15 Junho 2021
Uma sociedade que enche a boca com a palavra "jovem", que dedica o programa europeu de recuperação para a "next generation”, que diariamente se lastima sobre as dívidas que deixaremos para "aqueles que vierem depois de nós", e depois os arrola como alvo e quase nem liga para a sua vida.
A entrevista com Sarantis Thanopulos é editada por Antonello Caporale, publicada por Il Fatto Quotidiano, 14-06-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Professor Sarantis Thanopulos, aconteceu com os Open days da Astrazeneca. A nossa é uma sociedade quantitativa. Sua fé está nos números, na tecnologia, no desempenho. Com a pandemia, a nossa religião absoluta se tornou a ciência, indiferentes que a ciência não possa ser exata, onipotente, definitiva. Tem respostas provisórias, precárias, incompletas.
É muito hipócrita mandar os jovens se vacinar com um soro que pode criar problemas e fingir que só se percebe quando o problema ocorre.
Não é o soro que devemos culpar. Todo medicamento produz efeitos colaterais. Mas eliminamos o risco de nosso horizonte porque o poder público não confia na verdade.
A verdade produz conflito.
De fato, o nosso tempo rejeita o conflito, somos pais ansiosos por amenizar, reduzir, banalizar o confronto. Temos a ideia de que a vida dos filhos deve ser uma extensão da nossa.
Fala-se de jovens apenas quando está envolvida a diversão, a vida noturna, as brigas noturnas ou, nos casos mais graves, a morte. A juventude como força motriz da crônica policial. É muito pouco para a "next generation".
Tácito dizia: eles fizeram um cemitério e o chamaram de paz. Estamos tão convencidos de que toda discussão deve ser silenciada, na convicção de que quanto menos conflito houver, mais rápido se anda, que estamos caindo em muitas armadilhas que mistificam a realidade. Quantas mentiras já nos contamos sobre a era digital na qual surfavam alegremente as novas gerações?
O smartphone é uma testemunha fiel da vida de nossos filhos.
Um garoto maneja o computador melhor do que eu, mas um garoto sofre mais do que eu a sociedade digital, a virtualização. Você percebeu que durante esses longos meses de pandemia as ruas - quando era permitido - eram ocupadas apenas por jovens? São eles que precisam se ver, se encontrar, se entender, se confrontar. Muitos de nós, adultos, nos tornamos felizes prisioneiros do smart working. A solidão como uma abstenção ativa da vida.
Os jovens já nascem resignados, não se rebelam.
Cada gesto de rebelião é aplainado por nosso desejo de reprimi-lo na acomodação. Porque esses garotos têm que estar prontos e adequados para nossa ideia de uma sociedade performática. É um funil no qual os colocamos, como se fossem frutas a serem espremidas. Mas uma sociedade assim devotada ao agir mecânico, devotada ao eficientismo, à produtividade como um fim em si mesma, não tem alma.
O número de pessoas vacinadas e não mais a sua idade se tornou a obsessão desses dias.
O terrível fim de Saman (a garota de origem paquistanesa que recusou o casamento arranjado e agora está desaparecida) é o epílogo da ideia de seus pais de que ela fosse apenas uma extensão de sua vida. O homicídio é terrível e ainda mais terrível é que seja concebido como a amputação de uma parte de si, de uma de suas pernas.
E o caso de Matteo, o garoto que se matou num chat, participando da mania dos suicídios, encenando a sua morte para seus companheiros?
Você vê o assombro, a distância absoluta que separa esse mundo do nosso? A verdade é que nos recusamos a conhecê-los e, portanto, não os reconhecemos.
Quem era Matteo? Quem o conhecia, o pai dele, seus amigos?
Você era jovem na época da Grécia dos coronéis. Eu conheci a força e a vitalidade da revolta. Mas há mais de vinte anos na Europa não há nenhum sopro de rebelião.
Aquela de Greta, da sua geração, não seria uma rebelião?
Ao contrário de nossos pais, não sabemos enfrentar os garotos, fugimos do desafio, da dureza do confronto. Abrandar, esse é o verbo. Porque basicamente nossa ideia é levá-los para onde decidimos.
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“Os jovens são frutas a serem espremidas. Traídos com os open days”. Entrevista com Sarantis Thanopulos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU