25 Junho 2020
Uma importante autoridade do governo filipino acusou uma irmã beneditina de ser uma “aliada de longa data de uma organização terrorista comunista” após a religiosa condenar uma sentença por difamação dada à destacada jornalista Maria Ressa e ao editor de notícias Reynaldo Santos Jr.
A reportagem é publicada por UCA News, 24-06-2020. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Em uma postagem recente feita nas redes sociais, a Irmã Mary John Mananzan considerou a sentença dada à jornalista como um ataque à liberdade de imprensa.
Grande parte da crítica da religiosa alvejou a juíza envolvida no caso, Rainelda Estacio Montesa, a qual, segundo a irmã, estudou em uma escola beneditina do país.
A religiosa falou que tinha ficado triste porque a juíza não havia mostrado os valores de uma educação beneditina. “Independentemente do sucesso que tenha alcançado, fico sentida porque que você fracassou enquanto alguém que se formou em uma escola beneditina. Serve de consolo o fato de que Maria Ressa também é uma de nossas ex-alunas”, acrescentou.
A subsecretária de comunicação para a presidência do país, Lorraine Badoy, respondeu à postagem da irmã associando-a com o Partido Comunista das Filipinas.
“Não me considero intolerante às opiniões de Mary John. Se ela acha que Maria Ressa é uma grande jornalista, o que posso fazer? Somos, afinal de contas, uma democracia. Não somos um país comunista, como uns querem que nos tornemos”, disse a subsecretária nas redes sociais.
Mananzan fundou e presidiu durante 18 anos o partido Gabriela, de esquerda. O grupo foi fundado em 1984 para defender a questão da mulher no país e, mais tarde, tornou-se num dos maiores grupos no combate ao regime de Marcos.
Badoy, a subsecretária, também falou que os laços estreitos de Mananzan com um “grupo terrorista comunista” a fez uma pessoa odiosa e divisora, tal como são os comunistas.
“Por que Mary John Mananzan é uma aliada tão próxima de um grupo que já trouxe a este país tanta dor e destruição, e que tem, como objetivo principal, derrubar o governo?”, perguntou.
A postagem da representante do governo fez surgiu pedidos de desculpa públicos por parte de grupos de defesa dos direitos humanos e das mulheres.
“A Irmã Mary Mananzan é só a mais recente de uma longa lista de ativistas e críticos do presidente Duterte a ser perseguida por Badoy e pelas agências com as quais a representante pública trabalha. Exigimos um pedido de desculpas de parte de Badoy, retratando-se e corrigindo essa sua postagem condenável feita no Facebook”, disse o grupo Movimento contra a Tirania em nota.
Este grupo também declarou que a subsecretária havia ido longe demais no que afirmou a respeito da religiosa, ao acusar aquela que é um dos pilares do ativismo filipino.
“Acusações como essas, sem base nenhuma, vindo de uma subsecretária e autoridade pública não só difama a pessoa e a reputação da Irmã Mary John Mananzan, mas também põe a vida dela e a sua liberdade em risco”, acrescentou o grupo.
O porta-voz da presidência, Harry Roque, disse que o comentário de Badoy se situa dentro do reino da liberdade de expressão.
“Foi a opinião pessoal. Vivemos uma democracia. (…) A liberdade de expressão está garantida em nossa Constituição”, explicou Roque ao jornalistas.
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Filipinas. Governo chama religiosa católica de ‘terrorista’ - Instituto Humanitas Unisinos - IHU