A disponibilidade do Papa Francisco de se encontrar com o presidente Xi Jinping continua a ser reiterada oficiosamente pelos funcionários do Vaticano: uma pressão indireta para convencer o regime de Pequim a aceitar a mão estendida. É também uma maneira de deixar claro de quem será a responsabilidade se a reunião não acontecer durante a visita à Itália, que começa na quinta-feira. O Vaticano anunciou que não há encontros previstos para o pontífice durante a estada de Xi.
E isso é uma segunda ênfase: a agenda papal permanece bem aberta para marcar o encontro. Mas essas são mensagens que também confirmam a relação assimétrica entre a Santa Sé e a China; e como para Francisco o encontro é uma prioridade, enquanto para Xi não é.
Se, pelo menos até agora, a presença do presidente chinês em Roma não fosse suficiente para facilitar o contato, para a Igreja e especialmente para o Papa seria um malogro ou uma grosseria. Normalmente, os chefes de estado estrangeiros que visitam Roma sempre costumam dar uma passada no Vaticano. Mais ainda, às vezes usam os encontros com as instituições italianas justamente para encontrar-se com os pontífices.
O comentário é de Massimo Franco, jornalista, publicado por Corriere della Sera, 19-03-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
Um não de Xi promete, além disso, fortalecer as correntes vaticanas que observam com suspeita o acordo secreto e provisório com a China firmado em setembro de 2018. Também por esse motivo, como o Corriere já havia antecipado, Francisco quer muito o encontro. Ele investiu nas relações com o regime de Pequim, sob o risco de ser acusado de "vender" os católicos chineses na clandestinidade no altar de um entendimento: crítica por trás da qual vislumbra-se a irritação dos Estados Unidos pela estratégia de Francisco.
Mas Xi encontra resistências simétricas e opostas nas alas do Partido Comunista Chinês, refratárias à ideia de legitimar os acordos provisórios firmados com o Vaticano: resistências que parecem ainda estar prevalecendo.
Os emissários chineses que nos últimos dias sondaram o círculo papal sabiam que não tinham o poder de definir tempos e modos de um eventual encontro em Roma. Sua tarefa era apenas coletar informações e reportá-las a Pequim. Por isso, nas últimas horas, seus interlocutores do Vaticano repetiram que o governo chinês deveria parar de temer "desconfiança ou hostilidade" por parte da Igreja católica guiada por Francisco. Na capital italiana, florescem convenções, publicações e intervenções que tendem a descrever a China e o Vaticano como dois mundos destinados a se encontrar.
Quando o secretário de Estado, cardeal Pietro Parolin, "primeiro-ministro" do Papa, manifesta respeito e estima pelo povo chinês e suas "autoridades estatais legítimas", confirma a mudança de ritmo do pontificado: no sentido de que mesmo com um regime ateu e comunista como o de Pequim não deve haver conflito prejudicial. Mas o Vaticano está com pressa, a China não. E a visita à Itália poderia ressaltar isso de maneira bastante evidente.
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