28 Mai 2019
Às 12h20 desta segunda-feira, na Sala Clementina do Palácio Apostólico Vaticano, o Santo Padre Francisco recebeu em audiência os participantes da XXI Assembleia Geral da Caritas Internationalis, em curso em Roma, de 23 a 28 de maio de 2019, no Hotel Ergife, sobre o tema: "Uma família humana, uma casa comum", inspirado na Encíclica Laudato Si' do Papa Francisco.
O texto é publicado por Sala de Imprensa da Santa Sé, 27-05-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
Senhores Cardeais,
venerados Irmãos no Episcopado e no Sacerdócio,
caros irmãos e irmãs, tenho o prazer de ter a oportunidade de encontrá-los por ocasião de vossa XXI Assembleia Geral.
Agradeço ao Cardeal Tagle pelas palavras que ele dirigiu a mim e apresento uma saudação cordial a todos vocês, à grande família da Caritas e a aqueles que, em seus respectivos países, estão engajados no serviço da caridade.
Nestes dias, vindo de todo o mundo, viveram um momento significativo na vida da Confederação, finalizado não só ao cumprimento dos deveres estatutários, mas também ao fortalecimento dos laços de comunhão recíproca da adesão ao Sucessor de Pedro, por motivo da especial ligação entre a vossa organização e a Sé Apostólica. De fato, São João Paulo II quis conferir à Caritas Internationalis a personalidade jurídica canônica pública, chamando-vos a compartilhar a missão própria da Igreja no serviço da caridade.
Hoje gostaria de refletir brevemente convosco sobre três palavras-chave: caridade, desenvolvimento integral e comunhão.
Considerando a missão que a Caritas é chamada a realizar na Igreja, é importante sempre voltar a refletir juntos sobre o significado da própria palavra caridade. A caridade não é uma prestação estéril ou um simples óbolo a ser restituído para apaziguar a nossa consciência.
O que nunca devemos esquecer é que a caridade tem sua origem e sua essência no próprio Deus (cf. Jo 4, 8); a caridade é o abraço de Deus nosso Pai a todo homem, especialmente aos últimos e aos sofredores, que ocupam em seu coração um lugar preferencial. Se considerássemos a caridade como uma prestação, a Igreja se tornaria uma agência humanitária e o serviço de caridade seu "departamento logístico". Mas a Igreja não é nada disso, é algo diferente e muito maior: é, em Cristo, o sinal e o instrumento do amor de Deus pela humanidade e por toda a criação, nossa casa comum.
A segunda palavra é desenvolvimento integral. No serviço da caridade, está em jogo a visão do homem, que não pode ser reduzida a um único aspecto, mas envolve todo o ser humano como filho de Deus, criado à sua imagem. Os pobres são, em primeiro lugar, pessoas e em seus rostos se esconde o próprio rosto de Cristo. São sua carne, sinais de seu corpo crucificado, e temos o dever de chegar até eles nas periferias mais extremas e nos subterrâneos da história, com a delicadeza e ternura da Mãe Igreja. Devemos buscar a promoção de todo o homem e de todos os homens, a fim que possam ser autores e protagonistas de seu próprio progresso (ver S. Paulo VI, Enc. Populorum progressio, 34).
O serviço da caridade deve, portanto, escolher a lógica do desenvolvimento integral como antídoto à cultura do desperdício e da indiferença. E dirigindo-me a vocês, que são a Caritas, quero reiterar que "a pior discriminação sofrida pelos pobres é a falta de atenção espiritual" (Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, 200). Vocês bem o sabem: a grande maioria dos pobres "tem uma especial abertura para a fé; precisam de Deus e não podemos deixar de oferecer-lhes sua amizade, sua bênção, sua Palavra, a celebração dos sacramentos e a proposta de um caminho de crescimento e de amadurecimento na fé" (ibid.). Portanto, como nos ensina o exemplo dos Santos e Santas da caridade, "a opção preferencial pelos pobres deve traduzir-se principalmente numa atenção religiosa privilegiada e prioritária" (ibid.).
A terceira palavra é a comunhão, que é central para a Igreja, define sua essência. A comunhão eclesial surge do encontro com o Filho de Deus, Jesus Cristo, que, mediante o anúncio da Igreja, alcança os homens e cria comunhão com Ele e com o Pai e com o Espírito Santo (cf. 1 Jo 1, 3). É a comunhão em Cristo e na Igreja que anima, acompanha e apoia o serviço da caridade tanto nas próprias comunidades como em situações de emergência em todo o mundo. Deste modo, a diaconia da caridade torna-se um instrumento visível de comunhão na Igreja (cf. Compêndio da Doutrina Social da Igreja, 4). Por isso, como Confederação, vocês são acompanhados pelo Dicastério para o Serviço de Desenvolvimento Humano Integral, a quem agradeço pelo trabalho que ordinariamente realiza e, em particular, pelo apoio à missão eclesial da Caritas Internationalis. Eu disse que vocês são acompanhados: não estão "sob".
Retomando estes três aspectos fundamentais para viver a Caritas, ou seja, a caridade, o desenvolvimento integral e a comunhão, gostaria de exortá-los a vivê-los com estilo de pobreza, de gratuidade e de humildade.
Não se pode viver a caridade sem ter relações interpessoais com os pobres: viver com os pobres e para os pobres. Os pobres não são números, mas pessoas. Porque vivendo com os pobres aprendemos a praticar a caridade com o espírito de pobreza, aprendemos que a caridade é compartilhamento. Na realidade, não só a caridade que não chega ao bolso resulta uma falsa caridade, mas a caridade que não envolve o coração, a alma e todo o nosso ser é uma ideia de caridade ainda não realizada.
Devemos estar sempre atentos para não cair na tentação de viver uma caridade hipócrita ou enganadora, uma caridade identificada com a esmola, com a beneficência, ou como uma "pílula calmante" para nossas inquietas consciências. Eis porque devemos evitar de assemelhar o trabalho da caridade com a eficácia filantrópica ou com a eficiência de planejamento ou com a exagerada e efervescente organização.
Sendo a Caridade a mais almejada das virtudes à qual o homem possa aspirar para poder imitar Deus, torna-se escandaloso ver agentes de Caridade que a transformam em business: falam tanto em Caridade, mas vivem no luxo ou no esbanjamento ou mesmo organizado Fórum sobre a Caridade desperdiçando inutilmente tanto dinheiro. Dói constatar que alguns agentes de Caridade se transformam em funcionários e burocratas. É por isso que gostaria de reiterar que a caridade não é uma ideia ou um sentimento piedoso, mas é o encontro experiencial com Cristo; é o desejo de viver com o coração de Deus que não nos pede para ter pelos pobres um genérico amor, afeto, solidariedade, etc., mas para encontrar neles Ele mesmo (cf. Mt 25,31-46), com o estilo de pobreza.
Caros amigos, agradeço-vos, em nome de toda a Igreja, pelo que vocês fazem com e por tantos irmãos e irmãs que estão em dificuldades, que são deixados à margem, oprimidos pelas escravidões dos nossos dias, e encorajo-vos a prosseguir! Que todos vocês possam, em comunhão com as comunidades eclesiais a que pertencem e das quais são expressão, continuar a dar com alegria a vossa contribuição, para que cresça no mundo o Reino de Deus, Reino de justiça, de amor e de paz. Que sempre vos alimente e ilumine o Evangelho, e vos guie no ensino e no cuidado pastoral da Mãe Igreja. Que o Senhor vos abençoe e que Nossa Senhora vos guarde. E por favor, não esqueçam de rezar por mim. Obrigado.
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"Não se pode viver a caridade sem ter relações interpessoais com os pobres: viver com os pobres e para os pobres", afirma o Papa Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU