02 Dezembro 2019
"L'Italia nel Novecento. Dalla sconfitta di Adua alla vittoria di Amazon” (Itália no século XX. Da derrota de Adua à vitória da Amazon, em tradução livre) é o título do manual de história recém-publicado pelo historiador Miguel Gotor (Einaudi) e a escolha da empresa de vendas digitais Amazon, fundada em 1994 por Jeff Bezos , como ícone do novo milênio pareceu na última sexta-feira realmente oportuna. Pela primeira vez, de fato, as manifestações das Sextas-feiras para o futuro, as greves dos jovens inspiradas pela adolescente ativista sueca Greta Thunberg contra as mudanças climáticas, cruzaram-se em muitas cidades do mundo, dos Estados Unidos à Itália, Turim e Milão, com a Black Friday, o dia tumultuado de assaltos às lojas, em busca de descontos.
A reportagem é de de Gianni Riotta, publicada por La Stampa, 30-11-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
A multidão do consumismo, em busca de alguma poupança em tempos de crise econômica e trabalho mal remunerado, dividiu as calçadas, em frente às vitrines brilhantes das lojas, entre slogans, letreiros, pacotes cheios de eletrodomésticos e pacotes vazios em sinal de protesto, entre jovens que contestam a corrida ao consumo em nome de uma austeridade ambientalista e transeuntes apressados às lojas de celulares com 50% de desconto. A Black Friday, data das compras que se segue à quinta-feira de novembro consagrada nos EUA ao Thanksgiving, a Ação de Graças, nasceu no início dos anos 1820, um século atrás, com os saldos prometidos em Nova York pelas lojas de departamento da Macy's e, trinta anos depois, é a polícia da Filadélfia que cunhou o termo Sexta-feira Negra, Black Friday, pelas 24 horas de compras, passeios, encontros no centro da cidade. A definição adquire - o verbo tem propositalmente um duplo sentido - o significado de consumismo extremo, com as imagens transmitidas pela TV, dos clientes que arrancam das mãos de outros as ofertas mais vantajosas, talvez depois de uma noite passada ao relento na fila, para entrar na frente nos shopping centers.
Na última semana, a Black Friday finalmente cruzou com a sexta-feira de Greta e seus colegas, que escolheram o dia da antiga penitência e jejum dos cristãos para nos lembrar do preceito indispensável de não viver acima de nossos meios e considerar o planeta Terra como casa comum, da qual é impossível se mudar rumo a climas mais salubres. Primeira geração a escapar da miséria crônica dos antepassados, dos baby boomers, nascidos entre 1946 e 1964, que eventualmente celebraram na Black Friday a ilusão de que um objeto seria suficiente para a felicidade embora, antes, tenham sido justamente a turma da contestação ao bem-estar, a favor da frugalidade. Em 1960, quando o estudioso Paul Goodman dedicou seu famoso ensaio à "Juventude Absurda", muitos jovens se sentiram orgulhosos da contradição moral que impunham, das virtudes que elevavam contra a hipocrisia corrente no pós-guerra nos EUA e na Europa.
Na última semana, na Black Friday de 2019, outras gerações se confrontaram, os mais jovens da Geração Z a reivindicar uma Terra limpa, a Geração X, os nascidos entre 1960 e 1980 e os Millennials dos nascidos por volta do final do século. Não se trata de forma alguma de uma cruzada entre Bons-Maus, em cada geração existem ambientalistas e consumistas, nem quem compra numa liquidação é criminoso, geralmente apenas uma pessoa que não tem alternativa para um bem necessário.
A mídia estaria errada ao reduzir o importante debate em andamento a um duelo entre Velhinhos-Garotada, esquecendo que entre os Velhinhos há líderes ambientalistas como Barry Commoner e Rachel Carson, e uma visita à mídia social Tik Tok confirma que também na Geração Z tem quem ama o desperdício. Mas a multidão de denominações, siglas políticas, compras e ética que eclodiu na última semana tem uma moral clara: um pacote enfeitado não vale uma floresta secular, o último gadget conta menos de um leão ainda em liberdade e podemos fazer a nossa vida coexistir com aquela da natureza.
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Terra limpa ou consumismo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU