Sínodo da Amazônia destaca a experiência latino-americana

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19 Outubro 2019

Ter um papa que fala a mesma língua tem sido inspirador: “Com Francisco, falamos a partir do coração”.

A reportagem é de Mélinée Le Priol e Nicolas Senèze, publicada por La Croix International, 18-10-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Os debates na assembleia especial do Sínodo dos Bispos sobre a Amazônia mostram que, desde a eleição do Papa Francisco, a sólida tradição eclesial latino-americana encontrou o seu espaço na Igreja Católica.

O padre Agenor Brighenti estuda teologia latino-americana há mais de 40 anos e trabalha há quase o mesmo tempo como sacerdote para o desenvolvimento da Igreja no Brasil.

Mas o que ele está experimentando atualmente em Roma é algo que ele nunca ousou esperar.

Este Sínodo é “uma bela surpresa e um momento de alegria”, de acordo com o presidente do Instituto Nacional de Pastoral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

“Passamos por um inverno eclesial entre as décadas de 1970 e 1990, marcado pela nomeação de bispos mais conservadores e o questionamento dos teólogos da libertação, suspeitos de quererem ‘marxificar’ o Evangelho”, diz o padre brasileiro.

“Alguns membros da nossa Igreja latino-americana, que sofreram muito na época, ainda estão aqui hoje.”

É o caso do padre Eleazar López, padre mexicano de origem zapoteca, que só havia ido a Roma para explicar seus escritos sobre a teologia índia.

“Hoje, eu sou convidado para o Sínodo como perito”, sorriu.

Ao se cruzar com o cardeal Luis Ladaria Ferrer, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, que anteriormente havia sido encarregada de revisar seus textos, ele lhe perguntou se ainda era suspeito.

“Ele me disse que não havia nenhum problema, já que eu estava lá como perito!”

“Compartilhamos a mesma cultura que o papa”

Mesmo que fosse menos política, a teologia índia foi, de fato, contestada pelos seus vínculos com a teologia da libertação, o que lhe permitiu emergir no contexto do crescimento latino-americano que se seguiu ao Concílio Vaticano II e à Conferência de Medellín (1968). Com fortes tensões, especialmente com João Paulo II.

“O contexto era especial: no meio da Guerra Fria, o medo do comunismo era mais forte do que qualquer outra coisa. Hoje é muito diferente”, explicou o padre Adelson Araújo dos Santos, um jesuíta brasileiro da Amazônia e professor da Universidade Gregoriana.

Esses debates também permitiram o amadurecimento teológico da Igreja latino-americana, expressado em 2007 na conferência de Aparecida, no Brasil. O documento final foi escrito sob a presidência do arcebispo de Buenos Aires, um certo Jorge Mario Bergoglio.

Seis anos depois, o jesuíta argentino tornou-se o primeiro papa do Novo Mundo; e, seis anos depois, ele convocou cardeais, bispos, padres e leigos latino-americanos ao Vaticano para um Sínodo sobre a Amazônia.

“O fato de compartilharmos a mesma cultura que o papa torna o diálogo muito fluido: com Francisco, falamos a partir do coração!”, disse o bispo Eugenio Coter, de Pando (Bolívia), na língua espanhola que dominou os debates.

“Falar para toda a Igreja”

Assim como outros participantes no Sínodo, ele se alegra com esse “momento de luz” para uma Igreja que havia sido considerada por muito tempo como periférica, mesmo que congregue cerca de 40% de todos os católicos do mundo.

“Afinal, esta é toda a missão teológica de Francisco: colocar a periferia no centro”, disse o padre Roberto Jaramillo, jesuíta colombiano e presidente da Conferência dos Provinciais da América Latina (CPAL). “Não para se tornar um novo centro, mas para falar para toda a Igreja.”

Embora os europeus sejam uma grande minoria no Sínodo, que tem apenas cerca de 15 membros da Cúria, algumas “tensões”, “reticências” e “mal-entendidos” foram sentidos, segundo vários participantes.

“Tenho muito respeito por nós”

“Uma semana após o início dos trabalhos, alguns padres vaticanos ainda me perguntavam: por que um Sínodo sobre a Amazônia?”, disse Araújo dos Santos, que mora em Roma há dois anos.

“Não há intenções negativas, mas o eurocentrismo continua forte na Igreja. Os padres romanos não estão acostumados com a nossa religiosidade latino-americana, que é muito festiva e, às vezes, parece uma desvalorização da nossa fé.”

O Pe. Jaramillo discorda, no entanto. “Não somos vistos como papagaios dos trópicos”, insistiu. “Eu tenho muito respeito por nós, talvez graças aos nossos muitos mártires e à experiência das nossas comunidades eclesiais de base, que foram importantes para toda a Igreja.”

O que todos esses participantes podem concordar é que este Sínodo é um “ponto de partida” para uma Igreja mais atenta às experiências locais. Começando por uma região do mundo, a Amazônia, que, em sua opinião, concentra os principais desafios atuais: ecologia, neoliberalismo e migração.

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