26 Outubro 2021
Uma Igreja que cruza fronteiras é uma das conquistas do Sínodo para a Amazônia, algo que vem tomando forma em nível geral e em pequenas ações e projetos que dão sentido ao trabalho de reflexão e organização em nível geral.
A reportagem é de Luis Miguel Modino.
Poderíamos dizer que a Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA), recentemente erguida canonicamente pelo Papa Francisco, é uma dessas grandes expressões em nível geral. Há também pequenas iniciativas, nem sempre conhecidas, mas que dão sabor ao trabalho que a Igreja vem fazendo em tantos lugares da Amazônia, nas periferias, nas fronteiras que nem sempre são compreendidas pelos habitantes originais desses lugares.
Um exemplo claro disso pode ser encontrado na Tríplice Fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru, onde o Ticuna, um dos povos mais numerosos da Amazônia, viveu historicamente. Existem atualmente mais de 50.000 Ticuna, 36.000 no Brasil, 8.000 na Colômbia e 7.000 no Peru. Para eles, as fronteiras entre os três países são algo que nem sempre compreendem e muitas vezes não levam em conta em sua vida diária.
Mapa da Tríplice Fronteira (Argentina, Brasil e Paraguai) (Foto: Wikimedia Commons/Micaelxp)
Em mais um exemplo de uma Igreja que caminha em rede, que supera fronteiras e gera caminhos comuns entre diferentes instituições eclesiais e civis, foi realizada de 21 a 23 de outubro, na Comunidade Indígena Ticuna de Umariaçu I, localizada no município brasileiro de Tabatinga, no Estado do Amazonas, uma Sala de Aula Viva de Agricultura Agroflorestal.
A sala de aula é parte do Projeto Vida, que as irmãs Cordimarian estão realizando desde São Paulo de Olivença, com o apoio da fundação colombiana Caminos de Identidad (FUCAI). Também estiveram presentes no evento o Serviço Jesuíta Pan-Amazônico, que tem sua sede na cidade colombiana de Leticia, e a Cáritas da diocese brasileira de Alto Solimões.
Foto: Luis Miguel Modino
Durante os três dias, como informou Verônica Rubi, uma missionária leiga argentina que coordena a Cáritas na diocese de Alto Solimões, participaram 20 famílias de agricultores da Comunidade Indígena Umariaçu, onde vive o missionário.
As salas de aula vivas, segundo Rubi, são instâncias formativas nas quais as necessidades são trabalhadas para que seja possível passar de uma realidade de escassez para a abundância, da monocultura, muitas vezes apenas plantando mandioca, para o cultivo diversificado no qual a queima da floresta é evitada. Para este fim, sementes e árvores frutíferas e madeireiras foram dadas a cada uma das famílias.
Tudo o que foi explicado no primeiro dia foi colocado em prática no segundo dia, algo que foi vivido como uma boa experiência pelos participantes, que se comprometeram a empreender estas culturas diversificadas, sem queimadas, ensinando seus filhos a assumirem estas práticas agroflorestais.
O curso terminou com um dia de culinária nativa, trabalhando na importância de uma dieta variada, rica em proteínas, vitaminas e carboidratos, diz o coordenador da Cáritas Alto Solimões. Distribuídos em quatro grupos, 25 pratos diferentes foram preparados com carnes, frutas e legumes locais, mostrando as muitas possibilidades que existem neste sentido.
Foto: Luis Miguel Modino
Verônica Rubi, como articuladora da Caritas Alto Solimões e como missionária, diz que se sente "grata a todos aqueles que contribuíram para a realização da Sala de Aula Viva, que vem para melhorar a qualidade de vida das famílias de nossa comunidade, trazendo Vida e Vida em Abundância".
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Aula Viva na Agricultura Agroflorestal: uma Igreja que atravessa as fronteiras - Instituto Humanitas Unisinos - IHU