29 Agosto 2021
Há 40 anos, Sueli Carneiro se viu diante de uma realidade que precisava ser mudada. Abraçou a luta antirracista, dedicou uma vida aos estudos acerca do feminismo negro e aos movimentos sociais e, hoje, é uma das principais intelectuais do país. Esta trajetória de grandes ensinamentos e aprendizados da filósofa e ativista de 71 anos, que foi narrada em um livro, agora vai ocupar o Itaú Cultural a partir deste sábado (28/8) em São Paulo.
Sueli Carneiro é referência do movimento negro e feminista (Foto: André Seiti/Itaú Cultural)
A reportagem é de Elisa Fontes, publicada por Ponte, 28-08-2021.
A Ocupação Sueli Carneiro, que tem entrada gratuita, revela os rumos tomados pela filha de Ogum. Nascida na Lapa, zona oeste da capital paulista, Sueli tem suas origens na cidade de Ubá, em Minas Gerais, e encontrou na universidade um caminho de transformação social. A exposição pretende colocar o público nesta história, passando pela vida pessoal, a produção acadêmica e os movimentos a partir da Universidade de São Paulo (USP), a religiosidade e a ancestralidade de Sueli. Além disso, é possível mergulhar em textos de Djamila Ribeiro e Thula Pires, e descobrir mais informações, no site dedicado à ocupação.
A curadoria da mostra, que conta com recursos de acessibilidade e ficará em cartaz até o dia 31 de outubro, conta com o Núcleo de Comunicação e Relacionamento e da Enciclopédia Itaú Cultural e a jornalista e escritora Bianca Santana, autora da biografia Continuo preta: a vida de Sueli Carneiro (2021), que acompanha a vida da intelectual de perto desde 2017.A jornalista contou à Ponte que recebeu o convite de ser curadora há mais de um ano. A seleção de materiais, a pesquisa e a escolha de elementos que pudessem traduzir a vida da intelectual, uma das fundadoras do Geledés, Instituto da Mulher Negra, foi um longo processo em grupo: “Nós fizemos uma série de reuniões para conversar sobre os aspectos biográficos, intelectuais e a produção ativista da Sueli”.
“A gente também foi até a casa onde a Sueli viveu por quarenta anos, onde fica a maior parte dos documentos dela e que vai abrigar a Casa Sueli Carneiro Instituição“, prossegue Bianca Santana se referindo ao espaço de memória e formação que deve ser aberto em breve e da qual a jornalista é também uma das fundadoras. “Fui até a casa onde ela vive hoje, o apartamento, fotografei elementos que podiam fazer sentido para compartilhar com o grupo. Foi um processo cuidadoso, longo e de muita troca, conversas constantes.”
No centro da exposição, uma árvore, em alusão a Oxumaré, interliga todos os aspectos da vida de Sueli, desde a fé, suas origens e seus pensamentos que inspiraram a luta do movimento negro e feminista brasileiro. Foram reunidos mais de 140 objetos, entre fotos, documentos, artigos que ajudam a contar os detalhes desta história, além de depoimentos em vídeo de quem acompanhou e se inspirou nas produções de Sueli.
Há outros elementos simbólicos, como diferentes tipos de plantas, a ferramenta de Ogum e máscaras de Gelede, festival iorubá que expressa o poder de mulheres. A consultoria religiosa do acervo é assinada por Baba Diba de Iyemonja e o projeto expográfico é de Isabel Xavier, com assistência de Danilo Arantes.
Para Bianca, o legado da intelectual inspira quem acredita na transformação a partir das lutas coletivas e a mostra é uma oportunidade para aprender mais sobre o passado do país sob uma nova perspectiva. “A ideia é que as pessoas conheçam a trajetória da Sueli Carneiro e, a partir disso, conheçam um pouco mais da história do movimento negro, do movimento das mulheres negras que é um aspecto muito importante da história do Brasil e que, muitas vezes, é apagado.”
“Esperamos que as pessoas possam a partir dos vídeos, dos depoimentos, de uma série de objetos, documentos, se inspirar para também serem agentes das transformações, das mudanças que são tão necessárias, a partir de um repertório ancestral e coletivo”, conclui.
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Ocupação Sueli Carneiro celebra a vida de uma das principais intelectuais do Brasil - Instituto Humanitas Unisinos - IHU