29 Junho 2021
O arcebispo polonês Slawoj Glodz foi eleito prefeito de sua cidade, mesmo depois de ser penalizado pelo Vaticano por ignorar abusos sexuais cometidos por seu clero, assim como outros bispos foram sancionados por delitos similares.
A reportagem é de Jonathan Luxmoore, publicada por Catholic News Service, 25-06-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Em um comunicado, o conselho distrital de Jaswila disse que o arcebispo Slawoj Glodz, que chefiou a arquidiocese de Gdansk até agosto passado, foi eleito administrador de Piaski, acrescentando que as autoridades locais estenderam “congratulações de coração”.
No entanto, a revista católica polonesa Wiez, que fez campanha contra o abuso sexual na igreja, alertou que o “movimento sem precedentes” provocaria “irritação e escândalo na sociedade”.
“Infelizmente, esta não é a abertura de uma nova temporada de comédia na TV, mas parte de nossa vida eclesial polonesa”, comentou Wiez em 24 de junho.
“Como um doutor em direito canônico, o arcebispo Glodz pode muito bem defender sua decisão da letra da lei — mas a letra não é tudo. Uma questão adicional é o desgosto associado a mais uma exposição de uma pessoa que, com as penalidades impostas pelo Vaticano, deveria, pela lógica normal, permanecer em silêncio”.
Em 29 de março, o Vaticano ordenou que o arcebispo Glodz, agora com 75 anos, vivesse fora de sua ex-arquidiocese e evitasse “celebrações religiosas públicas ou encontros leigos”, após investigações sobre como lidou com o abuso do clero e “outras questões” relacionadas ao seu tempo no cargo.
O arcebispo, que também foi condenado a pagar uma “quantia apropriada de fundos pessoais” a um fundo da Igreja polonesa para atividades de prevenção e assistência às vítimas, foi um dos mais recentes de vários prelados sancionados pelo motu proprio do Papa Francisco, de maio de 2019, “Vos estis lux mundi”, após ser acusado publicamente de violar as leis polonesas e as diretrizes do Vaticano ao ignorar as queixas de abuso.
Em uma declaração de 25 de junho, o arcebispo Wojciech Polak, delegado de proteção à criança da Igreja polonesa, disse que o bispo-emérito Stefan Regmunt, de Zielona Gora-Gorzow, foi barrado de aparecer em público e de participar da conferência episcopal e, ainda, condenado a pagar de fundos pessoais a uma fundação anti-abusos.
Uma declaração de 25 de junho da arquidiocese de Poznan, da Polônia, disse que medidas paralelas foram ordenadas pela nunciatura do Vaticano contra o bispo aposentado Stanislaw Napierala, de Kalisz, enquanto a Agência de Informação Católica da Polônia, KAI, relatou em 25 de junho que o papa ordenou uma comissão especial para investigar os abusos ligados às acusações contra o cardeal Stanislaw Dziwisz, arcebispo aposentado de Cracóvia e ex-secretário pessoal de João Paulo II.
O vice-prefeito de Jaswila, Marek Jaros, disse ao site de notícias financeiras Money.pl da Polônia, em 24 de junho, que não há “nenhum obstáculo” para a eleição do arcebispo Glodz sob a lei administrativa polonesa, acrescentando que a mudança foi apoiada pelos moradores da região.
No entanto, ele acrescentou que ficou pessoalmente “chocado” com o fato de “tal hierarca da Igreja poder se tornar uma autoridade local não remunerada”, e disse que o arcebispo, que possui uma propriedade de 52 acres em sua cidade natal, deve delinear seus planos em um reunião do conselho de 29 de junho.
A nunciatura do Vaticano se recusou a responder às perguntas do Catholic News Service sobre a eleição do arcebispo, enquanto a assessoria de imprensa da conferência dos bispos poloneses disse ao CNS, em 24 de junho, que a conferência “não tinha jurisdição” sobre um arcebispo aposentado.
O Cânon 285 da Igreja proíbe os clérigos “de assumir cargos públicos sempre que isso significar compartilhar o exercício do poder civil” e “tudo o que é impróprio para seu estado”.
Em uma análise de 25 de junho para a agência KAI, um professor de direito da Igreja, Piotr Majer, disse que a eleição de um padre como prefeito da cidade não “contradizia a letra da provisão canônica”, desde que o cargo “não esteja relacionado ao exercício do poder”.
No entanto, ele acrescentou que tais cargos eram claramente “estranhos ao estado clerical” e deveriam ser ocupados por leigos.
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Polônia. Arcebispo condenado pelo Vaticano é eleito prefeito de sua cidade; mais bispos foram penalizados - Instituto Humanitas Unisinos - IHU