08 Abril 2015
Com 10 milhões morrendo a cada ano, os preços dos terrenos em cemitérios estão em alta
A reportagem foi publicada pelo UCA News, 06-04-2015. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Neste fim de semana, a China instou os seus cidadãos a voltarem-se a formas mais saudáveis do ponto de vista ambiental na hora de enterrarem e homenagearem os seus mortos, já que o país mostrou poucos sinais de que está tendo uma prática sustentável no Dia de Varrer Tumbas (festa de purificação e limpeza de sepulturas em homenagem aos antepassados).
Nos dias anteriores ao Festival Qing Ming, autoridades governamentais incentivaram as pessoas a deixarem de lado tradições que já duram séculos em favor da cremação e sepultamentos marítimos numa tentativa de economizar terra e salvar o meio ambiente.
Porém, os meios de comunicação estatais reconheceram que muitos chineses não estão aderindo às novas diretrizes que dizem para abandonar milhares de anos de tradição, que dita que as oferendas devem ser queimadas em sepulturas individualmente marcadas.
“Os representantes dos partidos deveriam orientar as pessoas a implementarem um Dia de Varrer Tumbas mais civilizado, de baixo carbono, e educá-las, bem como a seus parentes, amigos e pessoas próximas, a boicotar produtos vulgares aos mortos”, disse a agência estatal de notícias Xinhua no fim de semana.
Algumas lojas na China estavam vendendo kits incluindo iPhones feitos de papel para serem queimados nos locais das sepulturas durante o festival, uma versão mais moderna da oferenda tradicional de se queimar dinheiro falso.
A principal preocupação do governo tem sido a de encorajar os chineses a cremar os seus mortos ou enterrar parentes em sepulturas não identificadas, não marcadas, cobertas com árvores recentemente plantadas, na medida em que o país fica, cada vez mais, sem terra para usar em locais de sepultamento.
Um relatório estatal divulgado na semana passada dizia que os terrenos de cemitério, na maior parte das regiões, ficarão cheios durante a próxima década. Ao mesmo tempo, o texto pedia ainda mais pressão sobre terras agrícolas, sugerindo aumentar os preços de terra para enterros.
A cada ano, cerca de 10 milhões de pessoas morrem na China, o que exigiria 10 milhões de metros quadrados de terra – mais de 20 vezes o tamanho do Vaticano – caso todos optassem pelo enterro tradicional.
Em Pequim, o aumento na demanda por novos locais de sepultamento levou a um aumento anual de 30% nos preços dos terrenos em cemitérios: um terreno de 3 metros quadrados no Cemitério All Buddha, na capital do país, estava vendendo unidades de até 1,2 milhão de yuan (US$ 193,500) neste mês.
Em resposta, o governo estabeleceu metas de cremação, mas diferenças nas províncias levaram a casos de remoção ilegal de cadáveres para o cumprimento de quotas.
No fim do ano passado, a promotoria pública acusou três pessoas, em Guangxi, de venderem mais de 20 cadáveres recém-escavados na província vizinha de Guangdong, por um preço que variava entre 1.500 e 3 mil yuans, assim contribuindo para que as metas de cremação fossem alcançadas.
As novas regulamentações pedem por índices de cremação em 50% nas regiões montanhosas, indo até 100% em cidades na província de Guangdong, unidade política que inclui a maior megacidade no mundo em torno de Guangzhou, com uma população total com mais de 42 milhões de pessoas.
Em todo o país, a China cremou 4,46 milhões de pessoas no ano passado, menos de 50% dos 9,77 milhões que morreram em 2014, anunciou o governo no sábado no mais recente sinal de que o índice pouco se alterou, apesar dos esforços empreendidos.
“A cultura não mudou muito porque, na realidade, a forma como as pessoas pensam não mudou”, disse Wang Yan, cuja família é dona de uma empresa funerária no centro de Pequim.
Numa tentativa de incentivar as pessoas a abandonarem a crença tradicional de que os mortos sejam sepultados em terra, este ano as autoridades pequinesas dobraram os subsídios para os sepultamentos no mar, de 2 mil yuans para 4 mil.
No ano passado, mais de 12 mil pessoas na capital optaram por sepultar no mar, mas muitos chineses ainda desaprovam esta prática.
“Para dizer de forma bem clara: se a sua mãe quiser ser sepultada no mar, você poderá usar simplesmente o sistema de esgoto, que leva ao mar de qualquer maneira”, disse um usuário do sítio Weibo, equivalente chinês do Twitter. “Você também irá economizar (...) com as taxas governamentais de transporte”.
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China insta a cremação de mortos para economizar terra e salvar o meio ambiente - Instituto Humanitas Unisinos - IHU