30 Outubro 2020
Durante o lockdown, muitas pessoas que não costumam ir à missa dominical, mesmo se definindo como fiéis, redescobriram o tempo da oração. Basta ver os acessos às celebrações e rosários transmitidos diariamente pela Rai, Mediaset, Tv2000 e via streaming. Acima de tudo, ficou certamente na memória como momento histórico a oração pelo fim da pandemia que o Papa Francisco fez, no dia 27 de março, na deserta e chuvosa Praça São Pedro.
A reportagem é de Francesco Antonio Grana, publicada por Il Fatto Quotidiano, 29-10-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
Imagens que verdadeiramente uniram o mundo, muito além da estreita geografia católica, e fizeram o bispo de Roma ser percebido como o único líder global. O jejum eucarístico a que muitos fiéis, italianos e outros, foram obrigados durante o lockdown, até mesmo na Semana Santa, certamente contribuiu para reavaliar o valor e o significado da missa.
Stefano Proietti, jornalista do Gabinete Nacional da Comunicação Social da CEI, quis reunir todas essas reflexões em um pequeno livro ágil e interessante intitulado Il bandolo della matassa. 10 buone ragioni per andare a messa la domenica (O fio da meada. 10 bons motivos para ir à missa de domingo, em tradução livre, Edb). Partindo de sua experiência de pai de três filhos, Proietti escreve que “à missa não se pode ir para cumprir uma obrigação. Não pode ser um imposto a pagar a um cobrador exigente, nem uma bajulação para agradar a um pai exigente”.
Il bandolo della matassa. 10 buone ragioni per andare a messa la domenica
E acrescenta: “É tão bonito, enriquecedor, regenerador participar da celebração dominical que não se pode aceitar vendê-la assim, como se fosse uma mercadoria qualquer a ser trocada por um quarto de hora a mais na hora de voltar para casa ou desligar o telefone". O jornalista também amplia seu olhar para falta de vocações cada vez maior na Itália como no resto do mundo. “A necessidade - escreve Proietti - de que não venham a faltar sacerdotes à Igreja é tão prioritária que a ideia de conferir a ordenação sacerdotal a 'viri probati', homens de fé comprovada, talvez até casados e com filhos, já não é mais algo de absolutamente impensável".
“Atenção - especifica o jornalista - não quero dizer de forma alguma que aos padres deveria ser permitido se casar. O celibato continua a ser uma condição fundamental para que aqueles que são chamados ao ministério ordenado possam se dedicar plenamente à sua missão, casados com toda a comunidade a que são enviados e empenhados totalmente no anúncio do Evangelho e no serviço pastoral”. Mas acrescenta: “Se, no entanto, o número de sacerdotes ainda se revelar insuficiente, como já acontece em várias partes do mundo e como corre o risco de acontecer cada vez mais mesmo em grandes áreas da nossa Europa cristã em crise, para não deixar a comunidade sem missa e sacramentos, provavelmente todas as hipóteses devem ser avaliadas”.
O cardeal presidente da CEI, Gualtiero Bassetti, no prefácio do livro de Proietti, recorda as palavras de Giuseppe Dossetti: “A que serve que eu reze missa se ninguém vem à missa e o meu testemunho de fé não é tal a atrair as pessoas à celebração eucarística a que têm direito? Portanto, no fundo, sacerdotes e não sacerdotes, mesmo que eu tenha poderes objetivos, ministeriais ao serviço da comunidade, supõem sempre a comunidade na fé”. Para Dossetti, “a força, a energia que deve ser colocada ao serviço do espírito que opera na Igreja é a minha fé, é a minha incessante inversão interior, a minha passagem contínua da experiência sensível à experiência espiritual”.
O cardeal recorda também outro episódio muito significativo: “'Li a missa. Mas você sabia que é mais interessante do que Seis personagens em busca de um autor?' Tinha 18 anos Lorenzo Milani, filho de boa família, quando se deparou com um antigo missal na capela desconsagrada de uma propriedade de seus pais. Ele leu de uma vez só e ficou tão fascinado que quis compartilhar aquele seu momento com um antigo colega de colégio. A partir dessa primeira semente, provavelmente, floresceu a vocação sacerdotal de dom Milani, que com a escola de Barbiana teria escrito uma página indelével na vida da comunidade cristã, e não só, da nossa Itália”.
Por fim, não devemos esquecer que muito se escreveu e se disse nestes meses de pandemia sobre a participação dos fiéis na missa virtual. Sobre isso, o Papa foi muito claro: “Alguém me fez refletir sobre o perigo deste momento que estamos vivendo, esta pandemia que fez com que todos nos comunicássemos até religiosamente através da mídia, dos meios de comunicação”. Acrescentando que “esta não é a Igreja: esta é a Igreja de uma situação difícil, que o Senhor permite, mas o ideal da Igreja está sempre com o povo e com os sacramentos. Sempre".
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“O fio da meada”: refletir sobre o novo valor da missa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU