23 Janeiro 2020
Dom Emmanuel Gobilliard, bispo auxiliar de Lyon, assistiu ao julgamento de Bernard Preynat. Ele aborda as iniciativas que a diocese de Lyon tomou para evitar tais abusos sexuais. E discute qual deve ser a reação dos padres que receberão essas confidências durante uma confissão.
A entrevista é de Pierrick Baudais, publicada por Ouest-France, 21-01-2020. A tradução é de André Langer.
Pelo menos oito anos de prisão foram exigidos, na semana passada, para o ex-padre Bernard Preynat, julgado por cometer agressões sexuais contra dez vítimas, entre 1971 e 1991, enquanto era o capelão de um grupo de escoteiros no Rhône. A decisão do Tribunal Penal de Lyon será tomada no dia 16 de março.
Os abusos de Bernard Preynat, que ele reconheceu em grande parte durante esse julgamento, estão na origem do julgamento do cardeal Philippe Barbarin, condenado por não ter denunciado as ações desse padre. A decisão do tribunal de apelação de Rhône sobre o arcebispo de Lyon será tomada no dia 30 de janeiro. Na primeira instância, este último foi condenado a seis meses de detenção com a condicional.
Na semana passada, dom Emmanuel Gobilliard, bispo auxiliar de Lyon, assistiu ao julgamento de Bernard Preynat. Que lições tira desse julgamento? Realmente ocorreu a conscientização sobre os erros da Igreja em relação à pedofilia, o que algumas vítimas duvidam? Ele responde às nossas perguntas.
Se um bispo tivesse conhecimento hoje de agressões como essas recriminadas em Bernard Preynat, qual seria sua reação?
Posso lhe falar sobre a minha reação. Recentemente, tive que fazer relatórios para o promotor. Assim que houver uma suspeita de infração sexual, contra um menor ou um adulto, eu me dirijo ao escritório do promotor. É ele quem decide o que fazer na sequência. Um dos erros da Igreja foi agir por conta própria, e não segundo a lei. Há pessoas cujo trabalho é investigar ou julgar: a polícia, os policiais ou os magistrados. Devemos confiar neles.
A Igreja deu-se conta da gravidade dos abusos sexuais cometidos pelos sacerdotes?
Sim, e não faz sentido fazer grandes declarações sobre o assunto, mas explicar o que estamos fazendo. Na diocese de Lyon, criamos uma plataforma (preventionabuseglise.fr) na qual transmitimos doze vídeos para dar a palavra a especialistas (polícia, psiquiatra, magistrado, teólogo...), mas também às vítimas. Elas fazem parte das quatro formações obrigatórias que organizamos para o “pessoal” da diocese: padres, diáconos e leigos. Seiscentas pessoas viram esses vídeos e foram levados, eles mesmos, a organizar noites de conscientização sobre o assunto. Quanto mais sensibilizados são os cristãos, menos esses abusos existirão e permanecerão ocultos.
Bernard Preynat, durante o seu julgamento, admitiu ter falado de seus abusos a vários confessores que, no entanto, lhe concederam a absolvição. Isso é possível?
Estou muito surpreso que ele tenha falado do que havia feito de maneira precisa. Fui reitor de um santuário em Puy-en-Velay, onde ouvi a confissão de muitos peregrinos. Falei com vários padres que costumavam ouvir confissões. Nunca recebemos confissões específicas de atos pedófilos. Na confissão, alguns podem falar de pecados da carne, de atos impuros e até de masturbações. Podemos então fazer perguntas abertas, mas nós não somos psiquiatras nem psicólogos. A confissão continua sendo um sacramento de reconciliação. Proclamamos a palavra de Deus. Vamos manter este santuário que é a confissão.
O que um padre pode fazer se ouvir abusos sexuais ou outro crime em confissão?
Ele pode recusar a absolvição por falta de contrição. A absolvição deve estar condicionada à contrição e à reparação, que neste caso envolve ir à justiça. Se a pessoa se apresentar à justiça, abre-se um caminho para a absolvição. Pessoalmente, aconteceu de reencontrar uma pessoa para a absolvição. Ela tinha dado esse passo em direção à justiça, depois de conversar comigo sobre um crime em confissão.
O Instituto Humanitas Unisinos – IHU promove o seu X Colóquio Internacional IHU. Abuso sexual: Vítimas, Contextos, Interfaces, Enfrentamentos, a ser realizado nos dias 14 e 15 de setembro de 2020, no Campus Unisinos Porto Alegre.
X Colóquio Internacional IHU. Abuso sexual: Vítimas, Contextos, Interfaces, Enfrentamentos
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Abusos sexuais na Igreja: “Devemos confiar na polícia e nos magistrados” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU