15 Abril 2021
“A recuperação econômica dos EUA, da Europa e do Japão poderia atingir o resto da economia mundial e trazer de volta uma centralidade aos Estados Unidos, impulsionado por planos de recuperação de trilhões de dólares que não apenas modificarão a produção global e o consumo, mas também criarão diferentes padrões de produção e consumo. A economia pós-covid será mais verde, mais tecnológica e mais desligada da China”, escreve Francesco Sisci, sinólogo italiano, em artigo publicado por Settimana News, 14-04-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
A China entrou em 2021 com grande esperança de uma performance política e econômica melhor que do último ano. Previsões do FMI confirmam isso apontando um crescimento de 8% no PIB chinês para o final deste ano.
Porém, passando o primeiro quadrimestre do ano, talvez Pequim devesse ter maior atenção, como alguns elementos podem ser mais fracos do que o esperado pela China.
O primeiro é a vacinação. As vacinas ocidentais estão provando serem mais eficazes, e dando esperança para as economias estadunidenses e britânicas reiniciarem em maio ou junho, e a economia europeia poderia se recuperar a partir de junho. Sendo assim, as vacinas ocidentais poderiam ser distribuídas mundialmente e expandir a influência estadunidense em uma escala nunca vista desde a Segunda Guerra Mundial.
A recuperação nos EUA, Europa e Japão poderia atingir o resto da economia mundial e trazer de volta uma centralidade aos Estados Unidos, impulsionado por planos de recuperação de trilhões de dólares que não apenas modificarão a produção global e o consumo, mas também criarão diferentes padrões de produção e consumo.
A economia pós-covid será mais verde, mais tecnológica e mais desligada da China.
De fato, embora a dissociação da economia estadunidense da chinesa, iniciada pelo governo Trump, tenha falhado, a política de dissociação da China do setor de alta tecnologia dos EUA parece mais bem-sucedido. Os suprimentos chineses de microchips e de máquinas-ferramentas de microchip parecem ser bastante eficazes até agora e podem se tornar mais eficazes no futuro.
Portanto, a manufatura de alta tecnologia poderia seguir dois caminhos distintos no mundo: um seguindo a China e outro sem a China.
Por outro lado, a diplomacia de vacinas da China falhou em grande medida. A China exportou centenas de milhões de vacinas, mas essas exportações não conseguiram conter as ondas da epidemia nos países que a adotaram.
O exemplo mais notável é o Brasil, que aproveitou as importações das vacinas chinesas e ainda testemunhou uma das maiores e mais rápidas ondas de coronavírus do mundo. Isso também pode ser por causa da má gestão no Brasil, mas ainda assim, não funcionou.
Além disso, a credibilidade da vacina chinesa também foi enfraquecida pelo fato de que a China optou por exportar a maior parte de suas vacinas, ao mesmo tempo em que interrompeu a propagação da doença internamente colocando seu próprio povo em quarentena e usando até agora menos vacinas. Isso deu a sensação de que os chineses não confiavam em suas próprias vacinas, ou pelo menos não confiavam que a vacina poderia impedir a propagação da epidemia.
Portanto, tudo isso enfraqueceu o soft power da vacina chinesa. Agora, sem uma campanha massiva de vacinação efetiva, é incerto se a China terá abertura depois que a campanha de vacinação nos EUA e na Europa for concluída.
Se a China não reabrir então, seu próprio fechamento para o mundo exterior ajudará a separar sua economia da economia global.
Pode-se ter uma situação em que a maior parte do mundo seja vacinada com vacinas não chinesas, e a China seja vacinada com sua própria vacina, e os dois lados do mundo podem não ter acesso total um ao outro.
Ou seja, os próximos seis a 18 meses serão cruciais para avaliar a situação da luta em torno da China.
As vacinas ocidentais e não chinesas ainda podem falhar em fornecer segurança para seu próprio povo, e a quarentena ao estilo chinês ainda pode emergir como a única ferramenta eficaz para prevenir a propagação da doença.
No entanto, se as vacinas americanas se mostrarem especialmente eficazes em deter a epidemia, esta poderia ser a primeira pontuação importante para o governo de Biden no mercado interno, global e vis-à-vis a China. Ou seja, a maneira ocidental de enfrentar epidemias por meio de vacinas e com quarentena limitada poderia ter mais impacto de médio e longo prazo do que quarentenas de estilo chinês que fornecem resultados de curto prazo, mas passivos de médio e longo prazo.
Além disso, os muitos trilhões em pacotes de estímulo injetados na economia global elevarão os preços das matérias-primas e da energia e, assim, obrigarão Pequim a importar inflação, com possíveis consequências sociais perigosas para sua classe média.
Muitas coisas estão suspensas e muitas coisas estão indecisas. Há sinais de que a China pode estar repensando sua situação. A China aparentemente já pode estar considerando outras vacinas depois de admitir que sua versão tem “baixas taxas de proteção”. Novas tendências estão se movendo, e a China pode estar disposta a considerar rapidamente alternativas para sua linha de ação atual. O Ocidente pode estar declinando no longo prazo, mas nos próximos 18 meses, ele pode crescer mais rápido do que há décadas.
No próximo ano, as Olimpíadas de Inverno em Pequim são um importante campo de testes, pois coincidem com a data do Congresso do Partido Comunista, que deve confirmar continuidade do presidente Xi Jinping no poder.
Se então a maior parte do mundo já estiver vacinada com imunizantes ocidentais; a recuperação global é puxada por motores americanos, europeus e japoneses; e a China sendo alvo de várias controvérsias de direitos humanos; então as Olimpíadas podem se tornar uma ocasião de grande constrangimento para Pequim.
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China. Virando a maré com vacinas eficazes? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU