28 Junho 2021
A investigação em andamento é muito intensa. Bem como as acusações. A sombra de ter acobertado os padres culpados se estende até mesmo ao histórico secretário de São João Paulo II, Dom Stanisław, que se tornou cardeal com Bento XVI e tinha como destino a diocese de Cracóvia. Após meses de incessantes investigações jornalísticas, testemunhos incômodos, documentos embaraçosos e algumas cabeças de bispos poloneses que, nesse ínterim, acabaram rolando por ter ignorado as vítimas e não punido os pedófilos, uma comissão do Vaticano começou a trabalhar discretamente para reconstruir as falhas no sistema e entender se o cardeal Dziwisz efetivamente escondeu as denúncias que chegavam a ele. O Papa Francisco confiou a batata quente ao cardeal Angelo Bagnasco, ex-arcebispo de Gênova, ex-presidente da CEI e, entre outras coisas, um bom amigo do próprio Stanisław Dziwisz, que até poucas semanas atrás continuava a desmentir ter acobertado denúncias que chegaram à sua mesa de 2005 a 2016.
A reportagem é de Franca Giansoldati, publicada por Il Messaggero, 27-06-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
A confirmação dessa virada clamorosa veio da nunciatura de Varsóvia que, após fortíssimas pressões, se viu obrigada a confirmar que efetivamente Bagnasco havia sido enviado a Varsóvia pelo Papa para investigar sobre a veracidade ou não dos tantos rumores que circulam. Tocar dom Stanisław é um pouco como tocar Karol Wojtyla, já que o acompanhou como um filho durante todo o longo pontificado de João Paulo II. “O objetivo desta investigação feita a pedido da Santa Sé é verificar a negligência atribuída ao Cardeal Dziwisz durante o seu mandato como Arcebispo Metropolita de Cracóvia”.
Bagnasco já teria tido acesso à documentação confidencial guardada na nunciatura e já recolheu vários depoimentos juramentados de testemunhas-chave. “Estamos diante de uma mentalidade de silêncio cúmplice que existe na Igreja polonesa há pelo menos 30 anos, após a queda do comunismo. Certamente, caberá à Santa Sé julgar este ou aquele sacerdote, mas enquanto prevalecer a mentalidade do silêncio e não se alcançar a transparência necessária (já que o episcopado não quer entregar os documentos a uma comissão estatal) nunca sairemos desse impasse, relatou à TV polonesa o padre Tadeusz Isakowicz-Zaleski, um dos principais acusadores de Dziwisz e fundador de uma associação chamada Irmão Alberto, uma das realidades mais ativas que ajudam os portadores de deficiência física ou mental. Zaleski disse também que, ao receber a convocação, pensou imediatamente numa “brincadeira”. “Foi uma conversa muito profissional que demorou muito. Naturalmente que dei meu depoimento colocando por escrito tudo o que sabia. Não pude responder a algumas perguntas, porque nunca tinha ouvido falar de determinados casos antes. Não é apenas um caso”.
O relatório que está sendo preparado também inclui a lista completa de vítimas que recorreram a instituições católicas polonesas e haviam sido ignoradas pelos bispos. Dziwisz é acusado de não ter dado seguimento à carta de uma vítima, Janusz Szymik, abusada por um padre, o padre Jan Wodniak. Nos últimos meses, o Cardeal Dziwisz defendeu-se com força dizendo que nunca teve esta carta em suas mãos, embora um padre de Cracóvia tenha confirmado que a entregou em suas mãos em 2012. O trabalho de Bagnasco levará semanas e servirá para redigir um relatório para o Papa Francisco. Desnecessário dizer que a matéria - já em si ardente - desta vez pode resultar simplesmente explosiva, pois diz respeito a um dos mais influentes cardeais seniores, colaborador chave do pontificado de um santo e, posteriormente, de Bento XVI.
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Pedofilia, em apuros Dziwisz, ex-secretário de Wojtyla - Instituto Humanitas Unisinos - IHU