01 Março 2021
Uma situação muito difícil, muito tensa. Assim define a irmã Joaninha Honório Madeira o que está acontecendo na fronteira entre o Brasil e o Peru, no Estado do Acre, do lado brasileiro, e no Departamento de Madre de Dios, do lado peruano. Ali está desde há várias semanas um grupo que já está próximo das 500 pessoas, cada dia chegam mais 20, 30 pessoas, de diferentes países, esperando continuar sua viagem para o Peru, que mantém a fronteira fechada.
A reportagem é de Luis Miguel Modino.
Do lado brasileiro, a cidade de “Assis Brasil não comporta mais tanta gente, a estrutura é pequena”, afirma a irmã da Imaculada Conceição. Ela relata o acontecido no dia 14 de fevereiro, algo que pode se repetir em qualquer momento. Diante do anúncio das autoridades peruanas que iriam abrir a fronteira, eles foram de madrugada para a ponte que une os dois países, onde esperaram para poder passar.
Depois de três dias de espera, eles romperam a segurança do Peru e entraram em Iñapari, cidade do lado peruano. A polícia peruana, segundo a religiosa, que faz parte da Rede Itinerante da Rede Eclesial Pan-Amazônica – REPAM, “reagiu com violência, com gás lacrimogênio, com tudo o que você pode imaginar”, uma situação muito difícil, segundo ela. Todos foram devolvidos para o lado brasileiro, alguns deles com muita violência. A irmã Joaninha relata que “houve 11 feridos, inclusive mulheres gestantes e uma criança pequena que recebeu um golpe na cabeça”.
A religiosa afirma que “a sociedade civil de Iñapari reagiu fortemente diante dessa violência”. Enquanto isso, do lado brasileiro, os migrantes estão acolhidos em três albergues públicos. Alguns deles estão fazendo guarda na ponte, não deixando passar uma longa fila de caminhões, tanto do lado do Brasil como do Peru. Os caminhoneiros estão pressionando o prefeito de Assis Brasil, que já ameaçou com tirar o pessoal da ponte e dos albergues públicos com força, segundo a religiosa, algo que fere as leis migratórias. A situação está sendo acompanhada desde o início pela Equipe Itinerante, da qual faz parte a irmã Joaninha, que insiste em que “é algo que nos desborda totalmente”.
Na fronteira, que alguns estão passando clandestinamente, “além da pandemia existe racismo e preconceito, especialmente com os haitianos e africanos”, insiste a irmã Joaninha Honório Madeira. Mesmo com a ponte fechada, o fluxo Brasil-Peru está se dando pelo rio de canoa, algo que não faz sentido, segundo ela. Essa situação está provocando a exploração dos migrantes que pagam quantidades absurdas para atravessar o rio e mais tarde para continuar sua viagem. Uma travessia que custa um dólar para quem mora lá, estão cobrando de 40 a 50 dólares para atravessar um haitiano, denuncia a religiosa. Uma vez atravessado, de Iñapari para Puerto Maldonado, que são 3 horas de viagem, que o custo é de mais ou menos 10 dólares, deles se cobra de 200 a 300 dólares por pessoas, afirma a irmã Joaninha.
Segundo ela, “isso significa tráfico de pessoas, a fronteira está lucrando com essa situação da pandemia e da fronteira fechada”. Nos últimos dias existem rumores que o Peru, que até agora está irredutível, pode abrir nos próximos dias, o que está fazendo com que os migrantes se organizem, dado que “a situação está insustentável”, insiste a religiosa. “Quem não tem filhos está conseguindo passar, mas alguns estão sendo trazidos de volta para a ponte. Brasil está apoiando aqueles que querem voltar para onde vieram, São Paulo, Rio de Janeiro..., mas eles não querem voltar, querem seguir adiante”, segundo a irmã Joaninha, que denuncia a grave situação que vivem os migrantes.
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Migrantes barrados entre o Brasil e o Peru vivem uma situação que se agrava a cada dia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU