13 Junho 2020
Uma publicação católica conservadora provocou reações depois de publicar um vídeo no dia 11 de junho, referindo-se ao arcebispo afro-americano de Washington como “homossexual”, “marxista” e “rainha africana”.
A reportagem é de Jack Jenkins, publicada em Religion News Service, 11-06-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O Church Militant, um site católico conhecido pelo seu estilo editorial incendiário, e cuja missão é “combater o pecado, o diabo e o demoníaco”, publicou um vídeo que critica o arcebispo Wilton Gregory, o primeiro afro-americano a chefiar a Arquidiocese de Washington, pelos seus confrontos com o presidente Donald Trump.
Dom Wilton Gregory, arcebispo de Washington, nos EUA (Foto: NCR)
Michael Voris, fundador do Church Militant, se refere repetidamente a Gregory como “a rainha africana” ao longo do vídeo. Ele também acusa o arcebispo de mentir quando ele criticou o Santuário de São João Paulo II em Washington por receber Trump na semana passada.
A visita ocorreu um dia depois que centenas de manifestantes que protestavam contra o racismo foram dispersados – junto com clérigos episcopalianos – da Praça Lafayette, perto da Casa Branca. Pouco depois que os manifestantes foram dispersados, Trump posou para fotos enquanto segurava uma Bíblia na frente da Igreja Episcopal de São João.
Gregory chamou a visita de Trump ao santuário católico de “desconcertante e repreensível”.
“O Papa São João Paulo II foi um fervoroso defensor dos direitos e da dignidade dos seres humanos”, disse Gregory em um comunicado na semana passada. “Seu legado é um testemunho vívido dessa verdade. Ele certamente não toleraria o uso de gás lacrimogêneo e de outros impeditivos para silenciar, dispersar ou intimidar as pessoas para um momento fotográfico diante de um local de culto e de paz.”
O vídeo do Church Militant provocou reações rápidas da proeminente estudiosa católica Anthea Butler, que atua como professora de Estudos Religiosos e Estudos Africanos na Universidade da Pensilvânia.
Ela chamou o vídeo de racista.
“Como católica negra, estou chocada”, disse Butler ao Religion News Service. “Em um momento de divisão racial neste país, o Church Militant produziu essa diatribe racista na esperança de criar mais fissuras dentro da Igreja. Eles estão dispostos a passar por cima dos corpos das pessoas negras para promover essa imundície.”
Ela acrescentou: “Fazer isso neste momento de dor no nosso país é um tapa na cara de todos os católicos negros dos Estados Unidos”.
Butler observou que o Church Militant, que tem uma longa história de vídeos inflamatórios, atua dentro da Arquidiocese de Detroit. Ela pediu que o arcebispo Allen Vigneron, chefe da arquidiocese, condene o vídeo e o Church Militant, defendendo que qualquer coisa menos do que isso é um desserviço aos católicos negros.
“Ao permitir que o Church Militant continue com esse tipo de diatribes racistas na sua arquidiocese, Vigneron está basicamente dizendo aos católicos negros de Detroit que eles não importam”, disse ela.
Representantes da Arquidiocese de Washington, da Arquidiocese de Detroit e do Church Militant não responderam imediatamente aos pedidos de comentários.
O Pe. James Martin, jesuíta que foi criticado repetidamente pelo Church Militant várias vezes ao longo dos anos, também descreveu o vídeo como “discurso racista de ódio” e pediu que o arcebispo de Detroit responda a ele.
“O arcebispo Vigneron ou alguém da Conferência dos Bispos dos EUA condenará esse discurso de ódio racista?”, tuitou o padre jesuíta.
[Nota do IHU: Mais tarde, a Arquidiocese de Detroit emitiu uma nota condenando os ataques racistas e homofóbicos contra Dom Gregory, mas sem mencionar o grupo Church Militant.]
I'm glad that @ArchofDetroit has condemned these racist and homophobic attacks but disappointed it doesn't mention where they originated: @Church_Militant. Why not name the group? Perhaps it's not wanting to draw more attention to a hate group but perhaps it's fear of angering... https://t.co/ZcXxTk16jN
— James Martin, SJ (@JamesMartinSJ) June 12, 2020
Jamie Manson, editor e colunista do National Catholic Reporter, divulgou o vídeo no Twitter.
“O discurso de ódio de Michael Voris é uma feia colisão de racismo e homofobia”, tuitou ela, observando que junho é o mês do Orgulho LGBT.
Voris faz várias acusações sem fundamento no vídeo, como a indicação de que Gregory faz parte de uma “cabala gay” dentro da Igreja Católica.
Voris também repreende Gregory por emitir uma declaração na qual ele se referiu ao uso de gás lacrimogêneo contra manifestantes na Praça Lafayette, afirmando, contudo, que não se utilizaram bombas de gás lacrimogêneo.
No entanto, embora o Serviço de Parques dos EUA afirmou inicialmente que não se usou gás lacrimogêneo durante a expulsão dos manifestantes, autoridades da agência disseram mais tarde que a declaração foi um “erro”.
Cartuchos rotulados como gás “CS” – que são quase universalmente descritos como gás lacrimogêneo – também foram encontrados no local por jornalistas.
Butler disse que o vídeo a lembra do tipo de racismo que muitos católicos negros experimentam nos Estados Unidos.
“Vemos a história do racismo como uma história protestante”, disse ela. “Nós não a vemos como uma história católica. Mas ela é uma história católica.”
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EUA. Grupo católico conservador que apoia Trump publica vídeo racista e homofóbico contra arcebispo de Washington - Instituto Humanitas Unisinos - IHU