instrumentos de informação. Por exemplo, o YouTube, que facilmente censurou canais de televisão russos. Inclusive, censurou as pessoas. É incrível como as empresas internacionais de satélites pararam de permitir que a televisão russa seja transmitida em quartos de hotel. Simplesmente, foram anuladas. Por outro lado, a informação que surge não só através do controle institucional de empresas privadas como o YouTube ou de satélites, mas também em termos de conteúdo.
As agências de notícias, a Reuters, a Associated Press, todas estão dominadas pela perspectiva ocidental. Em espanhol, dependem da CNN. Os jornalistas na Argentina não necessariamente viajam para a Ucrânia, não possuem escritórios em Moscou, mas dependem da BBC, do El País, dos meios de comunicação ocidentais, para dizer o que está acontecendo. E esses meios de comunicação ocidentais dependem de seus governos. Portanto, na guerra da informação, o Ocidente continua sendo dominante. Onde está a perspectiva chinesa, russa ou bolivariana? Onde estão essas histórias? Onde está, hoje, a Telesur?
Isso se relaciona com o ponto diplomático. Por que o Chile votou com os Estados Unidos na Assembleia Geral das Nações Unidas? Por que a Argentina toma as posições que toma? Porque as elites da América do Sul adotam a informação que vem de Washington e veem o mundo através de seus olhos. Na Argentina, tem uma situação complicada, não é exatamente um governo de esquerda, mas existe a necessidade de adotar o enfoque de Washington? Sim, porque a classe média, a burguesia e a elite veem o mundo através dos olhos de Washington. Isso significa que o poder diplomático está com os Estados Unidos nos países onde o necessitam.
Agora, tudo isso está se rompendo um pouco, assim como na Ásia, na Índia e no Japão não fica claro, na Austrália também não fica muito claro. Há uma fragilidade no poder estadunidense, mas isso não é o mesmo que a multipolaridade. Quero viver em um mundo multipolar, mas sou realista o suficiente para entender que os fatos mostram que estamos em uma era de fragilidade.
Não é que a porta da unipolaridade se fecha e a outra porta da multipolaridade se abre. Uma porta se fecha, outra se abre e há um deserto pelo qual é preciso caminhar sem muita água na garrafinha até chegar, mais ou menos, perto de alguma outra porta que não sabemos como será escrita. Talvez seja outra forma de unipolaridade, mas ainda não sabemos.
Diante de um conflito do tamanho da guerra entre Rússia e Ucrânia, a ONU é uma organização obsoleta?
É um tema interessante, que precisamos abordar com muita franqueza. Até mais ou menos a crise financeira internacional de 2008, a Organização das Nações Unidas apoiou os Estados Unidos em tudo. Quando a URSS entrou em colapso até pouco depois da crise financeira internacional, os Estados Unidos conseguiram fazer o que queriam na Organização das Nações Unidas, porque eram o poder dominante.
Lembro-me quando Boutros Ghali (ex-secretário-geral da ONU) estava prestes a ser reeleito, mas os Estados Unidos disseram não e o retiraram. Os Estados Unidos usaram a ONU para estabelecer sanções ao Iraque. Seja o que for que quisessem, os Estados Unidos conseguiam que a Organização das Nações Unidas fizesse. Isso continuou assim até a crise financeira ou talvez até a guerra na Líbia.
Em 2011, os Estados Unidos e a França foram ao Conselho de Segurança da ONU para alcançarem uma resolução sobre a Líbia, quando ainda não havia uma guerra, era um conflito civil, mas depois se transformou em uma guerra civil. Nessa votação, a Rússia e a China não rejeitaram a resolução ocidental que permitiu o uso de forças armadas na Líbia. Então, a OTAN foi e destruiu o país. Após essa guerra, a Rússia e a China deixaram claro que não voltariam a apoiar uma guerra daquele tipo. É a razão pela qual a Rússia e a China bloquearam a resolução da ONU para fazer o mesmo na Síria.
A ONU não é uma instituição em si, mas é um espelho das relações geopolíticas. Quando os Estados Unidos eram a principal potência mundial, de 1991 a 2011, a ONU fazia o que Washington pedia que ela fizesse. Após 2011, a Rússia e a China disseram: “Não, esperem um minuto, o que está acontecendo? Não podemos permitir que esse tipo de coisa aconteça”.
Então, a ONU entrou em um período de paralisação e muitas pessoas disseram, em torno da guerra na Síria, que a Organização das Nações Unidas havia se tornado obsoleta. Essa não é a análise correta. A ONU não era obsoleta. Ao nível do Conselho de Segurança, é o reflexo da geopolítica global. Porque agora existem diferentes poderes que estão lutando não pelo controle, mas para definir a ordem mundial.
Os Estados Unidos não podem mais impor sua vontade no Conselho de Segurança. Isso significa que a secretaria geral da ONU não pode agir. Por isso, a secretaria geral está dizendo que a guerra atual é terrível. Mas a ONU não pode fazer nada. Qualquer resolução será vetada pela Rússia e a China e, inversamente, será vetada pelos Estados Unidos, França e Grã-Bretanha.
No Conselho de Segurança, os cinco membros permanentes, três países ocidentais e dois asiáticos, equilibram-se para os vetos. Essa emergência da Rússia e da China paralisou os Estados Unidos em seu domínio da ONU. Não paralisou a ONU, não a tornou obsoleta, simplesmente mostra que o mundo atual está em uma concorrência, sem a possibilidade, neste momento, de alguém dominar, embora os Estados Unidos continuem sendo o país mais poderoso.
Como enxerga a esquerda e os movimentos sociais diante dessa grande guerra?
Se nós, como movimentos sociais e organizações políticas de esquerda, fôssemos mais fortes, poderíamos assumir posições que teriam impacto no mundo. Mas estamos em um longo período de reagrupamento histórico. Para ser honestos, não temos o grau de poder que deveríamos ter. Estamos nos reagrupando, aumentando e construindo nossas forças. Sabemos que as lutas continuarão e aumentarão. Onde pudermos, devemos exercer nossa influência moral. Invertamos a ordem das coisas que mencionamos.
Não temos poder militar, não temos poder financeiro. As áreas onde devemos estar no meio da disputa é, por um lado, a guerra da informação. Na batalha de ideias, o papel dos movimentos sociais e políticos é essencial. Por exemplo, os movimentos sociais e políticos precisam se entender como meios de comunicação. Portanto, é muito importante que um sindicato esteja permanentemente informando seus membros sobre a situação no mundo.
O que acontece em muitos de nossos movimentos se dá porque não levamos a batalha de ideias para dentro dos próprios movimentos, permitimos que nossos membros absorvam a guerra informacional que surge dos meios de comunicação ocidentais. Sindicatos, organizações camponesas, movimentos de mulheres, LGBT+, estudantis, movimentos juvenis, todos devemos estar sempre formando nossos membros, lutando primeiro nessa trincheira da batalha de ideias.
Sobre o que está acontecendo na Ucrânia, temos que produzir material para nossos próprios quadros para que assim possam se esclarecer, lendo os dados do que está acontecendo. Cada membro de um movimento social e político é um canal de televisão. Então, vão a seus bairros e, em certo sentido, levam a batalha de ideias para a segunda trincheira, que é o campo popular. Não temos os meios para construir uma grande rede de canais de televisão, mas não precisamos deles. Para que é necessário um satélite, se temos o satélite mais poderoso, que são os membros da organização [?].
Quais são, nesta conjuntura, as tarefas dos movimentos sociais e da esquerda?
Sinto que a nossa principal tarefa é enfrentar essa perspectiva que está presente nos povos e entre as pessoas para acelerar a batalha de ideias. Se acelerarmos a batalha de ideias dentro de nossos países, abrimos uma frente política em torno da posição diplomática do governo. O importante é que os governos da América Latina estejam unidos para uma política externa não alinhada.
Por que um governo da América Latina deveria escolher entre a China, os Estados Unidos ou a Rússia? Deveriam criar seu próprio programa e negar a se unir ao que os Estados Unidos querem. Esta luta diplomática não pode ocorrer neste alto nível, se nossos movimentos não abrirem a batalha de ideias e convidarem os povos para, dessa forma, gerar pressão sobre os governos, para que mantenham uma posição mais patriótica, no sentido da Pátria Grande, uma política externa escrita pela Pátria Grande e não por Washington. Mas não é possível ter essa influência nos assuntos diplomáticos, a menos que sejam realizados movimentos na batalha de ideias.
Não temos exércitos, não podemos ir lutar em uma guerra contra o imperialismo, nem você e nem eu podemos construir uma nova estrutura financeira na qual movimentemos dinheiro entre nós em grande escala, mas, sim, podemos ter sucesso na batalha de ideias. Porque o verdadeiro movimento da história está conosco. Isso significa que temos parte da verdade do nosso lado. Temos que colocar muito mais energia na batalha de ideias. Primeiro, em nossa trincheira, depois na próxima, que é o campo popular, e depois exercer pressão através do povo sobre aqueles que governam os países.
Nos tempos atuais, é muito difícil ver certa esperança no futuro. Como você vê o futuro próximo ou ao que se apega como intelectual para pensar em um planeta mais justo?
Há um marxista libanês, Mahdi Amel, assassinado em 1997, que costumava dizer que sempre e quando você estiver lutando, nunca estará derrotado. Eu gosto dessa frase, mas não é o suficiente. O que sabemos é que “os homens de terno” não podem resolver os problemas dos povos. Não podem resolver os problemas do clima, os problemas sociais como a fome e a educação. Além disso, estão desperdiçando dinheiro em armas nucleares e em exércitos.
Sabemos que seja em Buenos Aires, Beirute ou Calcutá, que é a minha cidade, ou em qualquer outro lugar do planeta, há pessoas passando fome. Quase três bilhões de pessoas estão passando fome e nenhum dos homens de terno tem ideia de como alimentá-las. Estão comprometidos com uma forma de agricultura e produção de animais que está destruindo o planeta.
Se você pergunta a alguém dos líderes mundiais se sabe o que é preciso para que cada pessoa no planeta possa comer frango uma vez por dia, não sabem. Há agricultores no Brasil que plantam soja para alimentar frangos para que outros possam comer uma ou duas vezes por dia. Isto é uma loucura. A maioria das pessoas come carne duas ou três vezes por semana, há cem anos.
Talvez não seja o caso da Argentina, onde comer carne faz parte de sua identidade. Mas na maior parte do mundo, as pessoas comem carne duas ou três vezes por semana. Agora, queremos comer três vezes ao dia e isso está destruindo o planeta. Estão sendo construídas granjas de animais que criam patógenos como o COVID-19. Os homens de terno não têm ideia de como resolver isso.
Nesse sentido, na batalha de ideias, temos que dizer que sabemos como resolver alguns desses assuntos. Não é necessário que sempre os critiquemos. Temos que pensar em como imaginamos nossas soluções. Temos que fazer com que os próprios povos tenham fé em si. Temos que ir às trincheiras para dizer que podemos solucionar os problemas.
Passamos muito tempo em campanhas contra o neoliberalismo e contra o capitalismo, mas estamos a favor do quê? Temos vergonha de dizer do que somos a favor. Sou socialista e não quero que os homens de terno e os banqueiros me digam como viver. Mas não dizemos no que acreditamos. Quero mais, não apenas resistir, porque não é o suficiente.
Acho estranho que a Argentina, uma sociedade tão rica, com uma população tão educada, com tantos recursos naturais e tanta terra apta para a agricultura, não possa sair das garras do FMI. Possui toda essa terra agrícola incrível para importar alimentos, mas o que está acontecendo no país?
E não coloco a culpa nas pessoas comuns, mas é preciso dizer que não foi o suficiente se livrar de todos aqueles presidentes em 2001. Também podemos dizer que Mauricio Macri arruinou tudo, embora eu esteja dizendo outra coisa: qual é o projeto positivo? Como as pessoas da Argentina podem imaginar o uso de seus recursos, de sua inteligência, em uma sociedade altamente educada? Como é possível continuar lutando contra o FMI por tantos anos?
Isso não deveria ser visto como algo normal. Precisamos acreditar que podemos vencer. Precisamos acreditar que não é necessário depender de créditos de fora, porque primeiro é preciso construir a própria casa. Entendo que houve um tempo, durante o kirchnerismo, em que a Argentina pagou em grande parte suas dívidas com o FMI, e que Macri tomou esse empréstimo ridiculamente alto. Mesmo assim, qual é o projeto? Lembro-me de ir de Rosário a Buenos Aires e ver a terra, e pensar que é um país incrivelmente bonito. Mas é preciso que haja um clique, que as pessoas comecem a confiar em suas capacidades.
O que podemos esperar? Estamos vivos e somos pessoas com ideias. Espero que a esquerda não esteja mais na defensiva e assustada em sair e dizer em que acreditamos. Queremos acabar com a fome, com o analfabetismo, não queremos que os banqueiros dominem nossas vidas. Queremos que as pessoas tenham lazer, que possam caminhar pelas ruas sem sentir medo, que tenham tempo livre. Queremos que os homens e as mulheres, em conjunto, assumam as tarefas do lar. Queremos tudo isso e, para isso, precisamos ser ousados. É disso que precisamos.
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“Os fatos mostram que estamos em uma era de fragilidade”. Entrevista com Vijay Prashad - Instituto Humanitas Unisinos - IHU