01 Abril 2019
O Papa Francisco procurou incentivar a pequena comunidade católica do Marrocos no dia 31 de março, assegurando-lhes que sua eficácia não é determinada pelo seu tamanho, mas sim pela sua capacidade de “gerar e suscitar mudança, estupor e compaixão”.
A reportagem é de Joshua J. McElwee, publicada em National Catholic Reporter, 31-03-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Em um encontro com clérigos católicos e cristãos na Catedral de São Pedro, em Rabat, no fim da sua visita de dois dias a essa nação predominantemente muçulmana no norte da África, o pontífice disse que ser uma pequena fração da população “não é um problema”.
“A que se assemelha um cristão nessas terras?”, perguntou Francisco às dezenas de sacerdotes e religiosos que participavam do encontro, antes de responder: “É semelhante a um pouco de fermento, que uma mulher pegou e misturou em três medidas de farinha, até que tudo estivesse fermentado (Lc 13, 18.21)”.
“Jesus não nos escolheu e nos enviou para que nos tornássemos os mais numerosos!”, exortou o papa. “Ele nos chamou para uma missão. Ele nos colocou na sociedade como aquela pequena quantidade de fermento: o fermento das bem-aventuranças e do amor fraterno”.
“A nossa missão de batizados, de sacerdotes, de consagrados não é determinada particularmente pelo número ou pela quantidade de espaços que ocupamos”, disse Francisco.
“Acho que a preocupação surge quando nós, cristãos, nos atormentamos com o pensamento de poder ser significativos apenas se formos a massa e se ocuparmos todos os espaços”, continuou o papa. “Vocês sabem muito bem que a vida se põe em jogo com a capacidade que temos de ‘fermentar’ lá onde nos encontramos e com quem nos encontramos, mesmo que isso aparentemente possa não trazer benefícios tangíveis ou imediatos.”
Francisco visitou o Marrocos em uma viagem que se concentrou principalmente em destacar os esforços para o diálogo cristão-muçulmano e para chamar a atenção para a contínua crise dos refugiados que arriscam viagens perigosas pelo Mediterrâneo na esperança de entrar na Europa depois de fugir da violência e da fome.
O pontífice iniciou a sua visita no dia 30 de março com um apelo por uma “mudança de atitude” global em relação aos migrantes, alertando que a crise “nunca encontrará uma na construção de barreiras, na difusão do medo do outro”.
Mas, durante o último dia da viagem, a agenda de Francisco se focou em encorajar os católicos no Marrocos, que são cerca de 23 mil entre uma população de cerca de 34,9 milhões, e são principalmente trabalhadores nascidos no exterior. Depois do encontro matinal na catedral, o pontífice celebrou aquela que o Vaticano disse ser provavelmente a missa com o mais número de fiéis já celebrada no país.
Ambos os eventos foram marcados pela participação de membros de outras denominações cristãs.
Participaram do encontro na catedral os três líderes do Conselho das Igrejas Cristãs do Marrocos, um grupo ecumênico que facilita o diálogo entre as comunidades católica, anglicana, evangélica, ortodoxa grega e ortodoxa russa no país.
Francisco agradeceu ao conselho pelo seu trabalho na abertura do seu discurso, chamando-o de um “sinal claro da comunhão” vivida no país.
No encontro, também estavam presentes bispos católicos de todo o território da Conferência Episcopal Regional do Norte da África, que inclui Marrocos, Argélia, Tunísia e Líbia.
Em suas observações, Francisco refletiu sobre como padres e religiosos rezam e se preocupam não apenas com os católicos, mas também com todos os que lhes são confiados. O papa recordou que se encontrou com um padre que havia conversado com ele sobre o poder das palavras “O pão nosso de cada dia nos dai hoje” na oração de Nosso Pai.
Francisco disse que a oração do padre se expandiu “também para aquele povo que, em certa medida, lhe havia sido confiado, não para administrar, mas para amar, e isso o levava a rezar essa oração com um tom e um gosto especiais”.
“O consagrado, o sacerdote leva ao seu altar, na sua oração, a vida dos seus conterrâneos e mantém viva, como que através de uma pequena brecha naquela terra, a força vivificante do Espírito”, disse o pontífice.
“Como é bonito saber que, em diversos cantos desta terra, nas suas vozes, a criação pode implorar e continuar dizendo: ‘Pai Nosso’”, acrescentou o papa.
Apesar de seu pequeno tamanho, a Igreja Católica no Marrocos administra 34 escolas em todo o país que educam cerca de 12.000 crianças. A Igreja também mantém dez orfanatos e um hospital.
Entre os religiosos que participaram do encontro estava o irmão trapista Jean-Pierre Schumacher, de 95 anos de idade, o último sobrevivente dos assassinatos de 1996 dos monges de Tibhirine na Argélia. Antes de falar, Francisco cumprimentou Schumacher, que hoje mora no Marrocos, e beijou a sua mão.
Mais tarde, na missa no complexo esportivo Príncipe Moulay Abdellah, em Rabat, o papa refletiu sobre a parábola do filho pródigo e pediu aos católicos marroquinos que enfrentem qualquer tensão que sintam haver entre si.
Olhando para a silenciosa mas entusiasmada multidão no pequeno ginásio, Francisco pediu-lhes que transcendessem “míopes lógicas de divisão”.
No início do dia, Francisco visitou um centro de serviço social na vizinha Temara, administrado pelas irmãs vicentinas, que oferece refeições gratuitas para cerca de 150 crianças por dia e treina mulheres na alfaiataria. Ao sair, o pontífice fez uma pausa para tirar uma foto cercado de dezenas de pessoas e crianças atendidas pelo centro, sorrindo enquanto agitavam pequenas bandeiras do Vaticano e do Marrocos.
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Francisco pede que pequena minoria católica no Marrocos ''gere e suscite mudança e compaixão'' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU