06 Mai 2013
Na continuidade de um encontro trienal de cerca de 800 lideranças mundiais de irmãs religiosas católicas nesse sábado, o foco esteve exatamente sobre o que significa para as mulheres manter a liderança na Igreja em geral.
A reportagem é de Joshua J. McElwee, publicada no sítio National Catholic Reporter, 04-05-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
As questões entre o grupo, que representa as irmãs de todos os continentes povoados, variavam entre: como uma liderança católica deve usar o poder? As lideranças católicas devem admitir a fraqueza? E que papel o imaginário feminino pode desempenhar em tais considerações?
As respostas, ao menos até agora, eram as seguintes: elas devem usar o poder como colaboradoras, não como ditadoras; devem transformar a fraqueza em disposição a dar a si mesmo; devem e olhar para os exemplos bíblicos das respostas únicas das mulheres aos chamados de Deus.
Essas perguntas e respostas surgiram enquanto os membros da União Internacional das Superioras Gerais (UISG) estão reunidos em Roma até a próxima quarta-feira. Um grupo de cerca de 2.000 líderes das religiosas de todo o mundo se reúne em assembleia plenária uma vez a cada três anos.
O tema para o encontro das irmãs deste ano é "Entre vós não deverá ser assim.O serviço da autoridade segundo o Evangelho" – retirado do relato do Evangelho de Mateus, quando Jesus diz aos apóstolos Tiago e João que liderem como servos, não como mestres.
"Jesus modelou para nós a liderança servidora", disse a irmã franciscana norte-americana Mary Lou Wirtz, presidente do grupo, à assembleia ao abrir o encontro na sexta-feira. "Não se trata de poder, ou status... mas sim de estar entre aqueles que nós somos chamadas a servir".
Examinando essa noção na manhã de sábado, Bruna Costacurta, professora de teologia bíblica da Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, centrou-se na história bíblica de Ester, uma rainha judaica de um rei persa.
Recontando a história do Antigo Testamento, que se foca sobre a disposição de Ester de revelar a sua herança judaica ao rei a fim de parar a perseguição planejada contra o seu povo, Costacurta disse que o exemplo da rainha destaca para as irmãs como as lideranças devem agir.
Embora Ester tenha se colocado em risco de morte por ser verdadeira, disse Costacurta, ela mostrou o seu amor.
"O amor não se manifesta em um desejo de proteção que encoraja uma atitude egoísta ou covarde e derrotista. O amor, mesmo daqueles que detêm responsabilidades de liderança com relação aos outros, deve ajudar a amar, mesmo com risco de vida, se for preciso", disse Costacurta, que também dirige o departamento de teologia bíblica da Gregoriana.
Além de arriscar a vida ou a integridade física, as líderes religiosas também foram encorajadas nessa sexta-feira à tarde a olhar para o Concílio Vaticano II (1962-1965) para incentivar formas de modelos colaborativos e participativos de liderança.
Mesclando a apresentação das noções de liderança do Concílio com histórias de vida comunitária pessoais e às vezes bem-humoradas, a irmã beneditina Mary John Mananzan pediu que as lideranças pensassem em usar as suas funções de liderança como formas de cuidado e compaixão.
O poder, disse Mananzan, professora de filosofia que realiza palestras sobre questões de globalização e de educação transformacional, deve se concentrar em três coisas: afirmação, correção e desafio.
Embora as superioras possam ter que corrigir uma de suas irmãs de tempos em tempos, disse Mananzan, elas também devem afirmar os seus pontos fortes.
"A afirmação é uma necessidade básica e central de todo ser humano", disse Mananzan.
"Os verdadeiros líderes se veem como servos ou ajudantes. Não há nada tão poderoso quanto a verdadeira gentileza".
Comparando o poder com a compaixão, Mananzan citou uma frase da falecida irmã do Bom Samaritano, Verna Holyhead. A compaixão, citou Mananzan, é "a resposta profunda e angustiante à situação do outro, é abraçar a situação do outro".
Falando sobre virtudes semelhantes, Costacurta disse que a história de Ester evidencia como a brandura pode ser uma liderança "autoentregada".
Ao se dispor a entregar a sua vida pelo seu povo, disse Costacurta, Ester mostrou uma "verdadeira autoridade" que é "serviço exercido em brandura, humildade e amor que leva à autoentrega".
As perguntas para a teóloga bíblica por parte das superioras gerais se centraram mais especificamente na definição de liderança autêntica, especialmente em situações de opressão ou violência.
Uma irmã disse que tinha vindo do Oriente Médio, onde, afirmou, "as pessoas são incapazes de deter qualquer autoridade e onde elas sofrem discriminação e injustiça".
Em resposta, Costacurta se focou no que o sofrimento dessas pessoas evidencia sobre o papel da autoridade no âmbito eclesial e secular.
"A autoridade não deve ser poder – deve ser serviço", disse Costacurta. "Existe a tentação contínua de que a pessoa em posição de autoridade exerça essa autoridade como poder".
"É uma tentação constante", continuou. "Devemos estar conscientes disso, devemos reconhecer isso. E devemos lutar contra isso".
"Estejam atentas de que o poder é uma doença", disse Costacurta, falando diretamente às cerca de 800 lideranças religiosas. "É muito contagiosa. É pior do que qualquer gripe. É uma força viral incrivelmente poderosa, que facilmente nos faz mal. Temos que nos vacinar com muita oração para ter muitos anticorpos".
Outra irmã fez referência a um ponto da palestra da teóloga, em que ela disse que o papel de um líder não é impor um reinado, mas sim ser a mediação da presença do divino.
"É possível ter uma compreensão mais comum sobre qual é o divino que estamos mediando?", perguntou a Ir. Teresita Weind, moderadora geral da congregação internacional das Irmãs de Notre Dame de Namur.
Como resposta, Costacurta se dirigiu novamente às irmãs-líderes de forma direta, exortando-as a se dedicar continuamente a um processo de resposta não violenta ao mal. Ela usou imagens de uma cana que se dobra ao vento e de uma vela com uma pequena chama bruxuleante.
"Vocês, superioras gerais, devem ser aquelas que buscam o bem e que procuram tudo o que é bom – até mesmo o menor bem", disse, "a fim de começar a criar o grande bem".
Referindo-se à meditação de Isaías sobre o servo sofredor, ela continuou: "O servo de Deus não deve quebrar a cana rachada, mas ele também não deve quebrar. Ele não deve apagar a chama fraca, mas também não deve se tornar fraco".
"A verdadeira força do poder está no respeito à realidade fraca sem se deixar contaminar por essa fraqueza", afirmou, "para entrar resolutamente no mal para encontrar o que é bom". "Essa é a encarnação – essa é também uma das tarefas de vocês".
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Liderança servidora e feminina: o foco do encontro global de irmãs - Instituto Humanitas Unisinos - IHU