02 Abril 2020
"Quanto mais tempo durar a pandemia de coronavírus mais tempo será necessário para a retomada da produção de bens e serviços e maiores serão os impactos sobre a economia. A melhor alternativa é fazer um isolamento rigoroso para romper o círculo de propagação do contágio e controlar o surto da doença", escreve José Eustáquio Diniz Alves, doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE, em artigo publicado por EcoDebate, 01-04-2020.
A pandemia de Covid-19 que teve o epicentro na China no mês de fevereiro se espalhou pelo mundo no mês de março, atingiu mais de 200 países e territórios e apresentou taxas crescentes tanto no número de casos notificados quanto no número de mortes.
O gráfico abaixo mostra que no dia 01 de março havia 86,6 mil pessoas infectadas no mundo, passou para 169,6 mil casos em 15 de março (um crescimento médio diário de 4,6% ao dia na primeira quinzena) e atingiu 858 mil casos em 31 de março (um crescimento médio diário de 10,9% ao dia entre 16 e 31 de março). O número global de mortes que era de 3,05 mil em 01 de março, passou para 6,5 mil (um crescimento médio diário de 5,4% ao dia) e atingiu 42,1 mil mortes em 31 de março (um crescimento médio diário de 12,5% ao dia).
Portanto, não só houve uma difusão da pandemia, mas também uma aceleração do surto. O número de casos foi multiplicado por dez vezes e o número de mortes foi multiplicado por 14 vezes, no espaço temporal de um mês. Isto indica que o impacto da doença continuará forte no mês de abril na maioria dos países.
(Fonte: WorldOmeteres)
Porém, este quadro global não significa que não haja países que estejam estabilizando o processo de difusão da pandemia. Os gráficos abaixo mostram os exemplos de países que controlaram a expansão do surto e outros que já chegaram ao pico da pandemia. A China – origem da pandemia – teve o pico dos casos no dia 12 de fevereiro e o pico das mortes no dia 23 de fevereiro. A partir destas datas os casos e as mortes diminuíram e a China conseguiu reduzir o ritmo para próximo de zero.
O outro país que conseguiu estabilizar a pandemia é a Coreia do Sul, que ocupava o segundo lugar no número de casos no início de mês, mas caiu para o décimo quarto lugar no final de março. O pico dos casos na Coreia foi em 03 de março e o pico das mortes foi em 24 de março. Nota-se que a Coreia do Sul tem uma taxa de letalidade bastante baixa, apenas 1,7% em 31 de março de 2020.
A Itália que já ultrapassou a casa de 100 mil casos notificados e assumiu a liderança global do número de mortes (12,4 mil em 31/03/2020), parece que já chegou ao pico do surto no país. O pico de casos ocorreu no dia 21/03 e o pico das mortes aconteceu no dia 27/03. A Itália mantém um patamar elevado de casos e mortes, mas parece que o pior já passou.
A Espanha assumiu o terceiro lugar no número de casos (com 96 mil em 31/03) e o segundo lugar no número de mortes (com 8,5 mil em 31/03), mas também parece que atingiu o pico da pandemia. O pico do número de casos ocorreu no dia 26/03 e o pico do número de mortes ocorreu no dia 30/03. Ainda não está claro se vai haver redução do surto em abril, mas parece que a Espanha chegou ou está chegando ao pico da pandemia.
(Fonte: WorldOmeteres)
No caso brasileiro, o pico da pandemia parece ainda distante. No dia 01 de março havia apenas 2 casos notificados e passou para 5.717 em 31 de março. A primeira morte aconteceu no dia 17/03 e o número acumulado chegou a 201 no dia 31/03. Uma das dificuldades para a análise dos casos brasileiros é a alta incidência de casos não notificados por falta de testes. Como o governo está providenciando os kits para realizar os testes, a tendência é haver um grande número de casos e também de mortes no mês de abril.
Os gráficos abaixo mostram o crescimento acumulado dos casos e das mortes (gráfico à esquerda), a variação diária dos casos e das mortes (gráfico do centro) e a variação percentual diária (gráfico à direita). O Brasil tem um longo caminho pela frente para controlar a epidemia.
(Fonte: WorldOmeteres)
Quanto mais tempo durar a pandemia de coronavírus mais tempo será necessário para a retomada da produção de bens e serviços e maiores serão os impactos sobre a economia. A melhor alternativa é fazer um isolamento rigoroso para romper o círculo de propagação do contágio e controlar o surto da doença. Com certeza, o mês de abril vai ser decisivo para o controle da pandemia.
Referências:
ALVES, JED. A pandemia de Coronavírus e o pandemônio na economia internacional, Ecodebate, 09/03/2020.
ALVES, JED. “A recessão em 2020 é inexorável e a palavra-chave para as pessoas é sobrevivência”, Correio da Cidadania, 21/03/2020.
ALVES, JED. O crescimento da pandemia de coronavírus e a redução da poluição ambiental, Ecodebate, 24/03/2020.
WorldOmeteres: Para acessar clique aqui.
ALVES, JED. A pandemia de Covid-19 avançou rapidamente na última semana, Ecodebate, 30/03/2020.
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O avanço da pandemia de Covid-19 no mundo e no Brasil no mês de março - Instituto Humanitas Unisinos - IHU