31 Agosto 2021
"É difícil pensar que ele possa 'renunciar' agora. Porque provocaria consequências pesadas sobre a 'fé' na 'sua' Igreja", escreve Ilvo Diamanti sociólogo, politólogo e ensaísta italiano, professor da Università degli Studi di Urbino “Carlo Bo”, em artigo publicado por La Repubblica, 30-08-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
O Papa Francisco está atravessando um momento difícil. Primeiro, por motivos de saúde. De fato, foi recentemente submetido a uma cirurgia exigente na Policlínica Gemelli, em Roma. Assim, durante a leitura no encontro com parlamentares católicos, realizado nos últimos dias no Vaticano, ele permaneceu sentado. E se desculpou por isso. Além disso, ele completará 85 anos em dezembro próximo. Seu antecessor, Joseph Ratzinger, o Papa Bento XVI, só tinha um a mais quando, em 2013, decidiu renunciar ao cargo. Porque estavam lhe faltando as necessárias energias espirituais. E físicas.
Assim, espalharam-se rumores sobre uma possível renúncia do Papa Francisco. Ou seja, ele também poderia "renunciar", para confiar a Igreja a um guia de autoridade, porém mais sólido. "Com saúde".
No entanto, essa mudança repentina poderia determinar consequências imprevisíveis. Para a Igreja e não só. Em primeiro lugar, porque se definiria um cenário sem perspectivas claras. Inclusive no imediato. Uma Igreja com três Papas, dois "eméritos" ao lado de um "efetivo", perderia o "sentido". Porque reduziria a autoridade de uma figura que deve ser e permanecer "única".
Testemunha e referência para quem crê. Para quem tem “fé”. E não só. De fato, poderia enfraquecer a "confiança" na Igreja e em quem a dirige. E "confiança" é uma variante, embora relativa, da "fé".
Além disso, o Papa Francisco não parece estar prestes a sair de cena. E nem mesmo se mudar para outro lugar.
Tornar-se "emérito". "Uma autoridade", mas desprovido “de autoridade". Isso é demonstrado por algumas iniciativas recentes.
Em primeiro lugar, o decreto que prevê o limite de 10 anos para os dirigentes de movimentos e associações reconhecidas pela Igreja. Para evitar personalismos e "fechamentos". E o confirma a atenção do Papa aos trágicos acontecimentos que envolveram (em certa medida: reviraram) o Afeganistão. Em suma, o Papa Francisco não tem a atitude de quem pretende se afastar. No curto prazo. Mas há outra "razão razoável" que tornaria sua renúncia "pouco razoável". É sobre sua popularidade. Que parece em sensível recuperação nos últimos dois anos.
Atualmente, de fato, três em cada quatro italianos (de acordo com uma recente pesquisa realizada pela Demos) expressam sua confiança nele. Trata-se do valor mais alto registrado desde 2017. Muito superior ao da Igreja. Estável, pouco acima de 40%.
Claro, o consenso expresso no momento de sua eleição estava próximo da unanimidade (quase 90%). Mas era condicionado - e amplificado - pela novidade. A chegada de uma figura diferente, por imagem, estilo e linguagem, em comparação com a que a precedeu. No entanto, a popularidade do Papa Francisco caiu significativamente depois de 2016, quando caiu de 82% para 72% em 2018. Essa redução depende de alguns motivos. Ditados, em parte, pelos escândalos financeiros que determinaram as demissões impostas pelo próprio Papa ao cardeal Giovanni Angelo Becciu. Por anos seu colaborador.
Mas o apoio constante expresso em favor dos "pobres do mundo" também contribuiu para o declínio do consenso em relação ao Papa. Em particular, em relação aos imigrantes, que pressionam nossas fronteiras. E conferem um rosto aos nossos medos. Hoje o temor que essa questão suscita, em comparação a alguns anos atrás, foi redimensionado pela principal, senão única, ameaça que nos preocupa. O Vírus. Que não tem fronteiras. E se reproduz e se espalha entre nós.
Assim, a confiança no Papa Francisco aumentou significativamente. Cerca de 10 pontos nos últimos dois anos. Muito mais que a Igreja. É uma orientação transversal. Porque supera as diferenças de "fé", religiosa e política.
De fato, entre aqueles que se declaram católicos "praticantes" assíduos, a confiança no Papa Francisco é quase total. Mais de 90%. Mas é (amplamente) majoritária também entre os "ocasionais" (82%) e (embora ligeiramente: 52%) entre os "não praticantes". Confirmando um "Diálogo entre crentes e não crentes" ressaltado por Eugenio Scalfari em várias ocasiões.
A confiança no Papa Francisco se confirma transversal em uma perspectiva política. Por outro lado, as "fraturas" do passado caíram junto com o "muro". A confiança no Papa, de fato, ultrapassa 90% entre os eleitores do Partido Democrata e da Forza Itália. Mas parece muito elevada na base do M5S. É ampla - embora menor - mesmo entre os que votam na Liga e nos FdI. Ao contrário da Igreja, que é menos apreciada. Majoritária apenas entre os que votam no Partido Democrata.
Como já observamos no passado, portanto, se repropõe a tendência observada na política.
Onde a "personalização" constitui a característica dominante. Assim acontece na Igreja, onde a figura do Papa Francisco se tornou determinante. Por isso é difícil pensar que ele possa "renunciar" agora. Porque provocaria consequências pesadas sobre a "fé" na "sua" Igreja.
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Popularidade em aumento. Cada três de quatro italianos confiam no Papa Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU