03 Janeiro 2022
A revista especializada Sanità Informazione incluiu-o na lista dos dez profissionais da ciência que marcaram em nível mundial os 365 dias de luta contra a pandemia de 2021, especificamente com a campanha europeia de suspensão das patentes sobre as vacinas. O médico Vittorio Agnoletto, que já foi presidente da Liga de Luta contra a AIDS, porta-voz dos antiglobalistas nos dramáticos dias de Gênova em 2001, depois membro do Parlamento Europeu pela Refundação Comunista, é hoje o coordenador do Right2cure No Profit on Pandemic, à qual aderiram na Itália todos os sindicatos, incluindo os de base, Arci, Emergency, Libera, grupos católicos e paroquiais, com pessoas de destaque como Silvio Garattini e Don Luigi Ciotti.
Agnoletto 'festeja' o encontro (está em excelente companhia: com ele, entre outros, Antonella Viola, Alberto Mantovani, Giovanni Rezza) com a Covid: apesar de ter recebido a terceira dose, febre alta e dores. “Desde ontem estou melhor, mas para mim não foi de forma alguma um resfriado comum...”, nos conta.
A entrevista é de Matteo Pucciarelli, publicada por La Repubblica, 31-12-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Existe alguma relação entre a disseminação da Ômicron e o fato de metade do mundo, quase sempre o mais pobre, não estar vacinado?
Claro, as variantes são o resultado de um erro espontâneo na replicação da propagação do vírus. Quanto mais o Covid-19 se replica, mais é possível que os erros provoquem novas variantes. Que são, portanto, o resultado da ausência generalizada de vacinas e medicamentos.
Sem a vacinação em massa mundial, a Covid está destinada a não desaparecer?
Na ausência de uma vacinação generalizada e em tempo curtos, o risco é justamente a formação de novas variantes e, portanto, o perigo de continuar assim. Até porque cada vez que surge uma nova variante não sabemos seu potencial de difusão e seu grau de periculosidade. Nem sabemos se as vacinas que estão disponíveis naquele momento serão capazes de neutralizar a nova variante, e leva meses de estudo para entendê-lo. O pedido, portanto, de ter vacinas produzidas em todo o mundo, é sim de justiça, igualdade e direitos, mas também de um egoísmo saudável se pensarmos na nossa economia.
O que podem significar os 'tempos curtos' que você mencionou anteriormente?
Já hoje, segundo a OMS, se as patentes de vacinas fossem suspensas e o conhecimento fosse socializado por três anos, o mundo ocidental, Coréia do Sul, Bangladesh, Índia, África do Sul e Brasil poderiam produzir novas vacinas. Assim, até a metade do ano de 2022, 70-75 por cento da população mundial seria vacinada. E consideramos que já foi perdido um ano de tempo, a Índia e a África do Sul apresentaram esse pedido em outubro de 2020, e com eles mais cem países do sul do mundo e cem Prêmios Nobel e ex-governantes como Mario Monti e Romano Prodi. Sem esquecer os apelos neste sentido do Papa Francisco e da OMS.
Quem se opõe à liberalização?
No ano passado, UE, Grã-Bretanha, Suíça, Cingapura, Austrália, Japão, Brasil e Estados Unidos se opuseram. Hoje, UE, Grã-Bretanha e Suíça continuam contrários.
Mario Draghi manifestou-se a favor da liberalização e na Europa ele tem um papel central e, antes dele, Joe Biden fez o mesmo: então por que não se consegue desbloquear?
Biden derrubou a posição de Donald Trump e hoje os EUA estão formalmente a favor, com o Secretário de Estado dos EUA pedindo um compromisso de todos os ministros da saúde do mundo ocidental. Draghi, por outro lado, nunca fez um ato político, mas apenas declarações. A posição da UE é apoiada pelos países europeus e sobretudo pelos governos alemão, francês e italiano. O curioso é que no Parlamento Europeu vários partidos que apoiam o nosso Executivo, como o Pd e o 5 Stelle, votaram várias vezes pela suspensão de patentes, sem impô-la, porém, aos governos de que fazem parte.
Doar vacinas não poderia ser uma solução?
Não. Como diz Dom Luigi Ciotti, caridade e esmolas nunca podem substituir os direitos. Além disso, menos de 25% dos suprimentos prometidos no passado chegaram ao destino. Em segundo lugar, porque nas doações é a nação que faz a doação que decide com base em seus interesses geopolíticos quanto e para quem doar. Em terceiro lugar, infelizmente muitas vezes as doses doadas estão perto do prazo de vencimento e não só não se consegue usá-las, mas quem as recebe deve assumir a tarefa de descartá-las. Nós, em todo caso, não pedimos a cessão das patentes, mas a suspensão. Opção prevista em casos excepcionais, e este é um deles, pelo estatuto da Organização Mundial do Comércio. Não são postos em causa os direitos à remuneração dos privados, mas trata-se de encontrar um equilíbrio entre os seus enormes ganhos e o número de mortes. Sem esquecer que essas vacinas foram em grande parte produzidas com fundos públicos.
Posto assim, quase parece que para as grandes empresas farmacêuticas não convém erradicar a Covid.
Eu apenas convido a refletir sobre o fato de que para as empresas produtoras de vacinas convém que o mundo rico seja periodicamente obrigado a comprar novas e maciças quantidades, para que a pandemia se transforme em endemia. A verdadeira questão é quais são as relações que ligam os vértices políticos que se opõem à liberalização com a Big Pharma. Desta última se pode entender a busca pelo lucro, mas não de quem deveria se preocupar com a saúde pública.
Por que é tão difícil ser um ferrenho defensor da ciência e ao mesmo tempo questionar a Big Pharma?
Porque a Big Pharma tem um poder enorme no mundo da política e da comunicação. Há mais de um ano pedimos um confronto na TV com a direção da Farmindustria, sem sucesso. Como é possível que a questão das patentes não se transforme no principal assunto de discussão pública? Por isso, gostaria de relançar um apelo ao Primeiro-Ministro para tomar a decisão formal de suspender as patentes. Seria um grande presente para nós e para o mundo para o 2022.
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Vacina: “É preciso uma ação concreta sobre a liberalização das patentes”. O apelo de Agnoletto - Instituto Humanitas Unisinos - IHU