14 Novembro 2016
Um pastor com "cheiro de ovelha" ou um "guerreiro cultural" cheirando à política partidária. Essa é a escolha que os Bispos norte-americanos terão de enfrentar em sua assembleia da próxima semana, na qual irão eleger as suas lideranças para os próximos anos.
A reportagem é de Cameron Doody, publicada por Religión Digital, 13-11-2016. A tradução é de Henrique Denis Lucas.
Reunido em Baltimore desde esta segunda-feira, 14-11-2016, o episcopado norte-americano terá de eleger um novo líder após a retirada de Joseph Kurtz Arcebispo de Louisville, ao término de seus três anos de mandato. A tradição mandaria que sua cadeira fosse ocupada pelo então vice-presidente, o Cardeal Arcebispo de Galveston-Houston, Daniel DiNardo, e que este cargo, por sua vez, passaria para um dos outros nove nomes na lista. Mas a tradição nem sempre é um guia confiável em tempos de mudanças radicais. E pode ser que ela não pese tanto em um episcopado cuja transição, as vezes difícil, à era Francisco, agora se soma ao terremoto Trump.
"Seja quem for o eleito, a eleição mandará uma mensagem clara: um episcopado que quer seguir as mesmas estratégias de sempre ou que optou por uma mudança dramática". Estas palavras do historiador Massimo Faggioli definem perfeitamente o que está em jogo na votação para o novo presidente da Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos.
O Cardeal DiNardo seria o candidato para dar continuidade ao trabalho que já estava sendo desenvolvido. Tal e como ele mesmo deixou claro na assembleia dos bispos do ano passado, quando se opôs às tentativas de outros prelados de adaptar as pautas dos bispos sobre responsabilidade política ao magistério de Francisco - e retorno ao populismo político -, no documento Formando a Consciência para ser Cidadãos Fiéis, redigido em 2007.
DiNardo foi compreensivo à causa dos 13 Cardeais que se queixaram da metodologia e da temática do Sínodo sobre a Família de 2015, cujo resultado foi a escrita da exortação apostólica Amoris Laetitia.
Na lista dos 10 candidatos à presidência da Conferência também aparecem outros nomes de tendência conservadora, como o Arcebispo da Filadélfia, Charles Chaput, que criticou severamente o Partido Democrata durante a campanha e manifestou a sua simpatia por Donald Trump.
Mas também há outros candidatos que se apropriaram da agenda de Francisco marcada para a Igreja, como é o caso de José Gómez, Arcebispo de Los Angeles, ou John Wester, Arcebispo de Santa Fe, no Novo México. Ambos os prelados, por exemplo, insistiram muito na campanha presidencial para que os eleitores católicos, na hora de irem às urnas, pensassem em toda a gama de doutrinas católicas sociais e não apenas nas questões mais controversas como o aborto e a liberdade religiosa.
É surpreendente que na lista para presidente não esteja incluído nenhum dos homens de confiança de Francisco, como os novos cardeais Blase Cupich, de Chicago, e Joseph Tobin, agora de Newark. Este fato, no entanto, é facilmente explicado: os candidatos foram eleitos no fim do mês passado, quando ainda não haviam sido publicados os nomes dos novos cardeais.
Em todo caso, a eleição pode ser lida, sem muito esforço intelectual, como uma espécie de "referendo" entre a proposta de diálogo de Francisco e a confrontação de Trump.
A aposta dos Bispos pela presidência do Cardeal Timothy Dolan em 2010, quando o cargo correspondia ao Bispo Gerald Kicanas, de Tucson, por ser vice-presidente, demonstra que as regras podem ser quebradas. E se os bispos acham que já podem ficar aliviados agora que não haverá uma democrata supostamente tão hostil a eles na Casa Branca, talvez decidam finalmente priorizar as causas da justiça social -no sentido mais amplo dessas palavras- que pesam tanto no coração do atual pontífice.
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Bispos dos EUA escolhem entre fidelidade a Francisco ou "modelo Trump" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU