23 Abril 2021
Quarenta chefes de Estado e de governo de países também em conflito entre si que se encontram reunidos, virtualmente, em uma sala para falar sobre o clima. Do presidente estadunidense Joe Biden ao presidente chinês Xi Jinping, de Vladimir Putin a Narendra Modi, passando pelos líderes europeus - Mario Draghi, Emmanuel Macron, Angela Merkel - até o turco Tayyip Erdoğan, o brasileiro Jair Bolsonaro, o britânico Boris Johnson. Líderes diferentes e divididos (quase) sobre tudo, que se encontram conectados na mesma mesa virtual para demonstrar que pelo menos sobre o futuro do planeta se pode falar.
A Cúpula dos Líderes sobre o Clima é o vértice de dois dias organizado por Biden para destacar o desejo dos EUA de voltar a se preocupar e tratar da luta contra as mudanças climáticas, a maior ameaça global à saúde da Terra e de seus habitantes. E é o presidente dos EUA que inicia com um primeiro anúncio: os Estados Unidos estão empenhados em reduzir as emissões de combustíveis fósseis em até 50-52% até 2030, uma meta que duplica as reduções que o governo Obama havia se comprometido a alcançar no histórico Acordo do Clima de Paris de 2015.
A reportagem é de Giulia Belardelli, publicada por Huffington Post, 22-04-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Pelo menos em palavras, os líderes mundiais se juntam à corrida verde definida pelo presidente estadunidense. As diferenças permanecem, mas a luta contra as mudanças climáticas se torna um tema sobre o qual os gigantes rivais - Washington e Pequim - dizem que querem colaborar. Multiplicam-se os agradecimentos a Biden pelo que o primeiro-ministro Draghi define de "uma mudança total" e, de fato, definitivamente parece um outro mundo em comparação com o de novembro de 2019, quando o então presidente Donald Trump anunciava a saída da maior economia do mundo do Pacto de Paris. “Neste Dia da Terra - tuíta Potus - tenho o orgulho de dizer que a ciência está de volta”.
Today I’m bringing together leaders from around the world to meet this moment of climate peril, and extraordinary opportunity. No nation can solve this crisis on its own, and this summit is a step on a path to a secure, prosperous, and sustainable future. https://t.co/lcUUsgyEo3
— President Biden (@POTUS) April 22, 2021
“Nenhuma nação pode resolver este problema sozinha, e esta cúpula é um passo no caminho para garantir um futuro seguro, próspero e sustentável”, diz o presidente dos Estados Unidos, que destaca as “extraordinárias oportunidades econômicas” que podem surgir das medidas pela luta contra as mudanças climáticas no mundo. "Os EUA estão determinados a agir: não apenas o governo federal, mas também os estados, as corporações, os trabalhadores”. “Vejo a oportunidade de criar milhões de empregos bem pagos”, acrescenta o chefe da Casa Branca. “Esta é a década decisiva” que “evitará as consequências desastrosas das alterações climáticas”.
O objetivo da primeira sessão - aquela mais densa de intervenções dos líderes - é destacar a necessidade urgente de as principais economias do mundo reforçarem suas ambições climáticas até a COP26, a 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática a ser realizada em novembro em Glasgow, para se manter dentro do alcance da meta de limitar o aquecimento global em 1,5 graus Celsius.
Central é a participação na Cúpula de Xi Jinping, líder da segunda potência econômica do mundo, cujo desenvolvimento ainda depende fortemente do carvão. Apesar das tensões sobre vários temas, Washington e Pequim publicaram na semana passada um comunicado conjunto no qual anunciaram o compromisso de combater as mudanças climáticas "com a seriedade e urgência que merece".
President Xi on Thursday called for unprecedented ambition and action to build a community of life for man and nature. #ClimateChange pic.twitter.com/qejfOEo0JN
— Global Times (@globaltimesnews) April 22, 2021
Em seu discurso, Xi Jinping reiterou o desejo de Pequim de atingir a neutralidade de carbono em 2060, destacando que o país está empenhado em atingir os objetivos "em um tempo muito menor do que alguns países desenvolvidos em um esforço que envolve todos os setores", com o objetivo de limitar "o consumo de carvão em um plano plurianual”. Nenhum novo anúncio, portanto, mas a confirmação da vontade da República Popular da China de "trabalhar com a comunidade internacional - incluindo os Estados Unidos - para promover a governança ambiental global".
Os EUA e a China, rivais em tudo, encontram uma trégua em nome da pax climática. “Estamos comprometidos com o multilateralismo e temos responsabilidades comuns e diferenciadas ao mesmo tempo”, disse Xi Jinping, declarando sua disposição de colaborar com todos, inclusive os Estados Unidos, para o bem do planeta. Também o presidente russo, Putin - cujas relações com o Ocidente são cada vez mais tensas - identifica na luta contra as emissões poluentes "um sólido arranjo legal para a colaboração internacional".
A União Europeia, por sua vez, chega à Cúpula depois de ter alcançado um compromisso sobre a redução dos gases com efeito de estufa até 2030, elevando o valor de 40 para 55% (a frente ambientalista queria 65%). O Green Deal em que a Europa decidiu apostar baseia-se em um conjunto de investimentos que vai na mesma direção da maior parte do super plano de recuperação pós-Covid almejado pelo presidente estadunidense.
“Com os acordos de Paris assumimos o compromisso de reduzir o aquecimento global em 1,5 graus Celsius em relação aos níveis pré-industriais” mas “o que fizemos é insuficiente”, sublinha Mario Draghi em seu discurso. “Devemos inverter a rota e fazer isso agora. Queremos agir agora, não nos arrependemos depois”. “A Itália - observa o premiê - é um país muito bonito, mas também muito frágil, a batalha pelas mudanças climáticas é uma batalha pela nossa história e pelas nossas paisagens”. Daí a vontade de Roma de fazer do cuidado do planeta um dos "principais objetivos" da presidência italiana do G20 com uma proposta: "organizar uma reunião ministerial sobre clima e energia", que possa aumentar as chances de sucesso do Conferência COP26 de Glasgow.
Abbiamo spezzato i legami che ci univano al Creatore, agli altri esseri umani e al resto del creato. Abbiamo bisogno di risanare queste relazioni danneggiate, che sono essenziali per sostenere noi stessi e l’intero tessuto della vita. #EarthDay
— Papa Francesco (@Pontifex_it) April 22, 2021
Enquanto as declarações dos líderes se sucedem, via Twitter chegam os votos do Papa Francisco para o Dia da Terra. “Rompemos os laços que nos uniam ao Criador, aos outros seres humanos e ao resto da criação. Precisamos recuperar essas relações danificadas, essenciais para o nosso sustento e de toda a estrutura da vida”.
‘We cannot fool nature and physics’ — In this NowThis exclusive, @GretaThunberg says commitments presented by countries at the Leaders’ Climate Summit will leave a ‘gap of awareness, action, and time’ pic.twitter.com/y8qYPJKmAE
— NowThis (@nowthisnews) April 22, 2021
O movimento ambientalista permanece cético em relação às promessas dos grandes do mundo: gostaria de compromissos mais precisos e ambiciosos para conter a corrida da humanidade em direção ao "abismo" mencionada pelo secretário-geral da ONU, Antonio Guterres. De Washington ressoam as palavras de Greta Thunberg, a ativista sueca chamada hoje para falar no Congresso sobre a questão dos combustíveis fósseis. “As metas que os líderes mundiais estabeleceram para enfrentar a mudança climática são amplamente insuficientes”, diz ela. “Não podemos nos contentar com algo só porque é melhor do que nada”, pois “já estamos atrasados décadas”. A corrida verde - é seu apelo, compartilhado por muitos jovens em todo o planeta - deve ir muito, muito mais rápido.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Dia da Terra, Biden relança a corrida verde. Pax climática entre líderes, em palavras - Instituto Humanitas Unisinos - IHU