Complôs. Monsenhor Viganò, “comediante” da direita anti-Bergogliana sem líderes sérios

Foto: Vatican News

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17 Junho 2020

"Lendo Viganò, cabe perguntar-se por que a direita clerical não possui um líder credível e não cômico entre os militantes do antibergoglismo cruzado. Outro antipapa improvável é de fato o cardeal Raymond Burke, "comediante" igual a Viganò. E cabe perguntar-se por que esses personagens encontram amplo e sério crédito inclusive entre os blogueiros-vaticanistas italianos que já foram considerados pessoas de respeito. Mistérios da fé", escreve Fabrizio D'Esposito, em artigo publicado por Il Fatto Quotidiano, 15-06-2020. A tradução de Luisa Rabolini.

Eis o artigo.

A pandemia e o Pecado Original, com letras maiúsculas. A engenharia social e a conspiração maçônica. Os "filhos das trevas" nas ruas para contestar Trump, emblema do Bem, após o assassinato de Floyd: a carta maniqueísta do já conhecido monsenhor Carlo Maria Viganò ao presidente estadunidense é acima de tudo um concentrado reacionário e clerical da direita que está em guerra contra o Papa Francisco há um lustro.

Além disso, o próprio Trump colocou seu selo imperial com um tweet grotesco: “Tão honrado pela incrível carta que o arcebispo me enviou. Espero que todos, religiosos ou não, a leiam". "Incrível", justamente. O próprio Trump não conseguia acreditar. Ser comparado ao chefe dos filhos da luz não é algo cotidiano. Já o remetente de várias cartas explosivas no crepúsculo ratzingeriano do primeiro Vatileaks que enredou a ambígua corte do cardeal Tarcisio Bertone, o arcebispo Viganò, ex-núncio apostólico nos Estados Unidos, é um dos pilares da heterogênea oposição ao misericordioso reformista Bergoglio. Suas invectivas antifranciscanas repicam por toda a rede on-line da direita clerical, dos EUA à Itália.

Após as acusações manipuladas e de explosão retardada ao papa sobre os abusos sexuais do cardeal Theodore McCarrick, agora Viganò agita também o Coronavírus contra o pontífice argentino, segundo ele o ápice de uma deep Church, veículo do diabo e, portanto, do Anticristo, como já fez o bispo cazaque Astana Athanasius Schneider, outro parceiro fariseu em nome da Doutrina. Schneider lembrou uma visão profética de Leão XIII em 1884, que "viu Satanás e legiões de demônios caírem sobre a Cátedra da verdade do Beato Pedro".

E é por isso que, de acordo com Viganò, e não apenas ele, Deus atingiu o mundo com a pandemia. Em uma entrevista em 30 de março ao The Remnant, quinzenal tradicionalista estadunidense, o ex-núncio disse que o Coronavírus é uma "consequência do pecado original", como a morte e as doenças. Uma punição para, na ordem, "aborto, divórcio, eutanásia, o horror do chamado casamento homossexual, as celebração da sodomia e as piores perversões, pornografia, corrupção dos pequenos, especulação das elites financeiras, profanação do domingo". Culpa dos indivíduos e "culpas das nações". Em alguns casos, convicções não muito distantes do recente pensamento do Emérito Bento XVI, que viu sinais do "poder espiritual do Anticristo" no casamento homoafetivo e no aborto.

Tudo isso acontece, para o bravo monsenhor, com a supina cumplicidade de Francisco, culpado de apostasia a tal ponto que seria necessário reconsagrar a basílica de São Pedro. Lendo Viganò, cabe perguntar-se por que a direita clerical não possui um líder credível e não cômico entre os militantes do antibergoglismo cruzado. Outro antipapa improvável é de fato o cardeal Raymond Burke, "comediante" igual a Viganò. E cabe perguntar-se por que esses personagens encontram amplo e sério crédito inclusive entre os blogueiros-vaticanistas italianos que já foram considerados pessoas de respeito. Mistérios da fé.

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