18 Janeiro 2021
Ex-reitor da Georgetown University de 1989 a 2001 e primeiro padre católico membro do conselho de administração da Walt Disney Company, o religioso celebrou o funeral católico do filho do presidente eleito, falecido em 2015.
A reportagem é de Francesco Lepore, publicada por Linkiesta, 16-01-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Será uma cerimônia não aberta aos cidadãos em 20 de janeiro no lado oeste do Capitólio para a posse de Joe Biden. A decisão, já tomada nas últimas semanas devido à emergência pandêmica, parece ainda mais necessária após o recente assalto dos trumpistas à sede do Congresso e os temores, portanto, de novos protestos. O 46º presidente dos Estados Unidos fará um discurso que, focado na estratégia de combater a Covid-19, reconstruir melhor - expressão, esta, inspirada no slogan Build Back Better de sua campanha - e reunir o país, estará em linha com o tema escolhido pela comissão parlamentar bipartidária especial para o 59º Inauguration Day: "Nossa resolução democrática: criar uma união mais perfeita".
Outros detalhes já conhecidos. Por exemplo, os predecessores Bill Clinton, George W. Bush e Barack Obama estarão presentes com suas respectivas cônjuges. Caberá à afro-americana Andrea Hall, presidente do sindicato dos bombeiros da Geórgia, ler o Pledge of Allegiance, o juramento de fidelidade à bandeira americana, e Lady Gaga cantar o hino nacional. Amanda Gorman, a primeira pessoa a receber o prestigioso título de National Youth Poet Laureate em 2017, recitará versos poéticos e a pop star Jennifer Lopez se apresentará em uma performance musical.
Para o juramento presidencial, Biden usará a Bíblia da família com uma cruz celta na capa que, passada de geração em geração desde 1893, já foi usada por ele nas solenidades de posse como senador (a partir de 1972) e como vice-presidente em 2005. Segundo um tradição iniciada em 20 de janeiro de 1937 com a inauguração do segundo mandato de Franklin Delano Roosevelt e nunca interrompida, também estão previstas duas (eventualmente três) formas distintas de oração: a invocação inicial e a bênção, que às vezes, como na posse de Donald Trump, foram pronunciadas respectivamente por vários representantes de diferentes denominações cristãs e por um rabino.
Esses encargos foram confiados a membros do clero católico desde o início, com exceção do período 1989-2013, ou seja, de George W. Bush a Barack Obama: na mencionada cerimônia de posse de Roosvelt foi a vez de John A. Ryan, conhecido como "Monsenhor New Deal", a proferir a bênção pela primeira vez, enquanto se terá que esperar a posse de Eisenhower (20 de janeiro de 1953) para ver um católico, o então Arcebispo de Washington Patrick A. O'Boyle, como encarregado da invocação inicial.
Para 20 de janeiro, Joe Biden se concentrou em duas pessoas ligadas a ele por antigos laços de amizade: o jesuíta Leo J. O'Donovan para a invocação, o metodista afro-americano Silvester S. Beaman para a bênção. Este último é confidente da família Biden há mais de 30 anos como pastor da Igreja Bethel AME de Wilmington, a cidade onde o presidente reside desde 1953. Ele também colaborou com Beau Biden, o filho mais velho de Joe que morreu em 2015 de um tumor cerebral. Durante anos ele foi procurador-geral de Delaware.
Quem celebrou a cerimônia de exéquias católicas em 6 de junho de 2015 foi o padre O'Donovan, ex-reitor da Universidade de Georgetown de 1989 a 2001. E é precisamente nesses anos que a profunda amizade com Joe Biden, cujo segundo filho Hunter obteve o bacharelado em História em 1992 na prestigiosa universidade jesuíta. E 1992 é também o ano em que o então reitor O’Donovan convidou o senador Biden para dar uma palestra sobre fé e vida pública. Aquela tarefa, cumprida na frente de 500 alunos reunidos no Gaston Hall de Georgetown, foi descrita pelo próprio futuro presidente como a mais difícil já realizada. Na conferência Biden preferiu abordar aspectos práticos relacionados com a educação católica recebida, declarando que "aqueles valores característicos da classe média tiveram uma implicação muito prática" e que a sua fé o "ensinou a superar as injustiças a serem combatidas".
O Padre O'Donovan, que após o convite para pronunciar a oração de invocação se fechou em um rigoroso silêncio com a imprensa, sempre disse estar "totalmente convencido" de que Biden é "um católico profundamente fiel e crente. Nem tenho certeza de até que ponto ele se aperceba do quanto encarne o Concílio Vaticano II. Mas a Gaudium et Spes fala do nascimento de um novo humanismo no qual as pessoas são definidas por suas responsabilidades para com seus irmãos e irmãs e para com a história. Este é Joe Biden”.
Mas quem encarna plenamente o novo humanismo conciliar é precisamente o nova-iorquino Leo J. O'Donovan. Nascido em 1934, graduou-se com louvor em Filosofia pela Universidade de Georgetown em 1956. Apenas um ano depois, enquanto estudava em Lyon como bolsista do Programa Fulbright, decidiu ingressar na Companhia de Jesus.
Aluno da Fordham University onde obteve sua licenciatura em Filosofia e depois no Woodstock College onde se formou em Teologia, foi ordenado sacerdote em 1966. Enviado por seus superiores à Alemanha, continuou seus estudos na Universidade de Münster, onde foi discípulo por Karl Rahner e onde, em 1971, concluiu seu doutorado em teologia.
De volta aos EUA, exerceu a sua atividade como professor, principalmente de teologia sistemática no Woodstock College e, posteriormente, no Weston Jesuit College of Theology de Cambridge, em Massachussets. Presidente da Sociedade Teológica Católica da América de 1981 a 1982, O'Donovan foi nomeado 89º reitor da Universidade de Georgetown. Durante os 12 anos de mandato, que viu entre os alunos da prestigiosa universidade Philip VI da Espanha, José Manuel Barroso, Bradley Cooper, Robert Grant e Chris Williams, a Georgetown University viveu um dos períodos de máximo esplendor com a melhoria das finanças, boom de pedidos de admissão rigorosamente avaliados, pessoal docente e administrativo altamente qualificado, atenção especial às minorias com vista a uma inclusão mais ampla.
Não faltou amargura e polêmica como a que irrompeu em 1991-1992 com o então arcebispo de Washington, o cardeal James Hickey, e com o Vaticano por ter financiado e reconhecido um grupo estudantil de informação sobre os direitos ao aborto. A controvérsia seria resolvida com a obrigação imposta pelo Vaticano de revogar o financiamento. Mas outras teriam surgido com as hierarquias eclesiásticas, tanto por ter convidado o editor pornográfico Larry Flint para proferir palestras, quanto por ter permitido a pesquisa em tecidos fetais para vacinas na universidade. Outro clamor foi aquele causado em 1996 quando foi nomeado, pela primeira vez para um sacerdote católico, como membro do conselho de administração da Walt Disney Company. Cargo este que ocupou até 2007.
Blessed Are the Refugees:
Beatitudes of Immigrant Children
Depois que seu mandato reitor na Universidade de Georgetown terminou em 2001, o Padre Donovan voltou a exercer sua antiga profissão de professor de teologia em várias universidades. Depois, em 2006, foi nomeado diretor do Jesuit Refugee Service USA. Nessa função, que ainda exerce, assumiu posições duramente críticas em relação à política migratória de Donald Trump, especialmente em defesa dos imigrantes muçulmanos.
Em 2018 publicou com Scott Rose, diácono empenhado com a assistência a crianças imigrantes, o livro Blessed Are the Refugees: Beatitudes of Immigrant Children, com prefácio de Joe Biden.
E precisamente sobre o tema das migrações, o presidente eleito dos Estados Unidos participou, em 12 de novembro, de um evento virtual de arrecadação de fundos organizado pelo Serviço Jesuíta para Refugiados, garantindo que elevaria o número de novos refugiados a serem recebidos nos EUA para 125.000 em comparação com os atuais 15.000 previstos pela administração Trump.
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Padre Leo J. O’Donovan. Quem é o jesuíta que pronunciará a invocação na posse de Biden - Instituto Humanitas Unisinos - IHU