14 Janeiro 2022
Você é mulher? Então você vai ganhar menos do que um concorrente homem, passando pelo “início”. Você é uma pessoa com deficiência? Você não poderá usar as estações e vão lhe impingir dois pontos cada vez que você lançar os dados. Você é branco, com uma herança significativa? Você começa o jogo com mais propriedades que os outros. É assim que se joga o “monopoly das desigualdades”, que acaba de ser colocado à venda na França. Uma versão anticapitalista do jogo de tabuleiro mais capitalista que existe, que se tornou um instrumento pedagógico para conscientizar sobre discriminações de todo tipo.
A reportagem é de Leonardo Martinelli, publicada por La Stampa, 13-01-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Na origem da novidade, na realidade, está um sujeito criativo de Turim, Andrea Stillacci, fundador em Paris da Herezie, agência de publicidade já afirmada na França, com importantes clientes internacionais. Mas também o Observatoire des inégalités, um pequeno órgão independente, sediado em Tours, que há anos estuda as disparidades de todo tipo (sociais, raciais, econômicas, sexuais ...). "Tínhamos criado pare eles um vídeo promocional - lembra Stillacci - e, para conscientizar sobre as desigualdades, tínhamos imaginado um grupo de garotos jogando esse outro tipo de Monopoly, que na realidade não existia". Os jovens ficavam com raiva porque nem todos começavam jogando no mesmo patamar. O vídeo então repercutiu muito nas redes sociais. "E no final muitos nos perguntaram: por que você não criam realmente um Monopoly das desigualdades?".
Bem, foram necessários três anos de estudo para chegar lá, incluindo testes em diferentes escolas, principalmente em Paris. O Observatoire, Herezie e Hasbro, o produtor global do jogo, colaboraram. Em certo sentido, volta-se à finalidade primeira do Monopoly. Porque a ideia original foi, no início do século XX, nos Estados Unidos, de Elizabeth Magie, que inventou "The Landlord's Game" (O jogo dos proprietários de terras), com o qual queria denunciar a "natureza antissocial do monopólio sobre as terras” e a opressão dos investidores imobiliários sobre os inquilinos. Depois, em 1931, Charles Darrow, desempregado da grande crise de 1929, descobriu o jogo por acaso na casa de seus vizinhos e, aproveitando o conceito, criou o seu próprio, o Monopoly, que se tornaria a consagração da especulação imobiliária.
Mas vamos voltar à nova edição francesa. Destinada à faixa etária de 11 a 25 anos e vendida diretamente pelo Observatoire des inégalités, é uma extensão do Monopoly clássico (joga-se com o mesmo tabuleiro, que, de fato, não é fornecido). São dez cartas que correspondem a personagens diferentes (e mais ou menos sortudos, e 37 cartas que comportam várias probabilidades (maternidade, desemprego, homofobia na empresa, racismo, problemas de saúde...).
O "Monopoly des inégalités" que se destina essencialmente para escolas, centros de formação e coletividades (e, efetivamente, o kit mais completo, que custa 150 euros, também inclui um guia para o animador, um folheto pedagógico, material didático e webdocumentários). Quando se inicia, “cada jogador deve interpretar um personagem que não se pareça com ele, para não estigmatizá-lo – observa Constance Mounier, responsável pelo projeto do Observatoire. Tentamos fazer com que o garoto entenda como as desigualdades não são uma fatalidade”. Está previsto que o jogo dure duas horas, mas o verdadeiro dura apenas meia hora. O resto é debate, provocado pelo animador, também com base nos inevitáveis protestos e recriminações dos garotos, que se veem penalizados injustamente. E reagem. Entre outras coisas, nesse Monopoly, a cada injustiça conferida passo a passo, também é fornecida uma "quantificação" real (escrita por trás da carta em questão). Assim é explicado que "2,3 milhões de franceses vivem em condições precárias de moradia", "7% consideram que a homossexualidade é uma perversão que deve ser combatida" e "três horas e meia é o tempo dedicado ao trabalho doméstico pelas mulheres contra duas pelos homens".
Não é a primeira vez que o Monopoly é usado para focar a atenção nas realidades sociais. Em 1970, Robert Sommer, psicólogo ambiental da Universidade da Califórnia, inventou "Blacks and Whites", que foi reproposto nos Estados Unidos no ano passado para conscientizar os jovens estadunidenses sobre os privilégios dos brancos. Mais recentemente na França, um casal de sociólogos há anos engajados na denúncia das desigualdades sociais, Michel e Monique Pinçon-Charlot, criou “Kapital”, um jogo de tabuleiro de “sociologia crítica”, que é um híbrido de Monopoly e jogo de Ganso. Mas muito mais cerebral do que a última novidade.
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O monopoly das desigualdades: se você é mulher ou deficiente, começa o jogo com menos “propriedade” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU