30 Agosto 2019
"O sistema que coisifica a vida mercantiliza também a morte. Funerais, que são em muitas culturas rituais de transição, convertem-se em ato frios, custosos e antiecológicos. O corpo falecido reduz-se a tabu. Mas surgem alternativas", escreve Sarah Chavez, diretora da "Order of the Good Death" ("Ordem da Boa Morte") e cofundadora do site feminista Death & the Maiden, em artigo publicado por Outras Palavras, 28-08-2019. A tradução é de Inês Castilho.
Num dia de verão em 2014, convidados chegaram à casa de Mitch Metzner e Gabriel Gelbart, envolta pela beleza natural de Topanga, nas proximidades de Los Angeles. O casal havia comprado a propriedade com intenção de transformá-la numa residência de idosos, onde as pessoas pudessem passar seus dias finais num ambiente tranquilo e acolhedor. Algumas semanas antes, visitas haviam chegado para celebrar o casamento dos dois, mas agora voltavam para participar do funeral de Gelbart.
Gelbart morreu subitamente [aos 54 anos], de um ataque do coração, deixando uma comunidade de familiares e amigos chocada e trôpega de pesar. Agora eles estavam reunidos para dizer adeus. “Foi incrivelmente belo e dolorosamente triste”, diz Olivia Bareham, ex-enfermeira geriátrica e assistente de um asilo, que organizou o funeral. “Uma colisão de céu e terra.”
O corpo de Gelbart foi levado para casa para ser lavado por Bareham e Metzner, e envolto numa mortalha dourada. Para Metzner, cuidar do corpo de seu marido era a continuidade natural do amor e atenção que lhe dedicou em vida, abrindo a possibilidade de uma “jornada de cura pela tristeza que a indústria do funeral nos quer negar”, explicou. Durante os três dias seguintes, as pessoas puderam velar Gelbart na casa do casal.
Há muito Bareham vinha procurando aliviar um pouco o medo e o sofrimento em torno da morte e do morrer que observava em seus pacientes e familiares. Em 2005, fundou o Instituto Sagrada Travessia para a Morte Consciente (The Sacred Crossings Institute for Conscious Dying), onde educa e habilita famílias para cuidar de seus mortos amados e criar, em casa, velórios como o que criou para Gelbart.
Por toda a casa do casal, Bareham e amigos ofereceram uma profusão de atividades para as pessoas presentes ao velório, incluindo a oportunidade de decorar o caixão com materiais de arte ou fazer inscrições em pedras do rio que seriam usadas para construir um muro memorial na propriedade. Com este funeral, Bareham criou um caminho para as pessoas estarem verdadeiramente presentes testemunhando o fim de uma vida, e um espaço para processar a enormidade de seus pensamentos e emoções. Amigos tocavam música; cães vagavam entre as pessoas em luto, oferecendo conforto. Comida, bebida e dor coletiva eram compartilhadas entre todos. “Foi uma das experiências mais profundas e belas da minha vida”, disse Metzner.
Este, contudo, não é o funeral típico, nos EUA e no Ocidente. Bareham é só uma entre as muitas mulheres que estão rompendo com o paradigma da morte ao desafiar as práticas funerárias tradicionais e defender transparência, opções amigáveis à ecologia e envolvimento familiar. Enquanto o patriarcado branco passou os últimos cem anos fechando portas e cerrando cortinas – ofuscando e lucrando com um dos marcos mais significativos da vida –, mulheres modernas estão questionando a quem serve nosso atual sistema e dizendo à indústria funerária que seu reinado está no fim.
Não se engane, o futuro da morte é feminista.
Defensoras da morte feminista argumentam que a indústria funerária norte-americana, que fatura 20 bilhões de dólares ao ano, prospera com a relutância de nossa sociedade em enfrentar, ou mesmo pensar sobre a morte. Embora nosso medo da morte não seja nada novo, nossa moderna negação da morte é.
Nossa atual falta de familiaridade com a morte natural tornou-se mais informada pelos tropos de horror – incluindo mortos que retornam para nos assombrar, ou cadáveres repentinamente reanimados para agarrar os vivos – do que pelos fatos. De acordo com Ernest Becker, autor de A Negação da Morte (The Denial of Death), livro que recebeu o Prêmio Pulitzer, a consciência da mortalidade nos assombra e nos motiva. Becker argumenta que nossas ações são motivadas por esse medo. Num esforço desesperado para mitigar nosso terror existencial de deixar de existir, procuramos por distrações. Engajamo-nos no que ele chama de “projetos de imortalidade”, os quais nos ajudam a constituir legados que viverão para além de quando estivermos mortos, frequentemente por meio do trabalho ou de filhos.
Em razão desse medo, e do sistema estabelecido que nos blinda contra um envolvimento saudável com a morte, nós nos tornamos analfabetos em morte e luto. Como resultado temos funerais estabelecidos pela indústria, que deixam pouco espaço para o envolvimento profundo da família e requerem produtos e serviços com frequência desnecessários e nocivos ao meio ambiente.
O custo médio de um funeral nos EUA é hoje de 8,5 mil dólares. O preço subiu 227,1%, de 1986 a 2017 – quase o dobro do aumento de preço de todos os outros itens de consumo. Em consequência, os funerais transformaram-se num luxo que muitas famílias custam para arcar, deixando algumas em “pobreza funerária” para pagá-los. Para aqueles que não têm meios de pagar, a responsabilidade recai sobre o Estado, que em geral crema os restos mortais ou doa os corpos a escolas de medicina.
Em contraste, de acordo com a Aliança Nacional do Funeral em Casa (National Home Funeral Alliance), as pessoas podem prever gastos de cerca de 200 dólares num funeral em casa, economizando somas muito consideráveis. Esse valor inclui normalmente gelo seco para manter o corpo frio, taxas de gás e licenciamento e um continente para o corpo – como um simples caixão de pinho ou papelão –, bem como uma taxa de licença para transporte e cópias do atestado de óbito. Os custos da disposição final do cadáver são extra: cremação direta vai de 600 a 1.100 dólares, e enterro depende muito de preferência pessoal.
Não são apenas os custos financeiros da indústria que são espantosos; os custos ambientais, também.
A maioria dos funerais modernos começa com o embalsamamento – prática de injetar químicos tóxicos no corpo para retardar o processo de decomposição. Embora o embalsamamento não seja exigido por lei, jogamos todo ano na terra líquidos que contêm mais de 3,7 milhões de litros de químicos tóxicos.
Nos cemitérios, corpos embalsamados são colocados em caixões que usam anualmente, para ser produzidos, até 20 milhões de placas de madeira dura e 64,5 mil toneladas de aço. Todo esse material é então colocado dentro de sepulturas de concreto para facilitar a manutenção da paisagem do cemitério. E embora a cremação seja mais econômica, uma única cremação consome tanta energia quanto uma viagem de 800 quilômetros de carro, e emite poluentes tais como mercúrio, monóxido de carbono e dióxido de enxofre.
A vida pode terminar com a morte, mas a drenagem de recursos, não. Optar por um enterro padrão significa que você está também esperando que lhe concedam “cuidados perpétuos” – um termo da indústria para falar sobre a expectativa de que sua sepultura será tratada para sempre. Isso significa o tempo de várias vidas de uso de terra e água, pesticidas e trabalho para manter a paisagem do entorno bem cuidada e atraente.
Em outras palavras: estamos fazendo de um processo natural, comum a todos os seres vivos, algo completamente antinatural.
O cadáver tornou-se objeto de projeção para nossas ansiedades quanto à morte, um doloroso alerta de nosso inevitável futuro. Gastamos bilhões em produtos antienvelhecimento porque este nos recorda de nossa mortalidade. Nossa negação continua até mesmo na morte, quando escolhemos parecer “realistas” e selar os cadáveres em caixões que prometem “proteger-nos” da decomposição.
Não admira que muitos de nós estejamos um tanto quanto aliviados pelo fato da indústria funerária estar aí pra nos ajudar a negar a morte um pouco mais.
Hoje, a maioria de nós morre em hospitais ou asilos movimentados, frequentemente na companhia de estranhos. As empresas funerárias removem rapidamente nossos mortos e executam as ações finais de cuidado para preparo do corpo. Nós então passamos por rituais estéreis – desprovidos de significado –, forçados a resumir o significado de uma vida humana durante as breves horas em que a agência funerária ou igreja foi alugada para nós. E nos momentos finais as pessoas são novamente abandonadas a estranhos, que os enterram nas profundezas da terra ou, como o mítico Caronte, levam-nos para as chamas.
Podemos fazer melhor para nossos amados. Na verdade, já fizemos melhor.
Há pouco mais de um século morríamos em casa. Nossos corpos eram ternamente lavados e vestidos para o enterro pelas pessoas queridas. Os funerais eram individuais – e centrados na comunidade – e em geral as mulheres tomavam a frente no processo.
Até o século XX, “A Boa Morte” era uma extensão da ars moriendi, “A Arte de Morrer”, um conceito cristão datado do século XV. Morrer uma boa morte era um conceito universalmente compartilhado, integrado à vida, que acontecia em casa, onde o moribundo era apoiado por familiares e amigos durante essa importante passagem. Acreditava-se que uma pessoa que estava morrendo, posicionando-se no limiar do céu, poderia transmitir sabedoria divina e assegurar que, na vida pós morte, todos estariam reunidos num lugar liberto das dores e tristezas da vida terrena. Então veio, nos Estados Unidos, a Guerra Civil.
Os norte-americanos subestimaram muito a escala e a duração do conflito, acreditando inicialmente que ela seria rapidamente resolvida, com pouco derramamento de sangue. Ao contrário, segundo o historiador David Blight ela deixou uma cultura de morte e luto além da imaginação. As famílias foram forçadas a lidar com o fato de que seus entes queridos estavam morrendo longe de casa, sozinhos nos campos de batalha, sem o conforto proporcionado pela Boa Morte.
Para aqueles que podiam pagar, o embalsamamento moderno foi introduzido como solução para preservar temporariamente os cadáveres dos soldados no longo caminho de volta para casa. Os embalsamadores iam atrás das batalhas, montando acampamento e frequentemente exibindo corpos embalsamados reais fora de suas tendas, como manequins de lojas, para anunciar seus serviços. A demanda por caixões caros de ferro fundido para transportar os corpos deu origem a outro novo empreendimento.
A transição do embalsamamento como necessidade dos tempos de guerra a prática regular remonta ao presidente Abraham Lincoln, cujo corpo foi embalsamado e colocado num trem funerário que percorreu 180 cidades. A turnê foi um fenômeno, com os enlutados fazendo fila durante horas para dar uma espiada no corpo. A adesão de Lincoln ao embalsamamento garantiu o lugar dessa prática na cultura norte-americana.
Agora que homens diligentes haviam encontrado um modo de tornar a morte lucrativa, tratavam de fazê-lo com zelo e inauguravam a moderna indústria funerária. Novas empresas criaram elegantes acessórios para a morte, com elaborados caixões, carros funerários e toaletes de luto, seguidas pelos papéis relativamente novos de diretor funerário e embalsamador.
É possível comparar as indústrias médica e funerária de várias maneiras em sua “profissionalização”. Elas abriram escolas, adotaram novas tecnologias e aproveitaram-se de falsas narrativas para posicionar-se como guardiãs da saúde e da segurança pública, assim restaurando a dignidade dos processos de nascimento e morte.
Enquanto a indústria funerária defendia o mito de que um cadáver era perigoso e precisava ser higienizado pelo embalsamamento, os médicos miravam nas parteiras, a quem rotulavam de “bárbaras”. Em 1911, um professor de obstetrícia chegou a descrever as parteiras como “sujas, ignorantes, destreinadas”, um mal a ser dominado.
A morte tornou-se uma profissão especializada, exclusiva de homens – que empregava a “ciência” do embalsamamento, um serviço que a destacava das atribuições antes delegadas às mulheres, as quais foram excluídas do processo.
A próxima grande mudança em nosso modo de morrer ocorreu em 1912, quando o vendedor ambulante Hubert Eaton chegou em Los Angeles com o objetivo de criar um cemitério e um necrotério completamente desprovidos de “sinais de morte terrena”. Isso mesmo: um cemitério e uma funerária sem morte. Eaton, cristão devoto, acreditava que os cemitérios deveriam reforçar a ideia de vida eterna.
Eaton praticamente repaginou a morte, usando uma linguagem e uma estética que eram confortadoras e até mesmo glamurosas. O cemitério era agora designado como “parque”. “Salas de descanso” mortuárias foram decoradas para evocar a atmosfera do quarto de uma estrela de Hollywood, cobertas com cetim rosa e veludo exuberante. Alto-falantes emitiam alegres sons de canto de pássaros e banners com árvores de folhas caindo foram colocados como lembretes simbólicos da morte. As lápides tradicionais foram substituídas por marcadores planos, baixos, para que a vista dos gramados verdejantes não fosse perturbada pela lembrança de que os cadáveres repousavam a menos de dois metros sob a terra.
O Forest Lawn, em Los Angeles, foi o primeiro a combinar cemitério, mortuário, capela e floricultura num só teto. Conveniência, o poderoso apelo de ser a principal escolha para casamentos e funerais de celebridades, e o marketing inteligente que vendeu aos consumidores um final idílico de Hollywood tornou-se o padrão da indústria. Mas a morte e a vida são muito mais complicadas.
Essa mercantilização da morte resultou na mediação e encenação de um dos eventos mais profundos e transformadores de nossas vidas por duas indústrias – a médica e a funerária –, que foram criadas para beneficiar os homens financeira e socialmente.
As mulheres lutaram pelo controle de seus corpos durante séculos, na vida e agora na morte, e mulheres modernas trabalham para subverter os sistemas patriarcais para assumir mais uma vez o manto da Boa Morte. Embora as onipresentes tendências de “bem-estar” da mídia e as discussões sobre estilo de vida mais saudável raramente mencionem a morte, as mulheres cujas histórias seguem são um pequeno exemplo de um movimento crescente para ajudar as pessoas a morrer bem.
Cafés da Morte (Death Cafes) são encontros públicos informais para as pessoas discutirem sobre a morte, esperando que essas discussões as ajudem a viver uma vida melhor. De acordo com o site do Death Cafe, houve 8.848 destes cafés desde 2011. Eles são predominantemente realizados por mulheres, entre elas a moradora de Milwaukee, Shantell Riley, cujo filho foi morto por arma de fogo. Depois de observar a falta de apoio e comunicação em torno de sua perda, ela se viu obrigada a tornar-se uma anfitriã. As conversas são guiadas pelos próprios participantes. “Rimos, choramos, mas, o mais importante, conversamos”, diz Riley. “É emocionante quando se vê como essas conversas os influenciam e o impacto que têm na maneira de viver suas vidas”.
A maioria das 40 milhões de pessoas nos EUA atuando como cuidadores de idosos nas famílias identificam-se como mulheres. “O sistema de saúde dos EUA pode ser incrivelmente difícil de lidar”, diz Aisha Adkins, que fundou em 2017 a organização Our Turn 2 Care (Nossa vez de cuidar), para preencher as lacunas. A organização oferece informação e recursos e ajuda a conectar os cuidadores tradicionais entre si. “Inicialmente, foi uma resposta ao medo e isolamento que sentia enquanto jovem negra”, diz Adkins. “Não só eu estava despreparada para providenciar o suporte médico de que minha família agora precisava, como também não conseguia planejar o meu próprio futuro.”
Numa profissão que frequentemente vê a morte como um fracasso – que deve ser evitado –, médicos relataram que conversar sobre a morte, com pacientes e com colegas, é desafiador. Na maioria das vezes, o foco está na sustentação da vida, que com frequência tem grandes custos físicos, emocionais e financeiros. Especialista em cuidados paliativos, o Dr. Sunita Puri escreveu That Good Night: Life and Medicine in the Eleventh Hour (Aquela boa noite: vida e medicina na 23a hora), um livro para ajudar médicos e pacientes a focar na qualidade de vida em lugar de empregar medidas extraordinárias que apenas prolongam o sofrimento tanto para o indivíduo como para as pessoas que lhe são caras.
Puri encoraja as pessoas a não se intimidar ao para falar sobre a morte, porque isso as ajudará a elaborar um plano que aumentará a felicidade, o conforto e aquilo que é mais significativo para o paciente em seus dias finais.
O maior setor da revolução da morte liderada por mulheres é o das doulas, mulheres que estão reconquistando seu papel junto ao leito de morte. A Associação Internacional de Doulas do Fim da Vida oferece programas de treinamento que sempre se esgotam e mais de 2.000 pessoas já passaram por lá em pouco menos de três anos. As doulas da morte são “profissionais treinadas, com experiência e habilidades no apoio à pessoa que está morrendo e à rede de familiares, entes queridos e amigos, para manter a desejável qualidade de vida durante o processo ativo da morte”, diz Laslana Williams, doula da morte de Seattle.
Opções ecológicas estão ganhando terreno – o enterro “verde” e a “aquamação” inclusive. Esta última “usa fluxo de água suave, com temperatura e alcalinidade determinadas para acelerar o método natural de decomposição da matéria orgânica do nosso ecossistema”, proporcionando o mesmo resultado que a cremação por chamas, diz Darci Bernard, coproprietário de uma empresa para aquamação para animais de estimação em Seattle.
Os maiores opositores da aquamação têm sido os fabricantes de caixões, políticos conservadores e religiosos.
Outra opção que foi para as manchetes depois de legalizada no estado de Washington é a recomposição. Katrina Spade é a fundadora da Recompose (Recompor), organização social que desenvolve uma alternativa natural à cremação e enterro convencionais. Semelhante à compostagem, a recomposição transforma de modo suave os corpos em solo, o qual é devolvido às famílias para usá-los no cultivo de árvores ou nutrição de jardins, criando nova vida através da morte.
A escritora Caitlin Doughty vem revelando o que acontece por trás das portas fechadas das funerárias em sua série popular “Ask a Mortician” (“Pergunte a um agente funerário”), no YouTube, e num podcast que hospeda comigo. Ela aborda a morte com humor e sensibilidade, tornando acessível a muitos um assunto tabu.
O coração da defesa de Doughty está no cadáver, que “serviu como vaso para sentimentos, rituais e pesar por milhares de anos na história humana”, diz ela. “Nossa recente mudança cultural no sentido de ignorar ou eliminar imediatamente nossos mortos nos afasta ainda mais da realidade da morte e do morrer, e nos impede de elaborar um relacionamento saudável com nossa própria mortalidade.”
Como Doughty e o fotógrafo Paul Koudounaris observaram durante suas viagens para documentar as práticas de morte ao redor do mundo, a aversão que boa parte dos ocidentais têm com relação à morte e aos cadáveres não é comum em outros lugares. Ali onde criamos uma dura fronteira entre nós e a morte, existe para a maioria do mundo uma linha suave, que deixa espaço aos vivos para trabalhar seu luto, começar a compreender a morte e chegar a um acordo com o fato de que os laços que estabelecemos com os outros não se dissipam no momento da morte.
Em muitos países ocidentais, entregamos esse espaço sagrado em torno do cadáver à indústria funerária. As mulheres que reivindicam esse espaço estão agindo em resistência.
Está claro que a atual negação da morte em nossa sociedade não está funcionando. Como seria nossa cultura se, ao invés disso, fôssemos com compaixão e clareza ao encontro do aspecto mais misterioso, doloroso e transformador de nossas vidas?
Com a liderança das mulheres, podemos criar um futuro de cuidados com a morte que irá melhorar não apenas o modo como as gerações futuras morrem, mas o modo como elas vivem. Este é um legado, e é um legado feminista, pelo qual todas podemos nos orgulhar.
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Para que os mortos deixem de ser mercadorias - Instituto Humanitas Unisinos - IHU