28 Março 2022
"A Federação da Terra, a nação na qual todos teremos que nos reconhecer um dia, é a única resposta ao perigo de um conflito nuclear, a única a banir toda guerra, a única a para enfrentar com seriedade e concreta possibilidade de sucesso os problemas globais gerados pela crise climática e pelas crescentes desigualdades sociais e territoriais", escreve Pino Ippolito Armino, engenheiro e jornalista, em artigo publicado por Il Manifesto, 25-03-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Parece que não existem horrores, não importa se ao vivo pela teve, que possam nos tirar do papel do comentarista com radicadas e preconceituosas convicções ideológicas. Assim, pelo menos cabe pensar ao percorrer os comentários que acompanham diariamente os terríveis acontecimentos na Ucrânia. Com raras exceções, entre as quais é justo incluir este jornal, a informação armou uma barraca em um campo ou no outro dos dois partidos gibelinos, aquele estadunidense e aquele russo, em guerra entre si às custas dos ucranianos.
Há quem condene a agressão da Ucrânia concebida pela Federação Russa "apenas" para impedi-la de acessar a boa e inocente sala de estar do planeta; e há quem, mesmo tentando alargar o campo e a profundidade de visão, identifique nos EUA e na OTAN os responsáveis por uma catástrofe que teria sido evitada se "só" tivesse sido reconhecida e não humilhada a vontade de poder dos russos após a dissolução da URSS em 1991. Os primeiros têm a memória curta; os segundos, ao contrário, esquecem as passagens históricas mais recentes; ambos são vítimas da desinformação organizada.
As falsidades melhor embaladas sempre contêm algumas verdades, mas a "metade da missa", para citar Andrea Camilleri, ainda continua sendo uma mentira lastimável. Não menos embaraçoso é o cinismo com que alguns respeitáveis maître à penser nos ilustram como o mundo desde sempre é dividido em zonas de influência das quais os povos não podem, e provavelmente em sua opinião não devem, tentar escapar.
Uma concepção imperial da história que mumificaria a realidade e tornaria vã qualquer ideia de progresso e liberdade; e, no entanto, explica bem por que nem mesmo no horizonte dessas análises seja possível vislumbrar qualquer vestígio da vontade do povo ucraniano.
No interesse geral do planeta, mas talvez apenas no nosso interesse particular, os ucranianos deveriam, de fato, sacrificar seu desejo de independência ou, se preferir, de transferência de um império para o outro.
O percurso que levará ao desaparecimento dos Estados nacionais e, consequentemente, ao colapso de todos os impérios ainda é muito longo, mas não há alternativas se a humanidade conseguir sobreviver às tantas emergências que sua própria ignorância causou até agora.
Nós, europeus, não soubemos aproveitar a extraordinária oportunidade de derrubar, depois daquele de Berlim, todos os outros muros erguidos no continente, mas não podemos esquecer que alguns dos nobres pais desta República, do seu exílio em Ventotene, enquanto enfurecia a segunda e, esperançosamente, última guerra mundial, já nos haviam avisado: "A soberania absoluta dos estados nacionais levou ao desejo de dominar os outros e considera seu espaço vital territórios cada vez mais vastos que lhe permitam circular livremente e garantir os meios da existência sem depender de ninguém".
A Federação da Terra, a nação na qual todos teremos que nos reconhecer um dia, é a única resposta ao perigo de um conflito nuclear, a única a banir toda guerra, a única a para enfrentar com seriedade e concreta possibilidade de sucesso os problemas globais gerados pela crise climática e pelas crescentes desigualdades sociais e territoriais.
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Não existe um imperialismo bom - Instituto Humanitas Unisinos - IHU