24 Março 2020
"Mas este ano, pela primeira vez (a menos que aconteça um milagre), a Sexta-feira Santa será deserta, na costa de Sorrento e em outras áreas da Itália, do Abruzzo, da Puglia e da Sicília. Nunca aconteceu antes. Um vazio que já é sentido nesta Quaresma de pandemia de clausura".
O comentário é de Fabrizio D'Esposito, publicado por Il Fatto Quotidiano, 23-03-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis o comentário.
Não é o hino da Itália, nem uma canção de ontem ou de hoje. Mas o canto do Miserere na versão do mestre Saverio Selecchy (1708-1788). Aconteceu ontem em Piano di Sorrento, na costa da província de Nápoles: uma terra conhecida também pelas tradicionais procissões dos encapuzados nos dois dias centrais da Semana Santa, quinta e sexta-feira. Às quinze para as sete, quando o dia se aproxima do entardecer das sacadas e terraços ressoou a mesma execução do Miserere, anteriormente reproduzida. O canto se espalhou como um manto sobre as ruas vazias, as mesmas que são percorridas todos os anos, na noite da Sexta-feira Santa, pelos encapuzados de pretos da Arquiconfraria da Morte e da Oração. "Miserere mei, Deus, secundum magnam misericordiam tuam". "Tende piedade de mim, ó Deus, segundo a tua grande misericórdia."
Durante séculos, os confrades do coral de Miserere participam na procissão dos encapuzados que carrega os símbolos da Paixão e Morte de Jesus, bem como as estátuas do Cristo Morto e de Nossa Senhora das Dores. Mas este ano, pela primeira vez (a menos que aconteça um milagre), a Sexta-feira Santa será deserta, na costa de Sorrento e em outras áreas da Itália, do Abruzzo, da Puglia e da Sicília. Nunca aconteceu antes. Um vazio que já é sentido nesta Quaresma de pandemia de clausura.
De fato, esses são os dias em que os organizadores das procissões acertariam os detalhes das saídas: as roupas a serem distribuídas, as lanternas a serem polidas, os coros a serem ensaiados, a preparação das estátuas e assim por diante. Disso decorre os muitos significados de Miserere "cantado" ontem das sacadas e terraços.
Outra tragédia vem à memória, quando a versão do Maestro Selecchy foi cantada de uma colina em Chieti em direção às ruínas de L'Aquila. Era a Sexta-feira Santa de 2009, o ano do terremoto.
Miserere é um dos salmos atribuídos a Davi, rei de Israel. O número cinquenta. E é um clamor de piedade por um crime feroz: Davi desejou Bate-Seba, esposa de seu soldado mais fiel, Urias, o hitita, e deitou-se com ela, que ficou grávida. O rei então fez com que Urias morresse em batalha. O bebê nasceu, mas morreu. Davi pediu perdão e casou-se com Bate-Seba, que lhe deu outro filho: Salomão.
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Das sacadas se pode cantar também o Miserere, o salmo do arrependimento do rei Davi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU