Igrejas perdoam cientistas franceses que degradaram african@s

Lockdown em Mamelodi, África do Sul. Foto: GCIS | GovernmentZA

Mais Lidos

  • “A América Latina é a região que está promovendo a agenda de gênero da maneira mais sofisticada”. Entrevista com Bibiana Aído, diretora-geral da ONU Mulheres

    LER MAIS
  • A COP30 confirmou o que já sabíamos: só os pobres querem e podem salvar o planeta. Artigo de Jelson Oliveira

    LER MAIS
  • A formação seminarística forma bons padres? Artigo de Elcio A. Cordeiro

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

20 Abril 2020

A Conferência das Igrejas de Toda a África emitiu nota expressando consternação e dizendo-se chocada com a manifestação de dois cientistas franceses em canal de televisão sugerindo que a África poderia ser um campo de testes para a vacina do covid-19.

A informação é de Edelberto Behs, que foi professor e coordenador do curso de Jornalismo da Universidade do Vale do Rio dos Sinos Unisinos.

“As observações demonstram a degradação da dignidade africana com base na imagem da África como fonte e alvo de todos os tipos de problemas”, lamenta a nota. As igrejas apelam para que se desenvolva uma “imagem mais realista e positiva de uma África que nós, que vivemos aqui, experimentamos todos os dias”.

Num debate ao vivo transmitido pela emissora francesa LCI na quarta-feira, 1. de abril, entre o chefe da unidade de terapia intensiva do hospital parisiense Cochin, Jean-Paul Mira, e o diretor do Instituto de Saúde e Pesquisa Médica da França, Camille Locht, os dois comentavam sobre o uso da vacina BCG como método de prevenção ao coronavírus. Foi quando Mira perguntou ao colega:

- Se eu pudesse ser provocativo, não deveríamos fazer este estudo na África, onde não existem máscaras, tratamento ou terapias intensivas, um pouco como foi feito, a propósito, para certos estudos sobre a Aids ou com prostitutas?

Loch respondeu:

- Você está certo. Estamos pensando em um estudo na África. Isso não nos impede, paralelamente, de também pensar em um estudo na Europa e na Austrália.

O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom Ghebreyesus, reagiu com veemência:

- Esses tipos de comentários racistas não contribuem em nada para avançar. Vão contra o espírito de solidariedade. A África não pode e não será um campo de testes para nenhum tipo de vacina. O legado da mentalidade colonial deve acabar.

No Twitter, o jogador de futebol franco-senegalês Demba Ba, escreveu:

- Bem-vindos ao Ocidente, onde um branco se crê tão superior que o racismo e a debilidade se tornam banais. É hora de nos levantarmos!

Outro jogador, o camaronês Samuel Eto’o, postou no Instagram:

- Filhos da p... A África não é o seu playground!

Em entrevista à revista francesa Maroc Hebdo, publicada no Marrocos, Mira pediu desculpas e admitiu que não deveria ter feito “perguntas estúpidas”. Mas disse que foi mal interpretado pelos que o criticaram.

A declaração da Conferência das igrejas africanas, além do choque, expressou perdão aos protagonistas da manifestação racista. “Estamos cientes do fato de que os dois cientistas franceses reconheceram seu erro e desde então pediram desculpas. Somos chamados a aceitar o pedido de desculpas e perdoá-los”.

E acrescentou: “Nós, como cristãos, devemos superar a tentação de guardar rancor não apenas contra eles, mas também contra suas nações e continentes”, pois não se deve ter crenças estereotipadas contra essas pessoas ou de suas origens, “pois isso estaria comprometendo o mesmo pecado que estamos acusando-os de cometer contra nós”.

A Conferência das Igrejas de Toda a África é uma irmandade ecumênica que congrega 155 igrejas, representando mais de 140 milhões de cristãos em 42 países africanos.

Leia mais