10 Fevereiro 2021
"O Papa Francisco continua a sacudir a Igreja italiana, da qual ele não é apenas Papa, mas também primaz com uma presença primacial direta em seu corpo episcopal", escreve Enzo Bianchi, monge italiano e fundador da Comunidade de Bose, em artigo publicado por La Repubblica, 08-02-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
O Papa Francisco continua a sacudir a Igreja italiana, da qual ele não é apenas Papa, mas também primaz com uma presença primacial direta em seu corpo episcopal. São para ele os últimos anos do ministério petrino e é o momento em que se decide a sua relação com os bispos italianos e, portanto, com a Igreja do país. Ao publicar a Evangelii gaudium (2013), pediu que sua exortação fosse implementada quase como um programa de conversão da Igreja. Em seguida, na Conferência Nacional de Florença 2015, ele insistiu na urgência de estabelecer um estilo sinodal, única forma de envolver o povo de Deus em um caminho feito juntos, para dar um novo rosto a uma Igreja cansada, paralisada, pouco criativa e sempre mais "exculturada" em relação ao país. Sim, o verdadeiro drama é sobre a fé cristã, sua autenticidade, a capacidade de ser significativa para os homens e mulheres de hoje.
Essa convocação não recebeu oposição explícita, mas continuou-se a ignorá-la, deixando as palavras do Papa caírem no esquecimento. O Papa não pediu o mais fácil, isto é, um sínodo como conferência, a celebração de um evento eclesial nacional, a reflexão dos “quadros” da Igreja sobre a sua situação e sobre o futuro. “Mas o que ele quer de nós?” foi a reação de muitos bispos: uma pergunta sem raiva, mas um sinal de um pedido que não foi compreendido. O Papa Francisco, um homem “teimoso” e cristão, em 30 de janeiro, em um discurso aos representantes dos catequistas, depois de focar em Jesus Cristo como o centro da fé, renovou o convite a considerar o Vaticano II como a voz autêntica da Igreja hoje e pediu "à Igreja italiana que volte à conferência de Florença, para começar um processo de sínodo nacional, comunidade por comunidade, diocese por diocese. Agora é a hora. Temos que começar a caminhar”.
O Papa não fala de uma convenção nacional, mas pede que o processo de sinodalidade seja iniciado, desde as comunidades menores até as igrejas locais, de baixo para cima; ao mesmo tempo, um itinerário promovido de cima, pela autoridade episcopal na direção do povo de Deus. Sinodalidade como caminhar juntos para todos os batizados, com base no princípio tradicional católico "o que diz respeito a todos, deve ser tratado e resolvido por todos”. A sinodalidade como caminho de quem compõe uma pirâmide invertida, segundo a imagem de Francisco: no alto do povo de Deus e embaixo, ao seu serviço, bispos e Papa. Processo celular, de cada paróquia e comunidade religiosa, de cada igreja local, da Igreja.
Não sei se esse processo vai acontecer, mas é preciso dizer que o Papa Francisco como profeta o pediu, não se calou, aceitando o risco de não ser ouvido, ele que se colocou à escuta daquilo que o Espírito diz à Igreja. As questões colocadas são importantes, mas o processo de sinodalidade a ser iniciado é mais decisivo. Por enquanto, porém, poucos o querem e a maioria não sabe e não quer saber o que é!
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
O caminho da igreja - Instituto Humanitas Unisinos - IHU