15 Outubro 2019
"Queremos uma nova estrutura regional Panamzônica que seja o veículo propício para levar adiante as novidades do Espírito neste Sínodo e que também nos permita afirmar a dimensão eclesiológica emergente", pede Maurício López, secretário-executivo - REPAM, na sua intervenção na aula sinodal Pan-Amazônica, em Roma.
Segundo ele, "a territorialidade como lugar teológico não é uma ameaça contra o modo tradicional de compreensão e organização da Igreja, mas a expressão da continuidade do mistério da Encarnação, para o qual não há limites. Deus ainda está encarnado e se encarnando nas margens onde Ele próprio decidiu vir a territorializar-se através do ventre salvífico de nossa mãe Maria, uma mulher simples e da periferia".
Evocando 'o grande Paleontólogo, Teólogo e Místico', ele conclui o pronunciamento com a frase: "Quanto mais vasto seja o mundo, quanto mais orgânicas forem suas conexões internas, mais as perspectivas da Encarnação triunfarão".
Estamos vivendo, sem dúvida, um tempo de graça. Um verdadeiro Kairos. Não porque não estamos cientes dos enormes conflitos que afetam a vida e produzem tanto sofrimento no mundo e na Igreja, mas porque, justamente por isso, Deus está presente com mais força para nos chamar para ser uma presença eclesial mais relevante, coerente e significativa na vida daqueles que sofrem como Jesus. Não há outro caminho, não há outro caminho.
Mas qual é a verdadeira grande novidade de todo esse processo sinodal Panamazônico? É, como o número 2 do Instrumentum Laboris diz lindamente, o surgimento de um novo sujeito eclesial na perspectiva territorial que vem da periferia. Esse sujeito povo de Deus na Panamazônia é o resultado da constatação de que não podemos continuar respondendo isoladamente.
Precisamos abraçar com todas as nossas forças o Cristo que ainda está crucificado neste território, e caminhar com Ele até a Páscoa em que a morte não tem, e nunca pode ter, a última palavra. A territorialidade como lugar teológico não é uma ameaça contra o modo tradicional de compreensão e organização da Igreja, mas a expressão da continuidade do mistério da Encarnação, para o qual não há limites. Deus ainda está encarnado e se encarnando nas margens onde Ele próprio decidiu vir a territorializar-se através do ventre salvífico de nossa mãe Maria, uma mulher simples e da periferia.
Como REPAM (anexo à presidência do CELAM, e também co-fundado com CLAR, Cáritas e CNBB), constatamos que essa territorialidade amazônica, como local teológico, nos faz experimentar mais fortemente o dom da comunhão. Na rede, nossas fragilidades são menos frágeis, nossa incapacidade de responder a tremendas limitações existenciais e materiais são mais suportáveis, e funcionamos como uma rede de apoio, troca e experiência de uma espiritualidade comum. Assim, ouvimos e acompanhamos com grande fragilidade e tentamos enfrentar a violência sistemática contra os mais vulneráveis e criar mecanismos mais eficazes de evangelização neste local.
Queremos, portanto, uma nova estrutura regional Panamzônica que seja o veículo propício para levar adiante as novidades do Espírito neste Sínodo e que também nos permita afirmar a dimensão eclesiológica emergente. Não é por acaso que a experiência de trabalhar na comunhão eclesial Panamazônica, como a que vivemos nesses anos, é uma luz minúscula que ajudou outros territórios a pensar dessa mesma perspectiva: no Congo, em Mesoamérica, em parte da região das florestas tropicais da Ásia-Pacífico, na articulação europeia em torno de Laudato Si e, mais moderadamente, na América do Norte e no aquífero guarani. Parece que algo novo está nascendo.
Na Amazônia, demorou um pouco, mas se conseguiu harmonizar áreas específicas, sempre incompletas: diversidade institucional, estruturas eclesiásticas, de diferentes estados e nações, congregações, identidades culturais, idiomas etc. sob a certeza de que não podemos sozinhos, que o presente convoca para responder aos graves sinais da crucificação de tantos irmãos e irmãs, às expressões da morte diária e irreversível de nossa irmã mãe terra.
Sinceramente, acredito que um dos grandes gestos proféticos deste Sínodo poderia ser a possibilidade de confirmar essa intuição do Espírito com uma estrutura que possibilite que tudo o que semeamos aqui possa subsistir e ser um serviço por mais vida.
Nesse sentido, o Papa Francisco disse que este Sínodo é filho de Laudato Si, e ele é; mas ele definitivamente é também filho da Evangelii Gaudium (e, portanto, seria sobrinho de Aparecida), e definitivamente é o irmão da Episcopalis Communio.
Ou seja, neste gesto poderíamos acompanhar as três conversões herdadas do Concílio Vaticano II, e que também são parte essencial do itinerário do Papa: conversão pastoral para uma Igreja em saída missionária (EG), conversão ecológica para o cuidado da casa comum (LS) e a conversão à sinodalidade da Igreja (EC).
Pedimos isso em nome de Jesus, fonte, origem e fim desse caminho de ascensão à cristificação.
Partilho a frase de um grande Paleontólogo, Teólogo e Místico: "Quanto mais vasto seja o mundo, quanto mais orgânicas forem suas conexões internas, mais as perspectivas da Encarnação triunfarão".
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A territorialidade amazônica, como local teológico, nos faz experimentar mais fortemente o dom da comunhão - Instituto Humanitas Unisinos - IHU