13 Março 2019
Deve aumentar o número de protestos estudantis contra a ameaça representada pelas mudanças climáticas no dia 15 de março, na Irlanda. Milhares de estudantes devem se reunir do lado de fora do Dáil Éireann, o parlamento irlandês, em um dia global de ação para pressionar os governos a agir para salvar o planeta antes que seja tarde demais.
A reportagem é de Sarah Mac Donald, publicada por National Catholic Reporter, 12-03-2019. A tradução é de Luísa Flores Somavilla.
Desde dezembro do ano passado, um fluxo constante de estudantes, bem como professores, pais e avós, fizeram uma vigília semanal no centro de Dublin como parte do movimento da estudante sueca Greta Thunberg #FridaysForFuture. A estudante de 16 anos protagonizou a primeira greve, em agosto de 2018, no parlamento de Estocolmo. Na última semana de fevereiro, um grupo de mais de 200 estudantes apareceu em Dublin cantando: "ninguém pode nos parar, um outro mundo é possível".
Os protestos foram pacíficos e animados, mas a mensagem é muito séria: se não mudarmos, o clima global mudará, com consequências catastróficas para o planeta e toda as formas de vida. Os jovens manifestantes na Irlanda - e nos outros 54 países onde há protestos pelo clima - querem que os governos tomem medidas em conformidade com o acordo de Paris. "É agora ou nunca", alertam, e apelam aos políticos para "tornar a Terra grande novamente".
Lorna Gold, que trabalha na Trócaire, a agência de desenvolvimento dos Bispos da Igreja Católica na Irlanda, e está participando do Movimento Global Católico pelo Clima, acredita que os protestos são “uma oportunidade de os jovens e crianças que ainda não têm voz mostrarem sua cidadania ativa. É uma oportunidade real de falarem e mostrarem do seu jeito uma questão com que se importam de verdade”.
Quando o NCR entrevistou Lorna Gold, ela tinha acabado de ficar sabendo que o Sindicato dos Professores da Irlanda havia aprovado uma petição em apoio aos professores que quisessem facilitar a participação dos alunos no protesto do dia 15 de março. O movimento está ganhando força.
"Em grande parte, foi uma iniciativa apoiada pelas escolas da Irlanda", disse ela. Os protestos em frente ao parlamento "foram uma parceria entre professores e pais, facilitando para os estudantes que quisessem se pronunciar e participar da ação global".
Na verdade, Lorna foi a primeira pessoa a comparecer em um protesto pelo clima em frente ao parlamento irlandês, em dezembro de 2018. Naquele dia, participaram ela e outros três alunos, incluindo Jim Scheer, Autoridade de Energia Sustentável da Irlanda.
"Começamos no mesmo dia", disse ela. "Jim adorou agir e protestar."
Lorna estava de folga naquela sexta-feira para fazer compras de Natal quando recebeu um SMS de Jim. Ele enviou um link do discurso de Greta Thunberg no encontro das Nações Unidas sobre mudanças climáticas COP24, em dezembro. A mensagem dizia: "Acho que precisamos nos unir em solidariedade a Greta".
"Aquele discurso de um minuto resume a situação do mundo e para onde precisamos ir", disse Lorna. "E foi assim que começamos."
Na semana seguinte, o número de manifestantes duplicou para oito e agora toda semana aparecem centenas de estudantes de escolas diferentes.
Um dos primeiros manifestantes foi Michael Grehan, professor de ciências de uma escola católica no norte de Dublin. Toda semana, um grupo diferente de alunos o acompanha ao parlamento irlandês. Os estudantes, que têm entre 16 e 18 anos, participaram das ações em seu tempo livre algumas vezes.
"Não me surpreende que essa ação tenha capturado a imaginação dos alunos, pois ela é muito poderosa", disse ele ao NCR, explicando que o diretor e o vice-diretor da escola apoiam o envolvimento dos alunos. "Mas também acho importante os alunos terem consciência de que nossa preocupação com a mudança climática causada pela ação humana faz parte das ciências."
Ele acredita que os alunos estão mais bem informados agora sobre a ciência da mudança climática até mesmo do que uma década atrás. Vários alunos disseram que estão participando por causa da falta de resposta da Irlanda à mudança climática.
"Eles acham uma vergonha e querem protestar contra isso", disse.
Para Lorna, por enquanto o foco do movimento é conscientizar as pessoas e construir uma onda crescente de compreensão e sensibilização sobre a urgência de abordar a mudança climática e o fato de que a Irlanda não está fazendo jus a seus compromissos em relação a isso. O principal impacto do protesto até agora tem sido pelas redes sociais, em que os vídeos dos protestos chegaram a 25.000 visualizações, segundo ela.
No entanto, começaram a surgir protestos em outras cidades da Irlanda, como Cork, Kilkenny, Limerick e Maynooth, sugerindo um aumento do interesse e do compromisso.
"Há uma energia enorme por trás disso — realmente parou as pessoas”, disse Lorna. "Dá pra ter uma noção de que esses jovens estão tomando a frente e que têm muita energia e vontade de mudar as coisas. Nunca vi tanta energia nos quase 20 anos em que trabalho com questões de justiça climática".
O movimento, conectado de alguma forma, não tinha um conjunto de exigências para o governo irlandês até o dia 6 de março, quarta-feira de cinzas, quando um grupo de alunos apresentou uma lista aos políticos. As demandas reforçavam as 13 recomendações da Assembleia dos Cidadãos sobre as mudanças climáticas, que se reuniu em abril de 2018. A ênfase dos delegados da assembleia foi a ciência das mudanças climáticas, políticas de transportes e agricultura e contou com as contribuições do conselho consultivo para as mudanças climáticas, incluindo:
• um aumento no imposto sobre carbono;
• maior financiamento para infraestrutura de transportes públicos e bicicleta, bem como para a readaptação de edifícios públicos;
• apoio ao setor da agricultura na transição para processos de produção com baixa emissão de gases de efeito estufa;
• uma diretiva estabelecendo que todos os novos edifícios devem ter baixa pegada de carbono na licença de construção.
Ironicamente, Lorna Gold, a primeira manifestante pelo clima no parlamento irlandês, que inspirou muitos alunos, pais e professores que participaram dos protestos, não estará no país para a grande reunião do dia 15 de março. Ela fará um discurso em uma conferência de desinvestimento para atores religiosos, em Washington, D.C.
Na conferência, também haverá o lançamento da edição americana do seu livro, Climate Generation: Awakening to Our Children's Future, publicado recentemente pela New City Press. O livro será lançado oficialmente no dia 6 de junho, em Boston, pelo renomado ambientalista e ativista dos Estados Unidos Bill McKibben.
Lorna, que tem 46 anos e é mãe de dois meninos, disse que seu livro foi escrito com pais que estão preocupados e se importam com o futuro de seus filhos e com tornar o mundo um lugar seguro para eles.
"A questão mudança climática está diante de nós e, como pais, temos uma responsabilidade real de pelo menos entender o que a questão significa para o futuro dos nossos filhos", disse. "Depois, precisamos identificar as medidas que podemos tomar para tentar atenuar ou suavizar o que vai acontecer se não mudarmos nossa forma de viver.”
"Não o vejo como um livro sobre mudanças climáticas, [mas sim como] um livro sobre como proteger o mundo para os nossos filhos. A mudança climática deixou de ser um grande problema distante e passou a ser algo muito pessoal para mim. Afeta a mim, minha família, meus filhos; afeta todas as pessoas que eu conheço pelo meu trabalho na Trócaire, que são diretamente afetadas, nos países em desenvolvimento."
Mary Robinson, ex-presidente da Irlanda, reconhece essa necessidade de associar a questão do clima com interesses pessoais. Ela é a fundadora da organização sem fins lucrativos voltada ao tema Mary Robinson Foundation — Climate Justice.
"Precisamos de mais narrativas sobre mudanças climáticas, para incentivar as pessoas a considerarem essa questão algo pessoal em suas vidas", disse Mary Robinson a respeito do livro. "Essa tocante história pessoal de uma mãe e ativista estabelece essa conexão emocional muito bem. Ela desperta para o perigo que correm seus filhos e reflete sobre como proteger o futuro deles."
Lorna reconhece que muitos se sentem impotentes diante de um desafio tão grande.
"Há um sentimento de impotência - é algo tão grande que envolve todos mudarem tudo ao mesmo tempo. Pode ser muito desesperador e desalentador ficar nesse lugar de impotência e pensar: 'não posso fazer nada, estou muito ocupado'”, observa.
"Mas o que eu descobri é que se as pessoas saem desse lugar de impotência e começam a tomar uma atitude, a esperança começa a aumentar logo no primeiro passo.”
Essa foi a mensagem de Greta Thunberg às Nações Unidas, segundo Lorna Gold.
"A ação real de se pronunciar junto com outras pessoas permite fazer conexões e então se começa a perceber que não estamos sozinhos, não somos os únicos que querem que as coisas mudem, que muitas outras pessoas querem o mesmo”, acrescentou.
Combater as mudanças climáticas e a destruição ecológica é, para ela, "a parte mais natural da minha fé católica".
"Trata-se da luta pela vida", disse. "Às vezes, no catolicismo, vemos as questões da vida como apenas questões da vida humana e depois vem o resto da vida no planeta. Mas, para mim, não se pode separar, pois é o mesmo problema. Todos nós precisamos lutar pela vida neste planeta.”
"A vida humana, claro, tem um lugar especial na Terra por ser a imagem de Deus, mas a imagem de Deus se reflete em toda a criação, toda a Terra - esta bela casa em que vivemos. E os seres humanos não terão casa se destruirmos a criação. É bem o que o Papa Francisco chama de ecologia integral."
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Importante mensagem sobre o clima por trás de grandes manifestações estudantis na Irlanda - Instituto Humanitas Unisinos - IHU