03 Setembro 2021
Viktor Orbán? “Não sei se vou me encontrar também com ele. Em um salão receberei diversas autoridades. Eu não viajo com um roteiro. Atendo quem vem até mim e o olho nos olhos”. Liga-se um sinal de alarme sobre a visita do Papa a Budapeste e à Eslováquia, marcada para 12 a 15 de setembro próximo. Francisco, de fato, declarou ontem à Rádio Cope que não sabe se encontrará o primeiro-ministro húngaro.
A reportagem é de Paolo Rodari e Andrea Tarquini, publicada por La Repubblica, 02-09-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Uma nota do Secretariado-Geral da Conferência Episcopal húngara de junho passado havia confirmado tanto o encontro com Orbán quanto com o presidente János Áder. Mas ontem o Papa misturou clamorosamente as cartas dizendo que nada está decidido e deixando entender que, em qualquer caso, se houver um encontro, será informal, sem qualquer caráter oficial.
Nos últimos meses, circularam notícias de que Francisco gostaria de evitar um encontro com Orbán para evitar que a visita fosse explorada pela direita populista. Mas se os bispos húngaros tentaram jogar água no fogo e tranquilizar sobre o encontro, as palavras de Bergoglio ontem deixam em aberto uma questão que não será fácil de manejar pelas duas diplomacias.
Nos últimos dias, não passou despercebida no Vaticano a chegada de Orbán a Roma para se encontrar com Giorgia Meloni e participar da décima segunda reunião anual dos legisladores católicos. Tanto Orbán como a líder de FdI escreveram no Facebook que ambos pretendem continuar a trabalhar juntos para ter uma direita europeia cada vez mais unida. Não é mistério para ninguém que as políticas de migração e sociais de Orbán estão anos-luz da visão do Papa. O líder húngaro, de fato, diz com palavras que defende os valores cristãos, mas os violou de forma brutal, por exemplo, com as perseguições contra LGBTQ+, com a lei que iguala a homossexualidade à pedofilia e proíbe toda união entre pessoas do mesmo sexo.
O credo do presidente húngaro, também em vista das eleições políticas de abril próximo, é de grande preocupação para a diplomacia papal: "Estou pronto a tudo contra os inimigos externos e internos da nação", declarou. Seu cristianismo é entendido em sentido nacionalista como identidade de supremacia branca ocidental. Não é por acaso que ele reabilitou o almirante Miklos Horthy, autor em 1920 das primeiras leis raciais antissemitas do século XX e principal cúmplice e aliado militar de Hitler no Holocausto e no front oriental. Para o Papa, o encontro com Orbán é também um problema para a Igreja Católica húngara.
A maioria do episcopado é tradicionalista e contrária ao novo vento trazido por Francisco. Existe todo um mundo católico que vai da Hungria à Polônia muito conservador e distante anos-luz do Evangelho dos últimos da Igreja e de Francisco. Ao se encontrar com Orbán, é também com este mundo que o Papa vai se encontrar.
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O Papa em Budapeste “Não sei se me encontrarei com o primeiro-ministro Orbán” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU