28 Março 2020
O contágio no Vaticano se move sub-repticiamente, invisível, sem ser anunciado. E, dentro dos Muros Leoninos, encontrou um ambiente favorável, semeando consequentemente muito medo entre os 400 residentes, em sua maioria bispos de uma idade já avançada.
A reportagem é de Franca Giansoldati, publicada em Il Messaggero, 27-03-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Os cardeais que podiam já foram embora de Roma, outros vivem barricados em seus apartamentos, mesmo que alguns raros prelados ostentem uma invejável segurança, afirmando que todo esse caos passará logo, como o prefeito dos Bispos, o canadense Marc Ouellet, que, nessa quinta-feira, também fez uma reunião de caráter ordinário, como se nada estivesse acontecendo. Aliás, foi ele mesmo quem insistiu que o papa recebesse aquele grupo de bispos franceses que, depois, se confirmou que estavam infectados.
É difícil dizer de onde o vírus partiu. Ou dos Museus Vaticanos, ou das idas e vindas contínuas de pessoas entrando e saindo do pequeno Estado, ou dos convidados ou dos tantos religiosos que são recebidos. O fato é que, agora, o contágio já é evidente.
Depois que o primeiro funcionário da Secretaria de Estado testou positivo e agora está hospitalizado no Hospital Gemelli, surgiu um segundo caso. Desta vez, o religioso em questão se chama Pe. Angelo Tognoni, é outro funcionário da Secretaria de Estado, mesmo que não resida em Santa Marta, mas sim em um mosteiro na Via Aurelia, o Instituto dos Servos do Imaculado Coração de Maria.
Nessa comunidade, agora, também pode haver surtos de contágio, mas os frades questionados se recusam a fazer qualquer comentário, considerando supérflua essa informação.
Em todo o caso, trata-se de mais um sinal que indica como a difusão da infecção dentro do mundo religioso seguiu em frente nessas semanas.
Neste ponto, foram realizados diversos testes no Vaticano para avaliar se há casos assintomáticos entre os funcionários da Secretaria de Estado e da Casa Santa Marta. O papa também passou pelo exame pela segunda vez e, felizmente, ainda deu um resultado negativo.
No entanto, nestas horas, levanta-se a grande questão sobre a sua incolumidade. Um tema enorme, que continua em aberto, apesar de ele ser o primeiro a desdramatizar e a rejeitar sistematicamente a ideia de se mudar por alguns meses para o apartamento pontifício, onde seus antecessores haviam morado antigamente. Uma moradia da qual Bergoglio nunca gostou, ampla e espaçosa demais, mas, acima de tudo, isolada demais.
Dizem que ele confidenciou para um amigo que ele não tem vontade de mudar os seus hábitos e que, naquele apartamento, haveria muitos inconvenientes para o seu caráter aberto, acostumado a sempre ter pessoas ao seu lado.
No entanto, desde que o coronavírus cruzou o limiar de Santa Marta, a vida também mudou para ele. Para começar, ele é forçado a fazer refeições sozinho no quarto e a limitar a distância entre si e os convidados, embora continue dando a mão a eles (previamente desinfectada) ao término das audiências matinais.
Nessa quinta-feira de manhã, ele se encontrou com Marco Impagliazzo, da Comunidade de Santo Egídio, no Palácio Apostólico (e não em Santa Marta, onde estava sendo realizada uma higienização): “Ele me pareceu muito sereno. Não falamos do coronavírus. Mas ele me fez muitas perguntas sobre a vida dos idosos, como eles reagem, como são ajudados em Roma, quais necessidades eles têm neste período”.
Na tarde dessa sexta-feira, o papa rezou pelo fim da epidemia com uma oração, uma bênção extraordinária Urbi et Orbi e a possibilidade de receber a indulgência plenária por parte de quem participasse espiritualmente.
A praça estava completamente vazia. Nem mesmo a criatividade surpreendente dos filmes de Sorrentino jamais poderia ter imaginado tal cenário. Ao lado do papa, alguns clérigos e o crucifixo milagroso que, em 1500, parou a peste.
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Vaticano, um segundo infectado em Santa Marta. Papa: “Não vou me mudar” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU