25 Abril 2022
"Por trás da popularidade de Bergoglio, esconde-se, além de suas qualidades carismáticas inquestionáveis, o desejo de paz. Francisco é exatamente, na inquietante aldeia global de guerras e violência de hoje, o símbolo da exigência sentida e compartilhada na sociedade (mesmo nas pesquisas de opinião, como se sabe) de encerrar imediatamente as hostilidades abertas pela Rússia contra a Ucrânia", escreve Vincenzo Vita, em artigo publicado por Il Manifesto, 20-04-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Na última sexta-feira, 15 de abril, assistimos a um milagre televisivo. À noite na Rai Uno, o Rito da Via Sacra alcançou uma audiência muito alta: 4.307.000 espectadores (20,4%), que superam os 5 milhões considerando a chamada Audiência Total. Esta última também inclui plataformas de difusão além da tela clássica. Por ordem de grandeza, estamos no nível (e mais) dos filmes de sucesso. Em geral, podemos observar o crescimento exponencial da aprovação do Papa Francisco.
Infelizmente, o evento da noite de Páscoa com Monica Maggioni não foi tão bem. Mas a própria presença papal sofre por estar inserida em uma lógica muito parecida aos talk shows. Sem dúvida, o sucesso da Via Sacra (esperamos não ir para o inferno por considerações desse tipo) foi aumentado pela extraordinária imagem das duas mulheres – a ucranianas Irina e a russa Albina - presentes juntas na décima terceira estação, aquela que lembra a morte de Jesus na Cruz. No entanto, é preciso dizer que o bispo de Roma sempre teve uma natural empatia midiática, desde que se apresentou assim que foi eleito ao trono de Pedro como o homem que veio do fim do mundo.
E numerosas ocasiões revelaram uma feliz capacidade comunicativa, que já atingiu um pico notável com a caminhada solitária na Praça São Pedro sob a chuva em 27 de março de 2020 em plena pandemia. E não será por acaso que na segunda-feira de Páscoa o encontro do pontífice com milhares de jovens foi precedido pelo recente vencedor – em parceria com Mahmood - do festival de Sanremo Blanco.
Uma escolha contracorrente, que suscitou algum descontentamento na cúria. Pode-se argumentar que o papa pelo menos se igualou ao eficientíssimo João Paulo II, que ocupava a cena com extrema autoridade. Aqui não entram juízos de mérito. Trata-se de atualizar a análise sobre as relações entre o Vaticano e o sistema de informação.
Nem mesmo Karol Wojtyla imaginou - porém - uma entrevista com Fabio Fazio, embora o festival da juventude em Tor Vergata em Roma em agosto de 2000 parecesse algo semelhante a um show de rock, por presença e paixão. Talvez, no topo dos dez primeiros, permaneça firme (mas sem a prova dos índices de acesso, que ainda não existiam) o discurso da lua proferido em 1962 por João XXIII da janela do Palácio Apostólico na abertura do Concílio Ecumênico Vaticano II. E uma menção à parte, pela extraordinária inovação nas técnicas de conexão (cassetes e aviões, sem satélite), merece a viagem de Paulo VI à Terra Santa no início de 1964. Foi então que Rai adquiriu peso e prestígio internacional. Além disso, Giovanni Battista Montini olhou com extrema abertura para a entrada da eletrônica na análise da Bíblia e dos escritos teológicos de São Tomás.
Voltemos ao Francisco. Que emoção a entrevista concedida a Lorena Bianchetti na Rai Uno novamente na última sexta-feira. Em especial, permanecerá uma página da grande cerimônia televisiva o final da conversa. Eram três da tarde, a hora da paixão de Cristo. Quando perguntado pela jornalista sobre o tema da crucificação, o papa respondeu com um silêncio muito longo. Tal silêncio lembra a conclusão da nona sinfonia de Gustav Mahler especialmente na versão dirigida por Claudio Abbado. Ou a obra de John Cage. O silêncio é meditação pungente, choro sem lágrimas, invocação da metafísica: crentes ou não, Deus (o que nos domina, para além da fé) se manifesta em sua ausência, nos diz Ingmar Bergman em O Sétimo Selo.
Mas qual é o sumo da história, para evocar Alessandro Manzoni? Por trás da popularidade de Bergoglio, esconde-se, além de suas qualidades carismáticas inquestionáveis, o desejo de paz. Francisco é exatamente, na inquietante aldeia global de guerras e violência de hoje, o símbolo da exigência sentida e compartilhada na sociedade (mesmo nas pesquisas de opinião, como se sabe) de encerrar imediatamente as hostilidades abertas pela Rússia contra a Ucrânia.
Mas naquelas fronteiras amaldiçoadas vencem as armas e Deus parece morto. Por enquanto, pelo menos.
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Foi uma audiência divina - Instituto Humanitas Unisinos - IHU