09 Junho 2020
"O fenômeno estadunidense é mais complexo e diz respeito à mistura explosiva entre a direita tradicionalista anti-Bergogliana e o fundamentalismo protestante, mas as consequências podem ser bastante significativas para o Vaticano".
O comentário é de Fabrizio D'Esposito, publicado por Il Fatto Quotidiano, 08-06-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
Desta vez "o ecumenismo do ódio" - copy Spadaro e Figueroa há três anos na Civiltà Cattolica – tem como emblema o Trump "bíblico" em frente à Igreja de St. John, o antigo reduto episcopal da capital estadunidense. O presidente que levanta a Bíblia nas horas mais dramáticas dos protestos pelo assassinato de George Floyd combina de maneira explosiva fé e suprematismo na campanha eleitoral dos Estados Unidos, em uma fase já marcada pelo lockdown pandêmico.
Como se isso não bastasse, Trump fez uma dobradinha, indo junto com sua esposa Melania ao santuário católico em Washington dedicado a São João Paulo II. Nesse ponto, chegou a forte e surpreendente condenação do arcebispo local Wilton Gregory, de origem afro-americana, que definiu o comportamento de Trump como "desconcertante e reprovável". Não somente. O próprio Papa Francisco foi duro com o presidente EUA, com uma clara referência ao influente lobby tradicionalista e prolife que contribuiu para a sua eleição: “Não podemos tolerar ou fechar os olhos para qualquer tipo de racismo ou exclusão e pretender defender a sacralidade de toda vida humana”. Ampliam-se, assim, as divisões no campo católico entre os que apoiam a visão “misericordiosa” do pontífice e aqueles que o odeiam em nome da Doutrina e de uma ideia guerreira da fé, que sente saudade das cruzadas, da missa em latim e é contra as migrações.
Obviamente, o fenômeno estadunidense é mais complexo e diz respeito à mistura explosiva entre a direita tradicionalista anti-Bergogliana e o fundamentalismo protestante, mas as consequências podem ser bastante significativas para o Vaticano. No mínimo porque o lobby conservador dos católicos dos EUA é um pilar de oposição a Francisco, e que em mais de uma ocasião até ameaçou o cisma. Na fila da frente do apoio a Trump estão os famigerados Cavaleiros de Colombo, Knights of Columbus, que administram o santuário em homenagem ao papa Wojtyla visitado pelo presidente.
Tão poderosos quanto a Opus Dei, os Cavaleiros no último conclave tentaram em vão eleger um "seu" papa. Um dos candidatos propostos por essa frente era o cardeal Timothy Dolan, arcebispo de Nova York, que alguns dias atrás reafirmou publicamente a "liderança" de Trump. O líder histórico é o Cavaleiro Supremo Carl A. Anderson, que já faz parte da diretoria do IOR e que possui um salário superior a um milhão de dólares por ano. Seu negócio é baseado em apólices de seguro.
A política dos Cavaleiros oscila entre fundamentalismo e oportunismo bipartido. De qualquer forma, eles sempre apoiaram candidatos republicanos nos Estados Unidos e no Vaticano receberam recentemente, no final de maio, o anúncio de que seu fundador Michael McGivney será beato. E como Gianluigi Nuzzi escreveu ontem na imprensa, o escândalo do prédio de Londres comprado com o dinheiro do Óbolo de São Pedro poderia ser o último ato da guerra "estadunidense" contra Francisco.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Vaticano. Entre os escândalos, o caso Floyd e Trump, a direita continua em guerra contra Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU