14 Janeiro 2022
Os críticos que se omitem de participar dos atuais esforços do Vaticano para consultar todo o mundo, parte dos esforços do papa para revigorar a vida eclesial, falham em entender como Francisco está tentando remodelar a Igreja, disse um dos cardeais conselheiros em discurso na terça-feira, 11-01-2022.
A reportagem é de Michael J. O'Loughlin, publicada por America, 12-01-2022. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
“Sinodalidade é uma forma de ser Igreja, baseada na ideia, no ideal, que todos os batizados estão caminhando juntos com uma atenção compartilhada ao Espírito Santo”, disse o cardeal Joseph Tobin, arcebispo de Newark, em uma mensagem à Cathedral Ministry Conferece, que está ocorrendo em Chicago.
Nos últimos dias, alguns críticos do sínodo, que está recebendo pouquíssima atenção nos Estados Unidos, reclamaram nas redes sociais que algumas palavras-chave associadas ao processo sinodal compartilhadas em tuíte da Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos – USCCB pareciam corporativistas ou jargões. Pelo menos um bispo pesou sobre, postando na sua conta do twitter: “se o processo sinodal é para ter frutos, deve focar na pessoa de Jesus Cristo, nos valores do Evangelho e na visão espiritual; e eliminar estruturas complexas, instruções incompreensíveis e linguagem corporativa e secular”.
Sem abordar diretamente essa controvérsia online, o cardeal Tobin disse que é comum que certos temas surjam durante os períodos de preparação que antecedem uma reunião do Sínodo dos Bispos.
Antes do Sínodo de 2012, convocado pelo Papa Bento XVI para discutir a evangelização, o cardeal disse que percebeu que o “discernimento” era um tema-chave, usado duas dúzias de vezes no documento preparatório.
“Pensei quão interessante que, neste nível da Igreja, as pessoas estão reconhecendo que não há soluções adequadas para os desafios que a Igreja enfrenta hoje”, disse o cardeal Tobin, “e que o sínodo não está lá simplesmente para carimbar algo, mas [perguntar], o que Deus está dizendo às Igrejas hoje?”.
O Sínodo dos Bispos de 2023 será dedicado à ideia da sinodalidade, que as dioceses começaram a preparar no ano passado.
O cardeal Tobin, que atua na Congregação para os Bispos do Vaticano, disse que o Papa Francisco continua buscando respostas para a questão da sinodalidade e que enfatizou temas semelhantes.
“Quanto mais e mais longe viajamos juntos, quanto mais nos encontramos, tudo fica mais claro”, disse ele. “Agora, acompanhados por Francisco, são as mesmas palavras: misericórdia, alegria, discernimento, diálogo. E de todos eles, o mais incompreendido, na minha experiência, é a sinodalidade”.
Em sua palestra, o cardeal Tobin relembrou um encontro em 1960 entre o historiador judeu francês Jules Isaac e o Papa João XXIII. Isaac cobrou que o papa considerasse como a Igreja contribuiu para as atitudes antissemitas na Europa e seu papel na criação de condições que levaram ao Holocausto. Essa conversa ajudou a levar à promulgação da “Nostra Aetate” e ao início de um período de reconciliação entre a Igreja e o povo judeu.
“O que o Papa João foi capaz de fazer só foi possível porque ele ouviu”, disse o cardeal Tobin. “Ele ouviu uma voz que não teria ouvido em todo o Vaticano ou provavelmente em qualquer Igreja Católica na época. Ele ouviu alguém que havia sido profundamente ferido”.
O cardeal Tobin disse que ouvir profundamente como parte do processo sinodal é “essencial para nosso crescimento compartilhado no corpo de Cristo”. Essa postura é “o que o Papa Francisco vê claramente e defende abertamente como o modelo que a Igreja que o Senhor espera de nós neste milênio”.
Ele citou a insistência do papa sobre a necessidade de Igreja estar nas periferias literais e figurativas e perguntou: “Que vozes podem falar à Igreja hoje?”.
Ele citou o alcance de sua própria diocese para jovens, indivíduos em presídios e católicos LGBTQIA+ – um gesto, disse ele, “que nos custou muito”.
“Mas é um custo que devemos pagar e traz enormes benefícios”, disse ele.
Os católicos desconfortáveis com um modelo sinodal de Igreja, disse ele, podem se sentir desconfortáveis com a confusão que o diálogo frequentemente desenterra. Mas, disse ele, recusar-se a viver com tensão pode ser uma forma de heresia.
“Minha definição favorita de heresia é a recusa em lidar com a complexidade”, disse ele. “Se você olhar para as heresias da Igreja, as grandes heresias, eles não podiam aceitar uma coisa ou outra, e eles não queriam viver com a tensão. Há uma tensão essencial e uma tensão necessária em grande parte de nossa vida”.
“Se você destruir essa tensão”, continuou ele, “então a Igreja, os sacramentos, a Palavra de Deus se tornam outra coisa. Não é mais a Palavra de Deus”.
O cardeal disse estar esperançoso que as Igrejas possam abrir suas portas e ouvir profundamente, mas também está ciente que o processo pode não ser fácil.
“Temos um longo caminho a percorrer em codificar em nosso DNA eclesial, essa maneira de ser Igreja”, disse ele.
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“Recusar lidar com a complexidade na Igreja é uma forma de heresia”, declara o cardeal Joseph Tobin - Instituto Humanitas Unisinos - IHU