11 Janeiro 2021
O catolicismo democrático foi protagonista da terceira onda democrática, como lembra Samuel Huntington. Pensamos em figuras como Ruiz Gimenez, Pintasilgo, Mazowiecky. Era a onda do Concílio Vaticano II, que por sua vez havia se inspirado na experiência estadunidense após a vitória de Kennedy e nas democracias cristãs europeias.
O comentário é de Stefano Ceccanti, vice-presidente de Libertà Eguale e deputado italiano do Partido Democrático, eleito no colégio de Pisa e Livorno. Professor de Direito Constitucional Comparado na Universidade La Sapienza de Roma. Ex-presidente nacional da Fuci - Federazione universitaria cattolica italiana, seu estudo se centra nas formas de governo e liberdade religiosa. O texto é publicado por Libertà Eguale, 09-01-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
1. O catolicismo democrático foi protagonista da terceira onda democrática, como lembra Samuel Huntington. Pensamos em figuras como Ruiz Gimenez, Pintasilgo, Mazowiecky. Era a onda do Concílio Vaticano II, que por sua vez havia se inspirado na experiência estadunidense após a vitória de Kennedy e nas democracias cristãs europeias. Liberdade religiosa e não apenas tolerância, protagonismo dos leigos católicos, opção preferencial pela democracia (não só eleições, mas também garantia de direitos e separação de poderes, tribunais constitucionais para limitar as maiorias e repartição da soberania em nível superior, por exemplo, com a União Europeia).
2. Depois sobrevieram os anos de regressão, de fechamento defensivo e clerical: a restrição do ensinamento social a questões limitadas, quase exclusivamente ao aborto visto no contexto do direito penal e não na prevenção e nas políticas sociais; centralização interna que comprimiu a autonomia laica que se expressa, por exemplo, com a ideia de recusar a comunhão a quem não compartilhava as mediações consideradas mais justas (porque não é verdade que na política não se negocia, sempre se negocia, o problema é quem o faz e quem define os limites). Mas assim a igreja se tornou parte do problema e não parte da solução. Na lógica limitadora e limitada, a democracia só vai bem quando é aceita a própria abordagem sobre o tema escolhido, senão regride a valor tático. Da Gaudium et Spes se sai para trás, apoiando os invasores do Capitólio. De Murray a Viganò.
3. Houve uma inversão de tendência com o Papa Francisco, que tenta repropor com novas modalidades as aberturas conciliares, mas há muito que recuperar para ser parte da solução e não do problema. Nisso tudo, a vitória de Biden acrescentou um elemento de sintonia e esperança. É uma brecha de esperança.
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Do catolicismo democrático do Concílio Vaticano II à vitória de Biden - Instituto Humanitas Unisinos - IHU