28 Mai 2019
"Caridade, desenvolvimento integral e comunhão": estas são as três "palavras-chave" que o Papa Francisco indica à Caritas internationalis para avançar em seu serviço sempre em favor dos mais fracos. Um serviço que nunca deve ser realizado para o ganho econômico pessoal: “É escandaloso ver operadores da caridade” que a transformam “em business”, diz o Papa aos participantes da XXI assembleia geral do organismo em curso a Roma até terça-feira, sobre o tema "Uma família humana, uma casa comum". "Falam tanto em caridade, mas vivem no luxo ou no esbanjamento, ou organizam fóruns sobre caridade, desperdiçando inutilmente tanto dinheiro. Dói constatar que alguns agentes de caridade se transformam em funcionários e burocratas", observa o Papa.
A reportagem é de Paolo Petrini, publicada por Vatican Insider, 27-05-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
"A caridade - ele ressalta - não é uma prestação estéril ou um óbolo a ser restituído para apaziguar à nossa consciência. O que nunca devemos esquecer é que a caridade tem sua origem e sua essência no próprio Deus; a caridade é o abraço de Deus nosso Pai a todo homem, especialmente aos últimos e aos sofredores, que ocupam um lugar preferencial em seu coração. Se considerássemos a caridade como uma prestação, a Igreja se tornaria uma agência humanitária e o serviço de caridade seu ‘departamento logístico’".
Mas a Igreja não é nada disso: "É algo diferente e muito maior: é, em Cristo, o sinal e instrumento do amor de Deus pela humanidade e por toda a criação, nossa casa comum", destaca o Pontífice.
Depois faz uma reflexão sobre a segunda palavra: desenvolvimento integral. "No serviço da caridade, está em jogo a visão do homem, que não pode ser reduzida a um único aspecto, mas envolve todo o ser humano enquanto filho de Deus, criado à sua imagem. Os pobres são, em primeiro lugar, pessoas e seus rostos se esconde o próprio Cristo. São sua carne, sinais de seu corpo crucificado, e temos o dever de chegar até eles nas periferias mais extremas e nos subterrâneos da história, com a delicadeza e a ternura da Mãe Igreja”, encoraja Francisco.
"Devemos procurar promover todo o homem e todos os homens, para que possam ser autores e protagonistas de seu próprio progresso. O serviço da caridade deve, portanto, escolher a lógica do desenvolvimento integral como antídoto à cultura do desperdício e da indiferença", acrescenta. "Portanto, como nos ensina o exemplo dos Santos e Santas da caridade, a opção preferencial pelos pobres deve traduzir-se principalmente em uma atenção religiosa privilegiada e prioritária".
Finalmente, falando da comunhão como “essência” própria da Igreja, o Bispo de Roma explica que "é a comunhão em Cristo e na Igreja que anima, acompanha e apoia o serviço da caridade tanto nas próprias comunidades como em situações de emergência em todo o mundo".
O Papa também exorta a viver esses três aspectos "com um estilo de pobreza, de gratuidade e de humildade". "Não se pode viver a caridade sem ter relações interpessoais com os pobres: viver com os pobres e para os pobres", ressalta. “Os pobres não são números, mas pessoas. Porque vivendo com os pobres aprendemos a praticar a caridade com o espírito de pobreza, aprendemos que a caridade é compartilhamento. Na realidade, não só a caridade que não chega ao bolso é uma falsa caridade, mas a caridade que não envolve o coração, a alma e todo o nosso ser é uma ideia de caridade ainda não realizada”.
Acima de tudo, recomenda o Pontífice, "devemos estar sempre atentos para não cair na tentação de viver uma caridade hipócrita ou enganadora, uma caridade identificada com a esmola, com a beneficência, ou como uma ‘pílula calmante’ para as nossas consciências inquietas. É por isso que devemos evitar assemelhar o trabalho da caridade com a eficácia filantrópica ou com a eficiência de planejamento ou com a exagerada e efervescente organização”.
De fato, a caridade não é "uma ideia ou um sentimento piedoso", observa Francisco, mas "é o encontro experiencial com Cristo; é o desejo de viver com o coração de Deus que não nos pede para ter pelos pobres um genérico amor, afeto, solidariedade, etc., mas para encontrar neles a Ele mesmo, com o estilo da pobreza”.
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O Papa à Caritas Internationalis: é escandaloso transformar a caridade em business - Instituto Humanitas Unisinos - IHU