18 Abril 2020
A internet das coisas, que ia conectar tudo com tudo, criou expectativas incomensuráveis. Contudo, Joe Barkai, vice-presidente de pesquisa em inteligência artificial da IDC, identifica duas áreas em que nossas vidas já mudam: nosso corpo e como movimentá-lo pelo espaço-tempo. A hiperconexão de máquinas e humanos está desmaterializando a comunicação ao transformar átomos (o DVD de um filme) em bytes (as plataformas de séries e cinema). E também muda o transporte de átomos ao nos dizer, com um aplicativo no celular, como ir de um ponto para o outro do planeta da forma mais rápida, barata e sustentável. Outros algoritmos estão oferecendo informação a todo momento, nesse momento, não só para curar doenças, mas também para preveni-las e personalizar qualquer tratamento.
A entrevista é de Lluís Amiguet, publicada por La Vanguardia, 17-04-2020. A tradução é do Cepat.
Quanto falta para que um robô faça o trabalho da maioria?
Dentro de algumas décadas, quase todos os trabalhos que hoje são realizados pela força de trabalho dos países avançados serão feitos pela inteligência artificial.
Por exemplo.
Os agentes de viagens. Lembra-se deles? Pois havia milhares em todo o mundo e hoje foram reduzidos a algoritmos. Há muitas outras profissões também amortizadas por eles.
Acredita que os algoritmos os substituem? Eu sinto falta dos agentes de viagens.
Porque o algoritmo de um buscador de viagens não enriquece seu sonho de viajar, nem tem a sua empatia, nem sairá do roteiro para lhe recomendar uma opção, como um bom agente fazia.
O gosto pela viagem começava na agência.
E hoje transformamos o mundo em uma imensa fábrica, onde tudo está conectado com tudo. Substituirão os humanos com algoritmos, assim como substituíram os agentes de viagens.
Quem será substituído antes?
Os robôs estão substituindo com mais facilidade a eles que a elas, porque as mulheres têm e desenvolvem mais habilidades de relação insubstituíveis por máquinas.
As profissões de empatia são as do futuro?
Um robô nunca se relacionará melhor com um humano que outro humano. E as mulheres costumam ser melhores escutando e se simpatizando, porque possuem menos ego para defender.
O que os robôs fazem pior?
O que é menos difícil para os humanos: andar, sentir... E, ao contrário, para nós é mais difícil calcular e automatizar. Mas a eficiência dos robôs não é tão diferente da dos seres vivos: é a sua capacidade de se adaptar às mudanças.
Como a consegue?
Percebem essas mudanças do meio com sensores e se contatam com outros, conectividade, a todo momento, on-line: é a internet das coisas.
Conectar que coisas?
E para quê? Esse é o ponto. Porque conectar por conectar não serve para nada. Conectar a torradeira com o vaso sanitário, por exemplo, é inútil.
Não lhe soa divertido?
Essa conexão é uma brincadeira feita entre engenheiros, porque a conectividade de todos os tipos de aparelhos com sensores hoje é barata e fácil, mas não necessariamente produtiva.
Onde gera valor?
Que a escova de dentes envie dados para a geladeira não serve para nada, mas você agradecerá que seu ônibus se sincronize com o trem para chegar ao aeroporto a tempo.
Isso, sim, parece útil.
E se há um engarrafamento por obras, seu itinerário se reajustará com os novos horários, para que mais uma vez seja o mais barato, rápido e sustentável.
É um exemplo real ou só teórico?
É o futuro do transporte. Digamos que seu patinete estará conectado com carros compartilhados, que saberão os horários dos trens e ônibus necessários para otimizar seu percurso e também sincronizarão as tarifas.
Só terei que escolher o percurso, duração, preço e impacto ecológico?
Com um aplicativo no celular poderá escolher tudo isso e fazer a combinação, de um patinete a um helicóptero.
Onde mais a conectividade das coisas e a inteligência artificial vão criar valor?
Outros grandes campos são a ortopedia, a farmacologia, a dietética... A saúde em geral e mais em situações de emergência.
Por exemplo.
Não só farmácia, também próteses visuais ou auditivas, implantes, transplantes...
Como?
Há muito tempo, fala-se em personalizar a medicina, mas o que teremos são remédios ajustados a cada pessoa, em cada momento. Não só a partir de cada genótipo – conhecê-lo é cada dia mais barato -, que permite um primeiro mapa genético de cada um de nós.
Quanto custa tudo isso?
Por 200 euros, decifram o seu DNA. Isso já não é novidade.
O que é o novo?
Que esses aplicativos de saúde permitirão que seus tratamentos incorporem, além disso, todas as variações de cada um de nossos fenótipos, ou seja, a expressão desses genes e a epigenética, além da influência do ambiente sobre esses códigos genéticos.
Isso é mais que o histórico clínico?
O histórico é a pré-história. Já estou lhe falando de uma realidade na pesquisa farmacológica de vanguarda na Califórnia: conhecer o seu corpo melhor que você e cada interação com o ambiente que lhe afete. E treiná-lo.
Como? Para quê?
Adaptar as receitas ou as próteses a cada paciente já é simplesmente uma questão de propor, mas o que se está descobrindo é que podemos também treinar nosso sistema imunológico para que combata as doenças às quais cada um está mais predisposto.
Uma vacina pessoal?
Melhor: uma resposta preventiva para cada disfunção. E devemos nos apressar, porque a população envelhece. Esses algoritmos vão dizer a sua dieta, horas de sol, exercício, meditação... Tudo o que nos mantém saudáveis.
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“Os algoritmos vão dizer a sua dieta, horas de sol, exercício, meditação”. Entrevista com Joe Barkai - Instituto Humanitas Unisinos - IHU