07 Dezembro 2020
Vademecum para ajudar os bispos a promover o ecumenismo e o novo estatuto da Autoridade de Informação Financeira.
A reportagem é de Carlo Di Cicco, publicada por Tiscali, 06-12-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
Enquanto a opinião pública parece estar mais voltada para os escândalos financeiros que atrapalham a ação de Francisco, o Papa prossegue no caminho das reformas dos entes do Vaticano, envolvendo cada vez mais os bispos do mundo na ação de reformar a Igreja para alinhá-la com as indicações do Concílio Vaticano II.
Dois, em particular, são os sinais importantes no caminho de renovação e atualização da Igreja: um diz respeito especificamente às finanças do Vaticano e o outro mobiliza os bispos de toda a Igreja Católica.
Com um documento próprio do Papa denominado Quirógrafo, foi aprovado e publicado o Estatuto que distribui algumas competências internas à nova estrutura da Autoridade de Informação Financeira (AIF) que doravante será designada como Autoridade de Supervisão e Informação Financeira (ASIF). Os papéis do Presidente e da Diretoria foram redefinidos. Esta decisão é tão importante que a supervisão também será exercida sobre o IOR, o famoso Instituto para as Obras de Religião, dilacerado por escândalos há 40 anos e que deu início ao longo processo de reformas das finanças do Vaticano que Francisco está concluindo.
“A revisão do Estatuto que entra em vigor a partir de hoje - disse o presidente da ASIF Carmelo Barbagallo à mídia do Vaticano - faz parte da reforma geral que o Papa Francisco está realizando para a Santa Sé e para o Estado da Cidade do Vaticano em matéria de transparência e fortalecimento dos controles econômico-financeiros. Nesse contexto, as alterações mais importantes dizem respeito à governança e à estrutura organizacional da Autoridade. Além disso, uma modificação que não é apenas nominal diz respeito à denominação da Autoridade, que é integrada com o aditamento do termo “supervisão”. Essa alteração permite alinhar o nome da Autoridade com as funções que de fato que lhe são atribuídas. De fato, para além da função original de inteligência e combate à lavagem de dinheiro e financiamento do terrorismo, desde 2013 a Autoridade exerce funções de regulamentação e supervisão de tipo “prudencial” sobre as entidades que prestam serviços financeiros numa base profissional de fato no IOR”.
Mais espiritual e pastoral, mas não menos importante, é a outra iniciativa apresentada aos jornalistas por quatro entre os cardeais prefeitos de maior autoridade dos dicastérios do Vaticano. Trata-se do Vademecum Ecumênico com indicações práticas em apoio à missão dos bispos na promoção da unidade dos cristãos. O ecumenismo apenas na aparência é uma coisa obscura, fora dos grandes interesses cotidianos da Igreja Católica e dos cristãos. Indica aquele movimento - que surgiu e se consolidou cada vez mais no século XX - que visa facilitar a harmonia e a unidade entre todos os cristãos, dilacerada no segundo milênio por numerosos cismas e divisões, às vezes até sangrentos. O ecumenismo foi, portanto, um dos objetivos mais importantes deixados à Igreja Católica pelo concílio: todos, bispos e fiéis, se não fizerem tudo o que está ao seu alcance para superar as divisões entre os cristãos, não podem ser considerados bons discípulos do Evangelho, onde Jesus reza pela unidade de todos os que acreditam nele.
Se queremos uma humanidade mais fraterna - recordou Francisco na recente encíclica Fratelli Tutti - os cristãos devem dar testemunho de uma fraternidade redescoberta entre eles. A responsabilidade de promover a causa ecumênica para os bispos, explica o Vademecum, não é opcional, mas um importante e normal “dever e obrigação” do próprio ministério.
O documento hoje divulgado pelo Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos recorda isso claramente. “O Bispo e a Unidade dos Cristãos: Vademecum Ecumênico”, este é o título da contribuição preparada pelo Dicastério do Vaticano para a Unidade e aprovada pelo Papa. Pretende ser um “suporte” para cada pastor e uma resposta às solicitações que surgiram em um encontro de alguns anos atrás no Pontifício Conselho para a Unidade dos Cristãos. Francisco havia se referido a esta missão ecumênica particular em sua carta por ocasião do 25º aniversário da encíclica Ut unum sint de João Paulo II escrita em 1995, na qual Bergoglio almeja que o Vademecum se torne "encorajamento e guia" no empenho dos bispos para a unidade de todo o corpo cristão. Empenho, especifica-se na introdução do documento, "que diz respeito a toda a Igreja".
"O Vademecum - explica o Cardeal Kurt Kock há 10 anos presidente do Pontifício Conselho para unidade - não só recorda os princípios do empenho ecumênico do bispo, mas traz uma lista de "recomendações práticas" que sintetizam, em termos simples e diretos, as tarefas e iniciativas que o bispo pode promover a nível local e regional. Por fim, no Apêndice, oferece uma breve descrição dos parceiros da Igreja Católica nos diálogos teológicos internacionais e das principais questões abordadas". O Apêndice é um precioso resumo do nível de diálogo existente entre os católicos e as outras numerosas igrejas e confissões cristãs. Resulta, portanto, que a Igreja Católica mantém um diálogo bilateral com 13 realidades cristãs e um diálogo com 3 realidades multilaterais constituídas pelo Conselho Mundial de Igrejas, o Global Christian Forum e a Comunhão das Igrejas Protestantes na Europa. Não há nenhuma menção às Testemunhas de Jeová.
Kock também recorda a esperança subjacente à publicação do vademecum: “O Papa Francisco reafirma com frequência que a unidade se realiza caminhando: se caminharmos juntos com Cristo, Ele mesmo alcançará a unidade. Espero que este Vademecum, cuja etimologia significa “venha comigo”, possa ser uma ajuda no caminho dos bispos e de toda a Igreja Católica rumo à plena comunhão pela qual o Senhor rezou”. Se for bem-sucedido, esse grande movimento de diálogo poderá revelar-se uma condição revolucionária mundial em relação à história do segundo milênio fortemente marcada por guerras e conflitos.
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Dois passos estratégicos à frente nas reformas de Francisco: sobre a unidade cristã e as finanças do Vaticano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU