13 Junho 2019
Os bispos reunidos em Baltimore, EUA, esta semana para deliberar sobre novos protocolos voltados à própria responsabilização pelos abusos sexuais cometidos por padres estão enfrentando o ceticismo de católicos norte-americanos que acreditam que a crise ainda está em curso e precisa de uma gestão melhor.
A reportagem é de Michael J. O’Loughlin, publicada por America, 11-06-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Uma pesquisa divulgada na terça-feira pelo Centro de Pesquisas Pew constatou que 69% dos católicos norte-americanos acreditam que o escândalo dos abusos sexuais do clero é “um problema permanente”. Os não católicos norte-americanos são mais propensos a pensar que a crise dos abusos sexuais ainda é um problema, e 81% dizem acreditar que se trata de uma crise contínua.
A crise parece estar cobrando o seu preço sobre o modo como os católicos ativos vivem suas vidas de fé. Mais de um quarto dos católicos norte-americanos, 27%, dizem que diminuíram a frequência com que participam da missa, enquanto 26% dizem ter reduzido suas contribuições financeiras às suas paróquias ou dioceses. Os números são ligeiramente inferiores entre os católicos que costumam frequentar a missa a cada semana, dos quais 15% dizem que agora participam com menos frequência, e 2% estão reduzindo as contribuições financeiras.
Mesmo assim, uma pequena maioria (55%) dos católicos norte-americanos acredita que o Papa Francisco fez um trabalho “excelente” ou “bom” na gestão da crise dos abusos. Entre os frequentadores semanais da missa, esse número sobe para 64%. Perguntados sobre “os bispos”, no entanto, apenas 36% dos católicos norte-americanos dão as mesmas notas altas, embora esse número aumente para 51% entre os frequentadores semanais da missa.
Os dados são semelhantes aos resultados de uma pesquisa divulgada no mês passado sobre os católicos canadenses, muitos dos quais expressaram frustração diante do modo como as lideranças da Igreja lidaram com os abusos.
Os bispos estão levando em consideração pelo menos três propostas para se responsabilizarem por um tratamento adequado das acusações de abuso sexual. Elas são semelhantes a uma nova medida aprovada pelo Papa Francisco no motu proprio "Vos estis lux mundi", que entrou em vigor no início deste mês. De acordo com os novos procedimentos, arcebispos conhecidos como “bispos metropolitanos” são encarregados de investigar as acusações de má-gestão.
Os críticos argumentam que os bispos são incapazes de se responsabilizarem uns aos outros, apontando para mais de 20 investigações estaduais e federais sobre a aplicação da lei no manejo da Igreja em relação aos abusos. Na semana passada, um arcebispo estadunidense desculpou-se por não incluir uma lista de nomes dos bispos que receberam doações em dinheiro de um bispo agora aposentado que é acusado de mau uso dos fundos diocesanos e de fazer propostas sexuais indesejadas a seminaristas adultos.
Dom William Lori, arcebispo de Baltimore, está gerindo uma investigação de Dom Michael J. Bransfield, que recentemente chefiava a Diocese de Wheeling-Charleston, Virgínia. Uma reportagem do Washington Post constatou que os investigadores descobriram que Dom Bransfield havia enviado cheques a vários bispos dos EUA, incluindo o arcebispo Lori. Mas o relatório que o arcebispo submeteu ao Vaticano não incluía essa lista de nomes. O arcebispo Lori pediu desculpas pelas suas ações.
Quando os bispos se reuniram em novembro passado, eles pretendiam votar várias provisões voltadas à responsabilização dos bispos. Mas uma intervenção de última hora do Vaticano atrasou a votação. As autoridades da Igreja em Roma disseram que não tiveram tempo suficiente para rever os materiais, e o Vaticano queria que os bispos dos EUA suspendessem a votação até depois de uma reunião em fevereiro sobre os abusos sexuais em Roma com prelados do mundo inteiro. Espera-se que os bispos debatam as propostas atualizadas nesta semana e votem as medidas nesta quinta-feira.
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Nova pesquisa: católicos dos EUA acreditam que bispos precisam gerir melhor a crise dos abusos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU