12 Fevereiro 2021
Quatro instituições fundamentais na missão da Igreja na Amazônia pronunciaram-se através das suas presidências por ocasião do primeiro aniversário da publicação da Querida Amazônia, a Exortação Pós-Sinodal do Sínodo para a Amazônia. Eles são o Conselho Episcopal Latino-americano - CELAM, a Conferência Latino-americana de Religiosos - CLAR, a Conferência Eclesial da Amazônia - CEAMA e a Rede Eclesial Pan-Amazônica - REPAM.
A reportagem é de Luis Miguel Modino.
Em nome da REPAM, que desempenhou um papel decisivo no processo sinodal, o seu presidente, Cardeal Pedro Barreto, o seu vice-presidente, Dom Rafael Cob, e o seu secretário executivo, Irmão João Gutemberg Sampaio, intervieram. O cardeal peruano afirmou que "o nome já exprime esta grande alegria e este afeto que a Igreja sempre teve pela Amazônia, mas de uma forma muito especial neste momento em que há muitas dificuldades em compreender o valor das culturas dos povos originários da Amazônia". O cardeal insistiu na importância de "dizer às pessoas que lá vivem que são queridas pela Igreja".
Ao mesmo tempo, salientou a importância da Amazônia para o mundo, "como espaço geográfico que regula o clima do mundo", bem como a alegria representada pelas "culturas milenares, os povos originários". O Cardeal Barreto salientou também a importância dos quatro sonhos da Querida Amazônia, "que são para nós compromissos que devemos assumir plenamente hoje".
Estamos perante uma exortação que é "um grande presente para nós", nas palavras do vice-presidente da REPAM, que sublinha que o Papa nos fala "de saber sonhar, de sonhar nesta cultura e riqueza que a Amazônia tem, estes povos que são a memória para saber cuidar da natureza". Para Dom Rafael Cob, "na Querida Amazônia, sonhar é uma palavra-chave, porque não há verdadeiramente progresso sem sonhar", enfatizando a importância de "sonhar juntos, para caminhar juntos também". Para o bispo de Puyo, Equador, "celebrar este aniversário da Querida Amazônia é celebrar o triunfo da natureza sobre todas aquelas ameaças e perigos que o nosso Planeta Terra realmente tem”.
Para Dom Rafael Cob é necessário "um compromisso para cuidar da terra", afirmando que o Sínodo Amazônico nos pediu para nos convertermos e sonharmos "com um mundo novo, onde a natureza continue verdadeiramente a fazer parte da nossa vida", onde defendemos "os povos que nela vivem", povos "que nos ensinam a viver, a viver no meio de toda esta sociedade de consumo, a viver em austeridade". É necessário, segundo o vice-presidente da REPAM, "ouvir a natureza e ouvir as pessoas que nela vivem". Além disso, "contemplar a maravilha que Deus nos deu", insistindo que "Querida Amazônia continuará a ser para nós uma lição a aprender todos os dias".
Para o Secretário Executivo da REPAM, a Querida Amazônia "é um alimento espiritual muito grande, porque toca nosso horizonte, toca nossa esperança, toca os valores e toca o amor". Estamos perante uma exortação apostólica "de grande alcance, precisamos conhece-la muito mais e praticar os seus sonhos e tudo aquilo que ela propõe", segundo o irmão João Gutemberg Sampaio, que sublinha a urgência dos sonhos e conversões propostos na Querida Amazônia, promovendo que "mais gente envolvida no amor, no cuidado, na defesa da Amazônia, das suas populações, dos seus ecossistemas, porque está em risco a ecologia integral".
Uma consequência da Querida Amazônia é a Conferência Eclesial da Amazônia - CEAMA, que tem a tarefa de "que o Sínodo seja aplicado no território", segundo o seu presidente. Para o Cardeal Claudio Hummes, o Documento Final, retomado pelo Papa Francisco na exortação, "ele interpela toda a Igreja e pode também inspirar a Igreja", especialmente no campo da inculturação. Para o relator geral do Sínodo, na Igreja, "sua prática pastoral deve se inculturar em cada cultura. E por tanto, terá também rostos diferentes, claro, rostos relativamente diferentes, mas que juntos formam o grande rosto diversificado da Igreja na sua grande unidade".
O Cardeal Hummes recordou os quatro sonhos, nascidos de todo o processo sinodal. Segundo o presidente da CEAMA, "abrem sempre novos horizontes, sonhos são sempre algo que podemos ir muito além", salientando a sua importância na vida da Igreja, considerando a CEAMA como um desses sonhos. Esta Conferência Eclesial da Amazônia, "que não apenas inclui bispos, mas também todo o povo de Deus nas suas várias categorias", é o fruto do sonho do Papa.
Apesar da pandemia, a CEAMA "estamos trabalhando e indo em frente", afirma o Cardeal Hummes. Segundo ele, a aprovação canónica dará à CEAMA "força para manter viva essa chama que o Espírito Santo acendeu no Sínodo, essa chama pastoral e missionária da Igreja da Amazônia segundo os novos tempos, de uma Igreja mais sinodal e mais do lado dos pobres.
Dom Miguel Cabrejos falou também da CEAMA, definindo-a como "uma expressão orgânica que serve para levar adiante a maior parte das propostas concretas do processo de discernimento do Sínodo Amazónico e que pode ser sustentado ao longo do tempo". O presidente do CELAM, de cuja estrutura faz parte a CEAMA, salienta que "é uma estrutura sem precedentes na Igreja", que aparece como "fruto de um dinamismo sinodal". Para o presidente do CELAM, a Assembleia Eclesial da América Latina, a CEAMA e o Sínodo Amazõnico são "fruto deste processo eclesial latino-americano", que sempre defendeu o "alargamento da perspectiva de participação do Povo de Deus".
"Na CLAR estamos certos de que a ecologia integral é claramente uma opção da Igreja do nosso tempo", afirma a sua presidenta. Ela sublinha que "de Laudato Sí a Querida Amazônia há toda uma caminhada de escuta, reflexão, conversão e mobilização. Cada um de nós é convidado para uma nova forma de nos situarmos, para um novo estilo de vida”. A Irmã Liliana Franco enfatiza que o grito da Terra, dos mais pobres, "o seu grito chega-nos nesta crise desencadeada pela pandemia”. Estamos perante uma expressão de "a beleza ferida de que nos fala o Documento Final do Sínodo", que segundo a presidenta da CLAR "não cessa de nos interrogar e de nos convidar a sair de nós próprios".
A Ir. Liliana vê a urgência do diálogo "na forma como estamos a construir o futuro do Planeta, de que hábitos nos colocamos, que estilos de relação desenvolvemos entre nós e com a Terra, quais são as nossas rotinas de consumo, com quem estabelecemos alianças e a partir de que critérios". Tudo isto com a certeza de que tudo está
interligado, o que "nos leva a relações mais honestas e responsáveis, de maior cuidado e reverência por tudo o que existe".
Para a presidenta da CLAR, a pandemia lembra-nos "que cada mudança, cada crise, é habitada pela complexidade". Isto exige "ir à raiz, ajudar a desvendar as causas, e colocar-nos no lugar daqueles que sonham com a conversão e tecer novos modos relacionais com a terra e as culturas e entre os seres humanos". Tudo isto numa CLAR, que está "fazendo uma presença comprometida e missionária no território, através de tantos religiosos e religiosas que ali oferecem as suas vidas".
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CLAR, CELAM, CEAMA e REPAM lançam vídeos no aniversário da Querida Amazônia, “um grande presente para nós” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU