05 Dezembro 2017
No início de 2016 publiquei aqui um post sobre as PANC, Plantas Alimentícias Não-Convencionais. Para se ter uma ideia, aqui no Brasil existem cerca de 10 mil espécies de plantas alimentícias e só utilizamos cerca de 300. Isso diminui a regionalidade alimentar e é mais uma prova do aumento da globalização dos nossos hábitos alimentares. As PANC normalmente são vistas como mato, ervas daninhas ou invasoras das plantações, isso porque elas nascem e crescem sozinhas, sem precisar de nenhum tipo de manejo. O que a maioria das pessoas não sabe é que elas possuem mais nutrientes, fibras, proteínas e compostos bioativos do que as convencionais, principalmente as que são cultivadas em larga escala, com agrotóxicos e solo pobre. Na culinária, as PANC são saborosas e versáteis. E o aumento do seu consumo pode ajudar a combater a fome, a melhorar a renda de pequenos agricultores locais e a preservar o meio ambiente, pois não o agride na sua produção.
Alimentos feitos a partir das plantas alimentícias (Foto: Cristina Guerini - IHU)
A reportagem é de Juliana Carreiro, publicada por O Estado de S. Paulo, 04-12-2017.
De acordo com a nutricionista Valéria Paschoal, autora do livro, Nutrição Funcional & Sustentabilidade, “Para asseguramos que as gerações futuras tenham acesso ao alimento íntegro tanto em quantidade como em qualidade, os profissionais que trabalham com a prescrição e orientação nutricional têm que ter a noção de que a compra que eu faço hoje, no supermercado, de produtos alimentícios, terá um impacto futuro na saúde do meio ambiente e na qualidade dos alimentos produzidos. Temos que trabalhar com alimentos que sejam da nossa biodiversidade, produzidos no Brasil, um país continental, que tem em abundância frutas, verduras e alimentos que não são classicamente consumidos, como as PANC.”. Vou citar aqui os benefícios e as características de algumas delas.
Camu-camu, planta rica em vitamina C | Foto: Pura Vida
Encontrada nas regiões Norte e Nordeste, essa PANC é rica em potássio, sódio, cálcio, zinco, magnésio, cobre, flavonóides e antocianinas, que ajudam a reduzir possíveis inflamações. Pesquisas comprovam que o seu consumo frequente aumenta a nossa capacidade antioxidante, protegendo as nossas células. Um estudo realizado com fumantes concluiu que o consumo diário do suco de camu-camu ajuda a reduzir o estresse oxidativo aumentado pelas toxinas do cigarro. Este potencial antioxidante também foi testado em ratos e foi comprovado o seu poder de aumentar os espermatozóides nos animais, o que pode colaborar com a fertilidade. Ela também tem um papel importante na redução do triglicérides e do colesterol total e ainda colabora com a saúde do nosso fígado. Se não bastasse, possui altas doses de vitamina C, que fortalece o nosso sistema imunológico. Pode ser consumida na sua forma original ou em sucos, compotas ou geleias.
Encontrada na região Sudeste, essa hortaliça folhosa tem ramos longos que vão de 20 a 40 cm. De acordo com pesquisas recentes, suas folhas têm uma qualidade nutricional melhor do que a de outros vegetais cultivados. Possui também maior teor de betacaroteno, vitamina C e ácido alfa-linoleico. É muito rica em ômega 3 e em ômega 6, que são antioxidantes, que colaboram com a saúde do fígado e com a eliminação de toxinas. Tem ainda bastante magnésio, que pode prevenir a formação de cálculos renais. Na medicina chinesa a beldroega é usada em forma de chá para combater febres, vermes ou atuar como antisséptico.
Em Minas Gerais a planta é consumida normalmente, mas em outros estados do Sudeste, é considerada como não-convencional. Estudos científicos comprovaram o seu poder no aumento na imunidade e na prevenção de alguns tipos de câncer, por conta do alto teor de vitamina A. Ela ainda colabora com o controle da pressão arterial e tem um teor proteico pelo menos duas vezes maior do que o do feijão. É composta também de zinco, que atua como antioxidante, de cálcio e magnésio, que melhoram a saúde óssea e de ácido fólico, que contribui com a diminuição do risco de doenças cardiovasculares.
Algumas espécies de PANCs (Foto: Cristina Guerini - IHU)
Muito consumida no Rio de Janeiro, mas desconhecida em outros estados do País, esta PANC é rica em fibras, cálcio, magnésio e boro, fundamentais para a saúde óssea, o boro ajuda a reter o cálcio dentro dos ossos e a prevenir a formação de cálculos renais. Tem também cobre e manganês, que ativam nosso sistema imunológico e melhoram a pigmentação do cabelo, por exemplo, evitando o aparecimento de cabelos brancos, causados pelo estresse oxidativo. Ainda é composta por ferro e vitamina C, que devem ser consumidos juntos por quem tem acesso ao ferro por fontes vegetais, que precisa da vitamina C para ser absorvido. Estudos comprovam que a taioba aumenta o bolo fecal, que ajuda a reduzir a gordura do fígado e colabora muito com o funcionamento do intestino, ajudando a prevenir o câncer de colo retal.
Presente na região Sul essa PANC pode ser consumida em várias partes, sua flor, seu fruto jovem, sua folha e sua raiz, que parece a raiz forte utilizada na culinária japonesa. Foram feitas pesquisas recentes que comprovaram a sua eficácia na eliminação de metais tóxicos, como alumínio, chumbo e flúor, e como consequência, na prevenção do câncer. A planta também é rica em vitamina A, ferro, proteína, vitamina E e fitoquímicos, que ajudam a reduzir a gordura no fígado.
Caruru, rico em antioxidantes | Foto: Matos de Comer
Esta PANC pode ser encontrada em todas as regiões do Brasil, mas é mais popular na Bahia. Nasce no meio das plantações de verduras e tem um papel importante no controle da pressão arterial. Também é rica em zinco, cálcio, magnésio, fibras, compostos fenoicos, que são antiinflamatórios, antioxidantes e podem ajudar na prevenção de casos de Alzhemeir e de Parkinson.
Os especialistas recomendam que as PANC não devem ser consumidas cruas por conta de seus fatores antinutricionais, substâncias que atrapalham a absorção de vitaminas e minerais pelo organismo. Também precisam ser bem higienizadas. Outra dica é optar por aquelas vindas de solos sadios, ou seja, que fiquem distantes de fontes de poluição.
O principal desafio agora é disseminar estas informações para que as pessoas possam identificar as PANC mais próximas e acessíveis e para que saibam diferenciá-las das plantas não comestíveis. “Nosso desejo é que em breve as PANC, não sejam mais alimentos não convencionais, porque a partir do momento que eu passe a consumi-las elas passam a fazer parte do nosso cotidiano alimentar. Chega de consumirmos apenas alimentos convencionais como cenoura, alface, tomate. As PANC são amigas do meio ambiente, são selvagens, resistentes e não precisam de muita água”, complementa Valéria Paschoal. A nutricionista sugere que as PANC sejam utilizadas para compor as hortas das escolas, pois durante as férias a maioria das plantações morre e precisam ser refeitas a cada início de ano letivo, mas as não-convencionais não precisam de muitos cuidados e estarão sempre à disposição dos alunos, assim que as aulas retornarem. Também é uma forma de apresentá-las à população por meio dos estudantes.
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Pesquisas recentes comprovam o poder das PANC na prevenção de doenças - Instituto Humanitas Unisinos - IHU