24 Setembro 2020
Transgênicos e orgânicos – Em linhas gerais, é colocado ao consumidor o poder da decisão de escolher um dos caminhos para o exercício da sua soberania alimentar.
A reportagem é de Felipe Soares de Moraes, Graduando Bacharelado Interdisciplinar em Humanidades pela Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB) e Diego Márcio Ferreira Casemiro, Graduando Bacharelado Interdisciplinar em Humanidades pela Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), publicada por EcoDebate, 22-09-2020.
A discussão que se segue no campo da saúde pública e da economia na atualidade é de extremo interesse a toda população, pois diz respeito ao produto que se tem em cima da mesa para consumo e a sua forma de produção.
A ciência fragmentada, defende duas correntes de pensamento muito marcadas, de um lado, a defesa dos alimentos geneticamente modificados, intitulados transgênicos, e do outro, a diminuição e identificação do uso dessa tecnologia nos alimentos. Dentro dessa dicotomia, os debates são balizados entre dados distintos (e nem sempre científicos), arquitetados conforme o interesse entre as partes.
As dificuldades de produção no campo são o principal argumento para os usos das sementes transgênicas, visto a necessidade de se ter plantios mais resistentes aos agrotóxicos, além de propiciar a produção de alimentos em localidades tidas como improdutivas. Nesse sentido, o dossiê Um alerta sobre os impactos dos agrotóxicos na Saúde (2015) da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO), adverte que a exploração dessa tecnologia possui problemáticas acentuadas, como aumento de alergias e resistência a antibióticos por parte da população (FERNANDES et al, 2015).
Esses indicadores se tornam alarmantes quando se constata que 93% da área plantada de soja, milho e algodão brasileiro advém de sementes transgênicas (CURY, 2016). Entretanto, observando o assunto sob uma outra ótica analisa-se que os problemas do agricultor são totalmente distantes das discussões citadinas, uma vez que a produção de alimentos em escalas regulares requer o uso da biotecnologia, para restituir as insuficiências climáticas e territoriais.
Por outro lado, a Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, que reúne cientistas prestigiados e servem de conselheiros para as decisões do governo norte-americano, publicou em 2016 um relatório de 388 páginas, em que 50 pesquisadores revisaram mais de 900 estudos sobre transgênicos e chegaram à conclusão de que a produção de alimentos transgênicos não colocam em risco a saúde humana (JORNAL NACIONAL, 2016). Exalta-se também que o estudo não vê a relação dos transgênicos com os problemas ambientais, outro ponto bastante controverso no meio científico.
A pesquisa realizada salienta, inclusive, que as modificações genéticas são necessárias para aumentar a resistência a pragas e à alguns herbicidas, que por sua vez são absorvidos pelo plantio. Mas, afinal, qual a necessidade de produzir plantas transgênicas com o mesmo grau de suficiência das plantas comuns que, no entanto, são resistentes aos agrotóxicos que matam plantas sem alterações genéticas? Cria-se, daí, um paradigma ilógico à argumentação dos defensores dos transgênicos.
Numa outra perspectiva tem se expandido cada vez mais alternativas de produção alimentícia sustentável e livre de agrotóxicos, mas longe de se aproximar dos impérios do agronegócio. Um exemplo atual e significativo é desenvolvido pela Teia dos Povos situada no Extremo Sul da Bahia. A Teia dos Povos “é um Movimento Agroecológico inserido nos movimentos e comunidades, promotor de mudanças para uma nova sociedade a partir da emancipação, autonomia e dignidade do ser humano, da Mãe Terra e das suas sementes” (TEIA DOS POVOS, 2019) que visa a apresentar uma alternativa aos consumidores próximos de suas zonas de habitação.
Também em análises atuais, observa-se as sementes crioulas, ou sementes livres de modificações genéticas por interferência humana, como uma nova alternativa para as modificações genéticas. Em testes recentes da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), foi observado que a adaptação de sementes crioulas pode ser comparada à das sementes modificadas geneticamente (PIMENTEL, 2019).
Em linhas gerais, é colocado ao consumidor o poder da decisão de escolher um dos caminhos para o exercício da sua soberania alimentar.
Contudo, ainda é muito pouco discutido a presença dos transgênicos nos alimentos, e caso o consumidor apeteça em se aprofundar nesses assuntos, cairá num emaranhado ideológico-científico, visto que não existe consenso se os transgênicos fazem ou não mal à saúde.
CARNEIRO, Fernando Ferreira et al. Dossiê ABRASCO: um alerta sobre os impactos dos agrotóxicos na saúde. EPSJV/Expressão Popular, 2015.
CURY, Anay. Transgênicos são 93% da área plantada com soja, milho e algodão. G1: 2016. Acesso em 27/10. Disponível aqui.
FERNANDES, Gabriel Bianconi; BRONDANI, Adriana; BURIGO, André; FERREIRA, Paulo Cavalcante. Sala de Convidados – Transgênicos e Orgânicos. Entrevista concedida a Renato Farias. Canal Saúde Oficial, Youtube, maio, 2015. Acesso em 27/10. Disponível aqui.
JORNAL NACIONAL. Alimentos transgênicos não fazem mal à saúde, diz academia dos EUA. G1: 2016. Acesso em 27/10. Disponível aqui.
PIMENTEL, Carolina. Agricultores familiares debatem importância da semente crioula. Agência Brasil: 2019. Acesso em 27/10. Disponível aqui.
TEIA DOS POVOS. Sobre. Acesso em 27/10/19. Disponível aqui.
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A dicotomia entre transgênicos e orgânicos: o que temos a ver? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU